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ELETRÔNICA
DJ americano toca em SP em noite que mostra a estréia do Turbo Trio
Diplo traz fascínio pelo funk carioca
ALEXANDRE MATIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Foi preciso que um artista norte-americano escolhesse um personagem brasileiro para encontrar um gênero musical novo
-pelo menos aos seus ouvidos-
e levá-lo para o resto do mundo.
E, por trás daquele ritmo irresistível de sensualidade latente, cantado num idioma ainda incompreensível ao ouvido global, havia
uma cidade mágica, quente e perigosa: o Rio de Janeiro.
O parágrafo acima pode se referir tanto ao DJ Diplo, como a Walt
Disney e Stan Getz. O Brasil lhe
apresentou um gênero musical
tão novo quanto o samba para
Disney e a bossa nova para Getz
-o funk carioca-, que o trouxe
ao lado da namorada, a cingalesa
M.I.A., para o país, no Tim Festival no Rio, mês passado.
"Resolvi passar o verão no Brasil, mas ela acabou de sair em turnê pelos EUA com a Gwen Stephani", explica o produtor, que se
apresenta hoje no Sesc Pompéia.
"Eu tô fora. Ela vai estar em Winnipeg, e eu prefiro o Rio." O gosto
vai além do mero desfrute: "Estou
tentando fazer um documentário
sobre funk". Diplo, cujo álbum,
"Florida", saiu aqui pela Slag, fala
sobre a cena musical que encontrou no Rio: "Ela está começando
a se mobilizar. Ainda não há indústria para este tipo de música, e
comprar um CD está fora do orçamento do "funkeiro" médio".
"Ainda há as políticas do "Proibidão" [funks que exaltam o crime
organizado], mas estou vendo
moleques levando sua arte a sério
e vejo uma estética real nesta música e cultura. Como alguém de
fora, descobri a música por meio
do som, e não das notícias no jornal. Entendo por que ele dá medo
ao brasileiro médio."
"Vejo tantos níveis nesse tipo de
música, é tão primal por conta da
natureza da favela, que tem alguma coisa de "Colheita Maldita" [filme de 84 em que crianças e adolescentes de uma cidade matam
todos os adultos e tomam o poder, sacrificando todos os que têm
mais de 19 anos], que faz tudo
mudar muito rapidamente. A história do funk é uma história oral."
Ele comenta sua apresentação
no Tim: "Foi um desafio. Não
quero só fingir que estou tocando
funk, porque a molecada aqui é
intensa". E rasga elogios para Mr.
Catra, com quem dividiu o palco:
"Catra é impressionante, sou um
grande fã e acho que ele tem uma
influência muito importante. Se
fizer as coisas que ele realmente se
importa, se tornará um bem de
valor inestimável para a cena. Não
podemos fazer música descartável, essa é a natureza do hip hop".
O DJ não descarta a colaboração
com Marlboro, o pai da batida do
funk carioca. Vem aí o Getz/Gilberto do pancadão? "Como Getz,
eu só quero levar os ritmos por
aí", desconversa. "Mas, sim, se o
Marlboro não fosse tão intenso,
tenho certeza que conseguiria trabalhar com ele. Ou isso ia funcionar ou ia dar uma merda geral. Só
quero que as pessoas dancem e
deixem seus egos em casa."
A noite ainda tem o coletivo de
DJs Chaka Hot Nightz, o grupo
Mamelo Sound System e a estréia
do Turbo Trio em terras brasileiras -tocaram no festival francês
Eurockennes-, trio formado por
BNegão, Tejo Damasceno (Instituto) e Alexandre Basa (Mamelo,
Black Alien) que distorce o pancadão original em faixas como "Terremoto" e "Balança", levando um
ragga carioca apocalíptico para a
praia de eletroitentistas, como a
Soul Sonic Force e Mantronix.
Diplo, Chaka Hot Nightz,
Mamelo Sound System e Turbo
Trio
Quando: hoje, às 21h
Onde: choperia do Sesc Pompéia (r.
Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: R$ 15
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