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33ª MOSTRA DE SP
"Ander" é versão basca de "Brokeback"
Filme sobre romance entre dois homens do campo no País Basco é comparado aos cowboys de Ang Lee
DA REPORTAGEM LOCAL
No mesmo dia em que deu
esta entrevista, o cineasta espanhol Roberto Castón esbarrou
no colega chinês Ang Lee num
tapete vermelho em Londres.
Foi também o mesmo dia em
que a "Time Out" publicou uma
crítica do filme "Ander", que
apelidou de "Brokebasque
Mountain", trocadilho enfiando o País Basco no meio do romance entre cowboys que deu,
há três anos, o Oscar a Lee.
Em longa de estreia, Castón,
de fato, mostra um romance
entre dois homens no campo,
mas descarta as tintas western
e estética hollywoodiana.
"Ander" é uma obra opaca,
cheia de silêncios e tons terrosos. Pende mais para o chão do
que para o céu, ou seja, resulta
num retrato desglamourizado
e antiestetizante da vida gay.
"Gays não são bonitos nem
feios, magros ou gordos", diz
Castón à Folha. "Queria um filme sobre pessoas, realista."
E conseguiu, pelo menos no
que tange à beleza, ou à falta
dela, em seus protagonistas.
Ander, vivido pelo ator Joxean
Bengoetxea, aparece em sua
nudez desagradável. Incomoda
a carne flácida, a pele sem cor.
Reflete o mesmo aspecto sem
graça do céu nublado e da paisagem agreste do País Basco.
Aos 45, é um fazendeiro pacato e reprimido pela mãe num
povoado minúsculo, que descobre aos poucos sua condição
sexual. Quando quebra a perna
e precisa de um ajudante, o
imigrante ilegal José, interpretado por Christian Esquivel,
transforma sua dependência
num amor conturbado.
E calado. Castón elege o silêncio como ferramenta narrativa, faz o tempo se arrastar em
torno dos personagens. "Deixei
sempre um espaço muito grande entre uma fala e outra", afirma. "No campo, as pessoas falam assim, sobretudo quando
expressam seus sentimentos."
Quando junta a prostituta
Reme à história de Ander e José, Castón traça um paralelo
entre gay, excluída e imigrante,
postos como "outsiders" numa
sociedade fechada. Escrever
um final feliz é que parece destoar do suposto realismo.
"Me interessava um final feliz para dar certa esperança",
conta. "Quis mostrar que é possível algo como a felicidade,
mesmo que não a felicidade."
(SILAS MARTÍ)
ANDER
Quando: hoje, às 17h50,
na Reserva Cultural, e quinta,
às 19h40, na Matilha Cultural
Classificação: 16 anos
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