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29ª MOSTRA DE CINEMA
Diretor irlandês faz segunda colaboração com o escritor Patrick McCabe e conta com atuação memorável de Cillian Murphy
Neil Jordan usa humor contra o cinismo
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na Londres da década de
1970, uma jovem elegantemente vestida passeia com um
carrinho de bebê e ouve gracejos
dos trabalhadores de uma construção, que logo se assustarão ao
perceber que a bela mulher é, na
verdade, um homem travestido.
Assim começa "Café da Manhã
em Plutão", novo filme de Neil
Jordan, que passa hoje na Mostra.
Os iniciados na obra do diretor
irlandês certamente vão se lembrar de "Traídos pelo Desejo"
(1992), mas a questão da sexualidade, apesar de estar presente em
todo o filme, não é motivo de suspense aqui: fica-se sabendo de saída que Patrick "Kitten" Braden
(magistralmente interpretado por
Cillian Murphy, o Espantalho de
"Batman Begins") é homem. Biologicamente, é claro.
Dentro da obra de Jordan, "Café
da Manhã em Plutão" está mais
próximo de "Nó na Garganta"
(1997). Os dois filmes são baseados em livros do escritor Patrick
McCabe e contam a história de
garotos irlandeses que, vindos de
famílias desajustadas, tornam-se
uma espécie de párias sociais.
Mas a história do jovem Patrick,
apesar de seus vários percalços, é
muito menos sinistra do que a do
garoto-açougueiro Francie, de
"Nó na Garganta". Aqui, o tom é o
de uma fábula encantadora, uma
bela história sobre as virtudes da
perseverança e do bom caráter
-acompanhada, como não seria
diferente em um filme de Jordan,
de um pano de fundo que retrata
a efervescência política e social da
Irlanda e da Inglaterra nas décadas de 1960 e 1970.
Filho bastardo do padre Bernard (Liam Neeson), Patrick Braden é criado por uma família adotiva na pequena (e fictícia) cidade
irlandesa de Tyreelin. O garoto
percebe desde cedo que é diferente dos demais e que isso irá lhe sujeitar à rejeição e à crueldade que
a sociedade tradicionalmente dispensa àqueles que, de alguma forma, não se enquadram. A tudo e a
todos, Patrick reagirá com doçura, simpatia e humor inabaláveis.
Quando descobre que foi criado
por uma família adotiva, o garoto
decide ir para Londres atrás de
sua mãe verdadeira. Na capital inglesa, viverá situações bizarras,
descobrirá o amor e o abandono,
será enganado por uma série de
aproveitadores e fará alguns amigos, até atingir seu objetivo.
Embalando a saga de Patrick está uma trilha sonora que acompanha a evolução temporal do filme
com músicas da época. O próprio
título original ("Breakfast on Pluto") é emprestado de uma canção
dos anos 1970, interpretada pelo
cantor folk Don Partridge. A lista
de clássicos vai do folk ao punk,
passando pelo soul, e inclui "Feelings" (Morris Albert), "Children
of the Revolution" (T-Rex) e "Sugar Baby Love" (The Rubettes).
"Café da Manhã em Plutão" tem
muito de vários outros filmes de
Neil Jordan (incluindo atores como Stephen Rea), mas raras vezes
o diretor foi tão feliz ao misturar
humor e drama, absurdo e realidade histórica. Sua mensagem é
impactante: seu personagem é
um "desajustado" não por sua
opção sexual, mas por se manter
íntegro em um mundo cínico.
Café da Manhã em Plutão
Direção: Neil Jordan
Quando: hoje, às 22h, no Espaço
Unibanco
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