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ARTES PLÁSTICAS
Carioca pinta e atribui personalidade a ambientes "virtuais"
Varejão dá à luz espaços imaginários
GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Os novos trabalhos de Adriana
Varejão têm personalidade. "O
Convidado", "O Chinês", "O Místico", "O Tímido", "O Predileto" e
"O Mentiroso" são telas da artista
que a partir de hoje ocupam a galeria Fortes Vilaça, em Pinheiros.
Não são retratos e nem mesmo
figurativos estes novos "personagens". Geometricamente trabalhados, os quadros estampam
ambientes fechados em perspectiva; espaços imaginários completamente revestidos de azulejos,
sem portas ou janelas -atmosferas de mistério e, em última instância, claustrofóbicas.
Em meio aos azulejos, alguns
trabalhos apresentam elementos
orgânicos: água concentrada,
sangue esparramado. "São espaços híbridos, virtuais. Posso vê-los como sauna, como matadouro, como hospital", diz Varejão.
Com a presença de quinas, escadas e profundidade, o diálogo
com a arquitetura é imediato. Para construir seus ambientes labirínticos, a artista trabalhou com o
AutoCAD, software utilizado por
engenheiros e arquitetos. Uma
vez desenhados os espaços, Varejão definiu, ainda virtualmente, o
melhor ângulo, a melhor luz para,
só então, projetá-los sobre a tela.
O resultado é aquilo que define
como "interioridade pura". Artificial, dramático e barroco, acompanhando a linha construída ao
longo de sua trajetória.
"A escolha é por um caráter teatral mesmo. Gosto desse aspecto
"falso". Minha idéia é entrar na representação, não fugir dela."
Ao ser questionada por que passou da exploração do barroco
brasileiro para estes novos panoramas espaciais, ela evita uma resposta direta e comenta: "O trabalho vai te fazendo perguntas, mais
do que você vai dando respostas...
É preciso respeitar".
Amarrações
No segundo andar, a Varejão
pintora dá lugar à Varejão curadora -ainda que ela titubeie em
relação ao termo. Da extensa produção do fotógrafo japonês Nobuyoshi Araki, a artista agrupou
cerca de 30 imagens que de algum
modo dialogam entre si.
Ali também há um alto grau de
artificialidade, mas esta aparece
sobretudo associada ao corpo feminino: o erotismo está presente
na forma de fios, de amarrações,
de corpos tatuados.
"Há quem possa interpretar erroneamente o erotismo dos trabalhos, como a literatura libertina
foi tantas vezes mal vista. O que
vejo no trabalho de Araki é o uso
do corpo como suporte de linguagem", explica a artista.
Em alguns momentos, a força
do nu aparece contraposta a cenas singelas: um gato, alguns fios
de árvore entrelaçados à fiação
elétrica.
Se as fotos de Araki vieram ao
Brasil (o fotógrafo raramente sai
do Japão), as telas de Varejão em
breve viajarão a Tóquio. A artista
prepara uma exposição na cidade
para janeiro de 2007. Antes disso,
porém, tem que dar à luz novos
trabalhos, e um filho que carrega
na barriga de sete meses.
Adriana Varejão/ Nobuyoshi
Araki
Quando: abre hoje; de ter. a sex., das
10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 3/12
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique
Coutinho, 1.500, SP, tel. 0/xx/11/3032-7066)
Quanto: entrada franca; o preço das
fotos é de US$ 3.500 (R$ 7.880); telas a
partir de US$ 13 mil (R$ 29.270)
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