São Paulo, sábado, 03 de novembro de 2007

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"En la Ciudad de Sylvia" é poema contido e silencioso de espanhol

Diretor vê filme, que tem exibição amanhã no Cinesesc, como conto mítico

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

A presença de "En la Ciudad de Sylvia" na competição do Festival de Veneza deste ano foi uma bela surpresa: enfim, um diretor espanhol que não Pedro Almodóvar conquistava visibilidade em um grande festival de cinema.
Em exibição amanhã, às 19h, no Cinesesc (r. Augusta, 2075, tel. 0/xx/11/3064-1668), na repescagem da Mostra de São Paulo, o filme do catalão José Luis Guerín é um poema contido e silencioso (nada almodovariano, portanto). A câmera segue um jovem espanhol enquanto ele perambula por uma cidade estrangeira. Sabemos apenas que está à procura uma garota chamada Sylvia, por quem se encantou há quatro anos, quando esteve na cidade.
Por que esse jovem circula pela discreta cidade francesa de Estrasburgo? "Precisava de uma cidade estrangeira. Estrasburgo é fronteiriça -nem francesa para os franceses nem alemã para os alemães. Por ser sede da União Européia, lá se falam muitas línguas. Era fundamental que houvesse essa defasagem entre o personagem e seu em torno. Queria borrar todas as bordas", diz Guerín, em entrevista à Folha.
"En la Ciudad de Sylvia", explica Guerín, é a antítese de "En Construcción", seu filme anterior. "O segundo é a metáfora de uma transformação social. Observei a demolição de um velho bairro pobre onde foi construído um condomínio para a nova burguesia. Já o primeiro é um conto mítico, sobre um cavaleiro medieval em busca de uma dama luminosa."
Assumidamente romântico, o filme aborda uma história de amor em seus primeiros momentos: a troca de olhares. "O olhar é a primeira forma de conhecimento que temos. Quis falar disso, de quando fabulamos a partir da observação dos outros, antes da palavra."
De certa forma, "En la Ciudad de Sylvia" pode ser descrito como um filme de olhares e de sons. "Gosto de trabalhar o som que opera transformações na imagem. A cidade é mais descrita pelo som que pela imagem. O som é o contraponto documental para a percepção sonhadora do protagonista."
Mesmo sonhador, portanto, Guerín não abandona uma dimensão realista. A cidade irrompe nas divagações do jovem quando um mendigo lhe pede dinheiro ou um africano vende mercadorias. "Minha visão do mundo não se cola totalmente à visão desse sonhador. Às vezes participo e olho com ele; outras, o observo", diz.
O diretor trouxe essa curiosidade a São Paulo. Ele visitou um grande edifício ocupado pelo movimento dos sem-teto. "Em Barcelona há um movimento parecido, liderado por gente jovem e politizada. Aqui me pareceu fruto de uma necessidade mais profunda, uma vida comunitária organizada." Guerín aproveitou sua passagem pela cidade para captar imagens. "São Paulo é a desmesura, um excesso cheio de estímulos. Estou tomando muitas notas com minha pequena câmera. Me gusta muchíssimo..."


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