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Seu sobrenome é técnica
CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local
Em todo o universo, poucos conhecem os brancos e pretos do piano tão bem quanto o canadense
Oscar Peterson. A riqueza de possibilidades que o músico demonstrou ter encontrado no instrumento, ao longo de mais de 50 anos de
carreira, fez com que a expressão
"técnica avassaladora" andasse
sempre rente ao seu nome.
Onde quer que se escreva algum
comentário sobre Peterson sempre haverá, entre elogios e críticas,
um registro do espanto que é o conhecimento que ele tem das teclas.
E é justamente seu virtuosismo
que acabou lhe cercando de críticas (ralas) e elogios (fartos).
Quanto aos elogios, resta pouco a
dizer, quando já se escutou qualquer um dos seus mais de 70 discos, como o lírico "My Favorite
Instrument" ou o alegre "Oscar
Peterson + One".
Quanto às críticas, podem ser resumidas em um argumento: ele
tem dedos, mas não tem coração.
Em maio de 1993, quando veias
do rotundo pianista entupiram, e
seu coração quase terminou de
funcionar, Peterson mostrou a todos que lá estava seu órgão vital.
Mostrou mesmo, pois o acidente
quase calou sua mão esquerda, a
mais sábia e lépida delas, reduzindo o grande número de notas que
ele usava por canção e deixando
seus sentimentos mais aparentes.
Infelizmente, esse lirismo tardio
(que já estava presente desde seus
primeiros discos) não ganhou ainda um registro definitivo em CD.
Mas acompanhou Peterson nos
palcos em que ele subiu, como por
exemplo quando tocou no legendário Carnegie Hall, em Nova
York, em junho de 95, primeiro
grande concerto depois do acidente, ou em São Paulo, em abril de 96.
Mesmo tocando basicamente
com uma mão (melhor do que
muitos outros fazem com as duas),
Peterson ainda é Peterson.
É o mesmo pianista que começou a estudar música clássica aos
seis anos, em Montreal, e que convidou diversas características do
erudito para ornamentar seu jazz.
O mesmo que injetou doses fartas de elegância no estilo chamado
de "mainstream" (espécie de
"swing" temperado por inovações
harmônico-rítmicas), avançando
a trilha iniciada por pianistas como Teddy Wilson, Errol Garner,
Nat King Cole e, principalmente,
Art Tatum, seu mestre maior.
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