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O piano em três aulas de Oscar Peterson
Reprodução
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O pianista Oscar Peterson, que se apresenta quinta, dia 5, e segunda, dia 9, no teatro Municipal de São Paulo
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O pianista mais técnico do jazz fala à Folha sobre as três apresentações que fará em SP quinta e segunda (Municipal) e domingo (Ibirapuera)
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CARLOS CALADO
especial para a Folha
O público de São Paulo terá três
raras chances de conferir ao vivo o
talento e o estilo polêmico de Oscar Peterson -um dos pianistas
de jazz mais gravados em toda a
história do gênero.
O canadense fará dois concertos
no Teatro Municipal (quinta, dia 5,
e segunda, dia 9), além de se apresentar na praça da Paz, no parque
do Ibirapuera, no próximo domingo, com entrada franca. Já amanhã, entre 19h e 20h, ele autografa
seus discos, na Saraiva Music Hall
do Shopping Eldorado.
A elegância musical e o apego à
tradição de Peterson, 73, não o livraram de enfrentar críticas, ao
longo de sua carreira, iniciada nos
anos 40. Desde então, tocou com
vários grandes músicos do gênero,
de Count Basie a Charlie Parker.
Há quem veja uma certa falta de
sentimento em suas frases velozes
e prolixas, geralmente carregadas
de notas, embora embasadas em
uma técnica prodigiosa.
Um ataque cardíaco quase o
afastou de vez dos palcos em 93,
mas sua perseverança o manteve
compondo e tocando. Nos três
shows, Peterson estará acompanhado por Niels-Henning Pedersen (contrabaixo), Ulf Wakenius
(guitarra) e Martin Drew (bateria).
Em entrevista à Folha por telefone, Peterson respondeu a seus críticos, elogiou os jazzistas mais jovens e antecipou alguns números
de seu repertório.
Folha - Em 1954, o sr. declarou à
revista "Down Beat" que não faria
parte da cena do do jazz por muito
tempo. O que o fez mudar de
idéia?
Oscar Peterson - O que me mantém tocando piano até hoje é a
crença que eu tenho na música de
Duke Ellington, Dizzy Gillespie,
Count Basie, Ella Fitzgerald e alguns outros músicos especiais como esses. Na época em que fiz
aquela afirmação, havia muita
gente fazendo experimentações
que alguns teimavam chamar de
jazz. Na minha opinião, aqueles
sujeitos estavam matando o verdadeiro movimento do jazz.
Folha - Como foi passar um tempo sem poder tocar?
Peterson - Foi muito difícil, porém aquele período permitiu que
eu me dedicasse mais a compor.
Durante esse tempo escrevi várias
músicas que vou tocar em São Paulo, como "When Summer Comes"
e "Backyard Blues". Também vou
tocar "Brazilian Nights", inspirada
na minha última visita ao Brasil.
Folha - O programa inclui algum
tributo a George Gershwin?
Peterson - Sim. Nós já nos acostumamos a tocar uma ou duas
composições de Gershwin nos
concertos. Desta vez vamos fazer o
mesmo com Duke Ellington.
Folha - O sr. ainda é pessimista
em relação à cena do jazz?
Peterson - Não tanto quanto eu
era 40 anos atrás. Hoje temos músicos jovens que conhecem a música que existiu antes deles e utilizam
essa bagagem, o que eu acho muito
saudável. Falo de músicos talentosos, como Benny Green e Mike LeDonne.
Folha - Conhece Cyrus Chestnut?
Peterson - Ainda não.
Folha - Esses jovens podem garantir o futuro do jazz?
Peterson - Não sei, mas eles são
grandes músicos e estão tentando
prolongar a vida do jazz.
Folha - Em uma entrevista recente, o sr. disse que hoje os músicos
estão mais interessados no dinheiro do que na arte...
Peterson - Eu disse isso porque as
gravadoras estão mais interessadas em quantos discos você pode
vender e não em quão bem você
pode tocar. Acho que isso incomoda bastante os músicos jovens.
Folha - Qual é sua resposta aos
críticos que o acusam de usar mais
a técnica do que o sentimento?
Peterson - Eles são completamente surdos. Disseram a mesma
coisa sobre Art Tatum, e isso faz
com que eu me sinta honrado.
Folha - Como se combina técnica
e sentimento na música?
Peterson - O mais importante é a
emoção. Depois vem a execução.
Essa é a razão pela qual eu costumo
dizer a meus alunos que, se você
tem algo importante a dizer, precisa dominar o vocabulário.
Folha - Também já o acusaram
de não ter coragem para assumir
certos riscos na música, de se preocupar somente com a forma...
Peterson - Na verdade, eu não
costumo ouvir os críticos. A maioria deles não sabe do que está falando por uma simples razão: eles
não são músicos. É o mesmo que
alguém criticar um zagueiro de futebol sem saber jogar.
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