São Paulo, quinta-feira, 03 de novembro de 2005

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ELETRÔNICA

DJ americano toca em SP em noite que mostra a estréia do Turbo Trio

Diplo traz fascínio pelo funk carioca

ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Foi preciso que um artista norte-americano escolhesse um personagem brasileiro para encontrar um gênero musical novo -pelo menos aos seus ouvidos- e levá-lo para o resto do mundo. E, por trás daquele ritmo irresistível de sensualidade latente, cantado num idioma ainda incompreensível ao ouvido global, havia uma cidade mágica, quente e perigosa: o Rio de Janeiro.
O parágrafo acima pode se referir tanto ao DJ Diplo, como a Walt Disney e Stan Getz. O Brasil lhe apresentou um gênero musical tão novo quanto o samba para Disney e a bossa nova para Getz -o funk carioca-, que o trouxe ao lado da namorada, a cingalesa M.I.A., para o país, no Tim Festival no Rio, mês passado.
"Resolvi passar o verão no Brasil, mas ela acabou de sair em turnê pelos EUA com a Gwen Stephani", explica o produtor, que se apresenta hoje no Sesc Pompéia. "Eu tô fora. Ela vai estar em Winnipeg, e eu prefiro o Rio." O gosto vai além do mero desfrute: "Estou tentando fazer um documentário sobre funk". Diplo, cujo álbum, "Florida", saiu aqui pela Slag, fala sobre a cena musical que encontrou no Rio: "Ela está começando a se mobilizar. Ainda não há indústria para este tipo de música, e comprar um CD está fora do orçamento do "funkeiro" médio".
"Ainda há as políticas do "Proibidão" [funks que exaltam o crime organizado], mas estou vendo moleques levando sua arte a sério e vejo uma estética real nesta música e cultura. Como alguém de fora, descobri a música por meio do som, e não das notícias no jornal. Entendo por que ele dá medo ao brasileiro médio."
"Vejo tantos níveis nesse tipo de música, é tão primal por conta da natureza da favela, que tem alguma coisa de "Colheita Maldita" [filme de 84 em que crianças e adolescentes de uma cidade matam todos os adultos e tomam o poder, sacrificando todos os que têm mais de 19 anos], que faz tudo mudar muito rapidamente. A história do funk é uma história oral."
Ele comenta sua apresentação no Tim: "Foi um desafio. Não quero só fingir que estou tocando funk, porque a molecada aqui é intensa". E rasga elogios para Mr. Catra, com quem dividiu o palco: "Catra é impressionante, sou um grande fã e acho que ele tem uma influência muito importante. Se fizer as coisas que ele realmente se importa, se tornará um bem de valor inestimável para a cena. Não podemos fazer música descartável, essa é a natureza do hip hop".
O DJ não descarta a colaboração com Marlboro, o pai da batida do funk carioca. Vem aí o Getz/Gilberto do pancadão? "Como Getz, eu só quero levar os ritmos por aí", desconversa. "Mas, sim, se o Marlboro não fosse tão intenso, tenho certeza que conseguiria trabalhar com ele. Ou isso ia funcionar ou ia dar uma merda geral. Só quero que as pessoas dancem e deixem seus egos em casa."
A noite ainda tem o coletivo de DJs Chaka Hot Nightz, o grupo Mamelo Sound System e a estréia do Turbo Trio em terras brasileiras -tocaram no festival francês Eurockennes-, trio formado por BNegão, Tejo Damasceno (Instituto) e Alexandre Basa (Mamelo, Black Alien) que distorce o pancadão original em faixas como "Terremoto" e "Balança", levando um ragga carioca apocalíptico para a praia de eletroitentistas, como a


Soul Sonic Force e Mantronix. Diplo, Chaka Hot Nightz, Mamelo Sound System e Turbo Trio
Quando:
hoje, às 21h
Onde: choperia do Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: R$ 15



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