São Paulo, quinta-feira, 03 de novembro de 2005

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ARTES PLÁSTICAS

Carioca pinta e atribui personalidade a ambientes "virtuais"

Varejão dá à luz espaços imaginários

GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Os novos trabalhos de Adriana Varejão têm personalidade. "O Convidado", "O Chinês", "O Místico", "O Tímido", "O Predileto" e "O Mentiroso" são telas da artista que a partir de hoje ocupam a galeria Fortes Vilaça, em Pinheiros.
Não são retratos e nem mesmo figurativos estes novos "personagens". Geometricamente trabalhados, os quadros estampam ambientes fechados em perspectiva; espaços imaginários completamente revestidos de azulejos, sem portas ou janelas -atmosferas de mistério e, em última instância, claustrofóbicas.
Em meio aos azulejos, alguns trabalhos apresentam elementos orgânicos: água concentrada, sangue esparramado. "São espaços híbridos, virtuais. Posso vê-los como sauna, como matadouro, como hospital", diz Varejão.
Com a presença de quinas, escadas e profundidade, o diálogo com a arquitetura é imediato. Para construir seus ambientes labirínticos, a artista trabalhou com o AutoCAD, software utilizado por engenheiros e arquitetos. Uma vez desenhados os espaços, Varejão definiu, ainda virtualmente, o melhor ângulo, a melhor luz para, só então, projetá-los sobre a tela.
O resultado é aquilo que define como "interioridade pura". Artificial, dramático e barroco, acompanhando a linha construída ao longo de sua trajetória.
"A escolha é por um caráter teatral mesmo. Gosto desse aspecto "falso". Minha idéia é entrar na representação, não fugir dela."
Ao ser questionada por que passou da exploração do barroco brasileiro para estes novos panoramas espaciais, ela evita uma resposta direta e comenta: "O trabalho vai te fazendo perguntas, mais do que você vai dando respostas... É preciso respeitar".

Amarrações
No segundo andar, a Varejão pintora dá lugar à Varejão curadora -ainda que ela titubeie em relação ao termo. Da extensa produção do fotógrafo japonês Nobuyoshi Araki, a artista agrupou cerca de 30 imagens que de algum modo dialogam entre si.
Ali também há um alto grau de artificialidade, mas esta aparece sobretudo associada ao corpo feminino: o erotismo está presente na forma de fios, de amarrações, de corpos tatuados.
"Há quem possa interpretar erroneamente o erotismo dos trabalhos, como a literatura libertina foi tantas vezes mal vista. O que vejo no trabalho de Araki é o uso do corpo como suporte de linguagem", explica a artista.
Em alguns momentos, a força do nu aparece contraposta a cenas singelas: um gato, alguns fios de árvore entrelaçados à fiação elétrica.
Se as fotos de Araki vieram ao Brasil (o fotógrafo raramente sai do Japão), as telas de Varejão em breve viajarão a Tóquio. A artista prepara uma exposição na cidade para janeiro de 2007. Antes disso, porém, tem que dar à luz novos trabalhos, e um filho que carrega na barriga de sete meses.


Adriana Varejão/ Nobuyoshi Araki
Quando:
abre hoje; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 3/12
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, SP, tel. 0/xx/11/3032-7066)
Quanto: entrada franca; o preço das fotos é de US$ 3.500 (R$ 7.880); telas a partir de US$ 13 mil (R$ 29.270)



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