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"En la Ciudad de Sylvia" é poema contido e silencioso de espanhol
Diretor vê filme, que tem exibição amanhã no Cinesesc, como conto mítico
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
A presença de "En la Ciudad
de Sylvia" na competição do
Festival de Veneza deste ano
foi uma bela surpresa: enfim,
um diretor espanhol que não
Pedro Almodóvar conquistava
visibilidade em um grande festival de cinema.
Em exibição amanhã, às 19h,
no Cinesesc (r. Augusta, 2075,
tel. 0/xx/11/3064-1668), na repescagem da Mostra de São
Paulo, o filme do catalão José
Luis Guerín é um poema contido e silencioso (nada almodovariano, portanto). A câmera
segue um jovem espanhol enquanto ele perambula por uma
cidade estrangeira. Sabemos
apenas que está à procura uma
garota chamada Sylvia, por
quem se encantou há quatro
anos, quando esteve na cidade.
Por que esse jovem circula
pela discreta cidade francesa de
Estrasburgo? "Precisava de
uma cidade estrangeira. Estrasburgo é fronteiriça -nem
francesa para os franceses nem
alemã para os alemães. Por ser
sede da União Européia, lá se
falam muitas línguas. Era fundamental que houvesse essa
defasagem entre o personagem
e seu em torno. Queria borrar
todas as bordas", diz Guerín,
em entrevista à Folha.
"En la Ciudad de Sylvia", explica Guerín, é a antítese de
"En Construcción", seu filme
anterior. "O segundo é a metáfora de uma transformação social. Observei a demolição de
um velho bairro pobre onde foi
construído um condomínio para a nova burguesia. Já o primeiro é um conto mítico, sobre
um cavaleiro medieval em busca de uma dama luminosa."
Assumidamente romântico,
o filme aborda uma história de
amor em seus primeiros momentos: a troca de olhares. "O
olhar é a primeira forma de conhecimento que temos. Quis
falar disso, de quando fabulamos a partir da observação dos
outros, antes da palavra."
De certa forma, "En la Ciudad de Sylvia" pode ser descrito como um filme de olhares e
de sons. "Gosto de trabalhar o
som que opera transformações
na imagem. A cidade é mais
descrita pelo som que pela imagem. O som é o contraponto
documental para a percepção
sonhadora do protagonista."
Mesmo sonhador, portanto,
Guerín não abandona uma dimensão realista. A cidade irrompe nas divagações do jovem quando um mendigo lhe pede dinheiro ou um africano
vende mercadorias. "Minha visão do mundo não se cola totalmente à visão desse sonhador.
Às vezes participo e olho com
ele; outras, o observo", diz.
O diretor trouxe essa curiosidade a São Paulo. Ele visitou
um grande edifício ocupado
pelo movimento dos sem-teto.
"Em Barcelona há um movimento parecido, liderado por
gente jovem e politizada. Aqui
me pareceu fruto de uma necessidade mais profunda, uma
vida comunitária organizada."
Guerín aproveitou sua passagem pela cidade para captar
imagens. "São Paulo é a desmesura, um excesso cheio de estímulos. Estou tomando muitas
notas com minha pequena câmera. Me gusta muchíssimo..."
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