São Paulo, terça-feira, 03 de novembro de 2009

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33ª MOSTRA DE SP

"Ander" é versão basca de "Brokeback"

Filme sobre romance entre dois homens do campo no País Basco é comparado aos cowboys de Ang Lee

DA REPORTAGEM LOCAL

No mesmo dia em que deu esta entrevista, o cineasta espanhol Roberto Castón esbarrou no colega chinês Ang Lee num tapete vermelho em Londres.
Foi também o mesmo dia em que a "Time Out" publicou uma crítica do filme "Ander", que apelidou de "Brokebasque Mountain", trocadilho enfiando o País Basco no meio do romance entre cowboys que deu, há três anos, o Oscar a Lee.
Em longa de estreia, Castón, de fato, mostra um romance entre dois homens no campo, mas descarta as tintas western e estética hollywoodiana.
"Ander" é uma obra opaca, cheia de silêncios e tons terrosos. Pende mais para o chão do que para o céu, ou seja, resulta num retrato desglamourizado e antiestetizante da vida gay.
"Gays não são bonitos nem feios, magros ou gordos", diz Castón à Folha. "Queria um filme sobre pessoas, realista."
E conseguiu, pelo menos no que tange à beleza, ou à falta dela, em seus protagonistas.
Ander, vivido pelo ator Joxean Bengoetxea, aparece em sua nudez desagradável. Incomoda a carne flácida, a pele sem cor.
Reflete o mesmo aspecto sem graça do céu nublado e da paisagem agreste do País Basco.
Aos 45, é um fazendeiro pacato e reprimido pela mãe num povoado minúsculo, que descobre aos poucos sua condição sexual. Quando quebra a perna e precisa de um ajudante, o imigrante ilegal José, interpretado por Christian Esquivel, transforma sua dependência num amor conturbado.
E calado. Castón elege o silêncio como ferramenta narrativa, faz o tempo se arrastar em torno dos personagens. "Deixei sempre um espaço muito grande entre uma fala e outra", afirma. "No campo, as pessoas falam assim, sobretudo quando expressam seus sentimentos."
Quando junta a prostituta Reme à história de Ander e José, Castón traça um paralelo entre gay, excluída e imigrante, postos como "outsiders" numa sociedade fechada. Escrever um final feliz é que parece destoar do suposto realismo.
"Me interessava um final feliz para dar certa esperança", conta. "Quis mostrar que é possível algo como a felicidade, mesmo que não a felicidade." (SILAS MARTÍ)


ANDER
Quando:
hoje, às 17h50, na Reserva Cultural, e quinta, às 19h40, na Matilha Cultural
Classificação: 16 anos



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