São Paulo, sábado, 03 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice TRECHO - A minha entrevista, rapazes. É agora! Deixamos as bebidas e cartelas rabiscadas na mesa e saímos correndo pelo castelo de mármore, eu e Verônica puxando Tomás pelo braço, a quem os excessos da tarde estúpida já cobram a conta: - Dom Pedro, eu preciso te contar uma coisa -diz, e desaba para os lados, prestes a chorar ou vomitar. - Guarde para si, meu querido! No táxi guiado por um coreano melômano que ouve a trilha de Ascenseur por l'echafaud do Miles Davis no volume máximo, Tomás Anselmo finalmente chora no meu ombro. Dou cafuné no amigo. Verônica, com a mão apoiada na minha coxa, me provoca uma semiereção. Os trinados em preto-e-branco do trompete ninam nossos sentidos. Pelas janelas, a cidade é uma série de riscos coloridos: o pôr-do-sol avermelhado tem um ar auspicioso, com cheiro de avenidas abertas e moças sentadas nos cafés lendo romances e bebendo vermute. Passamos pelas colinas da cidade alta, cujas luzes começam a se acender, e atravessamos uma das sete portas, onde atropelamos (sem gravidade) uma família de pedintes. Chegamos à praia do Lidô [...]. O teste de Verônica é aqui. - Não é teste, seu bêbado. É uma entrevista com uma atriz. Estou escrevendo um livro sobre atrizes. E ela é a... - Não sei se é recomendável você chegar lá comigo e com Tomás. E nesse estado. - Vocês são dois vagabundos, mas estão bem-vestidos. E a velha é do tipo excêntrico, vai gostar. - Você só pode estar louca. Está. Na portaria do edifício, um belo exemplar de "predinho art-noveau", segundo os balbucios de Verônica, nos identificamos ao vigia, registramos nossas digitais e recebemos autorização e crachás para subir. Extraído de "O Dia Mastroianni", de João Paulo Cuenca Texto Anterior: Crítica/"O Dia Mastroianni": Em obra promissora, Cuenca leva os clichês à saturação Próximo Texto: 31ª Mostra de SP: Festival dá prêmios e recados Índice

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