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33ª MOSTRA DE SP
Crítica/"Seguindo em Frente"
Sem pieguice, drama japonês acompanha ciclos da vida
Diretor Hirozaku Kore-eda mostra família que se reúne para lembrar o filho morto
BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Os personagens de "Seguindo em Frente" parecem ter memória
curta. Há sempre alguma coisa
da qual eles não se lembram.
Quem ensinou aquela receita
estranha com milho? Quem explicou a origem das borboletas
amarelas? Como é mesmo o
nome daquele lutador de sumô? Não importa. Eles vão seguindo a tradição, mesmo que
nem se lembrem mais dos motivos. Quando o assunto são essas pequenas coisas do dia a dia,
eles vão tocando suas vidas.
A memória da família deste
drama do japonês Hirozaku
Kore-eda, no entanto, não falha
quando se trata do primogênito
Junpei. Há 15 anos ele morreu
afogado quando salvou um garoto no mar. Todos os anos eles
se reúnem para rezar e prestar
tributo ao filho mais querido. É
a única ocasião, além do Ano
Novo, em que se reúnem na casa dos pais idosos.
É o momento mais temido
por Ryota (Hiroshi Abe), o outro filho homem. Ele parece
carregar o peso do mundo nas
costas e é quase um pária para o
rigoroso pai, o médico aposentado Kyohei (Yoshio Harada).
Ryota vive na sombra do irmão. Sua vida parece ser um
eterno pedido de desculpas por
não ter sido ele o filho morto.
Ele não tem emprego estável
-pecado mortal no Japão representado pelos pais. E ele é
casado com mãe viúva -
"quando você vai ter um filho
de verdade?", ouve da família.
Basta esta breve descrição da
trama para perceber que "Seguindo em Frente" tem fortes
ligações com o cinema de Yasujiro Ozu (1903-1963), também
referência para outra atração
da mostra, o francês "35 Doses
de Rum", de Claire Denis.
Aos elementos típicos de Ozu
(dramas familiares, a tradição
em choque com a modernidade, interiores de casas, trens
etc.), Kore-eda impõe sua temática autoral.
Fluxo
Como é a vida depois de uma
grande perda? É a pergunta que
Kore-eda tem levantado desde
"Maborosi" (1995), filme que o
revelou para as plateias ocidentais. Junpei, o filho morto, não
aparece em "flashback", mas
ele está em cada cena, é ele
quem rege os personagens.
Com "Seguindo em Frente",
Kore-eda chega a um tal nível
de depuração na construção de
personagens e do roteiro que
parece que estamos assistindo
à própria vida em fluxo, e não a
um filme projetado na tela.
A mãe, Toshiko (Kirin Kiki),
é a personagem mais assustadora do filme, apenas pelo fato
de ser surpreendentemente
humana, como fica claro no desenrolar da cena chave, quando
a família recebe o hoje jovem
que foi salvo do afogamento
por Junpei.
Pois não há uma "grande"
história sendo contada aqui.
Este é o mesmo território das
reuniões familiares que participamos desde criança, inicialmente como netos, e depois como pais. Entre risos, afetos e
muita comida, todos falam sobre pequenas coisas, reparam o
quanto aquela sobrinha cresceu. Mas, após uma palavra errada dita, aqui e ali ressentimentos ressurgem lá das entranhas. Dá um nó na garganta.
SEGUINDO EM FRENTE
Quando: hoje, às 14h, no Multiplex
Marabá 2 (classificação: livre)
Avaliação: ótimo
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