|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Obra abarca 50 anos do pensamento de Heliodora
Coletânea reúne textos publicados em jornais cariocas entre 1944 e 1994, com destaque para ensaios teóricos da crítica de teatro
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Noite dessas, Barbara Heliodora reuniu-se no Rio com artistas como Fernanda Montenegro, Tonia Carrero, Ítalo
Rossi e Sérgio Britto. A conversa girou em torno do lançamento da coletânea de textos da crítica de teatro, um painel da segunda metade do século 20.
"O livro cobre a época em que
esses monstros sagrados de hoje estavam começando a carreira", diz a carioca Heliodora, 84.
Um dos destaques de "Barbara Heliodora - Escritos de Teatro", que sai pela editora Perspectiva, é agrupar em sua primeira parte ensaios teóricos da
autora, entre 1944-1971, face
menos conhecida pelas novas
gerações. Organizadora do volume, a pesquisadora Claudia
Braga estabelece como ponto
de partida o primeiro artigo
que Heliodora publica na imprensa, um estudo sobre o escritor inglês Geoffrey Chaucer
em "O Jornal", 23/4/ 1944.
Seguem-se como que os anos
de formação da crítica, que na
análise de autores fundamentais, como na triangulação Sófocles-Eurípides-Eugene
O'Neill, para falar da evolução
da tragédia, quer na percepção
de que o então incipiente moderno teatro brasileiro só alçaria vôos se atores e autores assumissem o lugar de onde falam, ou seja, o Brasil.
"A maneira brasileira de interpretar ainda não foi encontrada, mas só será encontrada
quando houver meios de treinar atores, e, sem dúvida, será
com o trabalho com textos nacionais, em que são retratados
brasileiros de todos os tipos,
que eventualmente os atores
poderão encontrar a melhor
maneira de vivê-los", escreve
em 1959, entusiasmada na recepção de textos de Ariano
Suassuna e Gianfrancesco
Guarnieri. Em 2007, o panorama é outro. "Uma das mudanças mais importantes é que hoje, a grande maioria dos espetáculos é de autor brasileiro. Antigamente, a maioria era importada", diz à Folha.
A "pancada da ditadura", diz,
teria diluído uma produção ativa. "Prejudicou por dois lados:
quem já estava escrevendo e tinha um certo corpo de obra,
abandonou o teatro, porque viram que não podiam fazer nada; e impediu que novos vivessem de palco para dizer coisas
mais significativas."
Após a abertura política, Heliodora tomou gosto pelo besteirol e muita gente não entendeu o motivo. "Foi uma maneira muito fácil e acessível de
chamar o público de volta para
o teatro. O besteirol vem de
uma grande tradição no teatro
brasileiro que é a da comédia
de costumes, um esteio um
pouco mais caricato."
Como não poderia deixar de
ser, as críticas representam o
maior filão na coletânea, que
avança até 1994. Ao atrair desafetos pelo estilo incisivo, Heliodora diz que prefere não entrar
em bate-boca. "Se alguém fica
furioso, é melhor deixar se
acalmar. Enfrento o trabalho
com toda a equanimidade."
O diretor Enrique Diaz, da
carioca Cia. dos Atores, discorda. Identifica na crítica de "O
Globo" (desde 1990) "desrespeito, estreiteza de pensamento e leviandade", como declarou em julho a "O Estado de S. Paulo". "É problema dele, minha carreira não ilustra essa leviandade. Ele tem liberdade
para achar isso, mas a ofensa
não leva a nada", diz Heliodora.
BARBARA HELIODORA -
ESCRITOS SOBRE TEATRO
Organizadora: Claudia Braga
Editora: Perspectiva (952 págs.)
Quanto: R$ 90
Texto Anterior: Crítica/"Oswald de Andrade - Biografia": Obra revela "vira-lata do modernismo" Próximo Texto: Trecho Índice
|