São Paulo, terça, 3 de novembro de 1998

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Seu sobrenome é técnica

CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local

Em todo o universo, poucos conhecem os brancos e pretos do piano tão bem quanto o canadense Oscar Peterson. A riqueza de possibilidades que o músico demonstrou ter encontrado no instrumento, ao longo de mais de 50 anos de carreira, fez com que a expressão "técnica avassaladora" andasse sempre rente ao seu nome.
Onde quer que se escreva algum comentário sobre Peterson sempre haverá, entre elogios e críticas, um registro do espanto que é o conhecimento que ele tem das teclas. E é justamente seu virtuosismo que acabou lhe cercando de críticas (ralas) e elogios (fartos).
Quanto aos elogios, resta pouco a dizer, quando já se escutou qualquer um dos seus mais de 70 discos, como o lírico "My Favorite Instrument" ou o alegre "Oscar Peterson + One".
Quanto às críticas, podem ser resumidas em um argumento: ele tem dedos, mas não tem coração.
Em maio de 1993, quando veias do rotundo pianista entupiram, e seu coração quase terminou de funcionar, Peterson mostrou a todos que lá estava seu órgão vital. Mostrou mesmo, pois o acidente quase calou sua mão esquerda, a mais sábia e lépida delas, reduzindo o grande número de notas que ele usava por canção e deixando seus sentimentos mais aparentes.
Infelizmente, esse lirismo tardio (que já estava presente desde seus primeiros discos) não ganhou ainda um registro definitivo em CD. Mas acompanhou Peterson nos palcos em que ele subiu, como por exemplo quando tocou no legendário Carnegie Hall, em Nova York, em junho de 95, primeiro grande concerto depois do acidente, ou em São Paulo, em abril de 96.
Mesmo tocando basicamente com uma mão (melhor do que muitos outros fazem com as duas), Peterson ainda é Peterson.
É o mesmo pianista que começou a estudar música clássica aos seis anos, em Montreal, e que convidou diversas características do erudito para ornamentar seu jazz.
O mesmo que injetou doses fartas de elegância no estilo chamado de "mainstream" (espécie de "swing" temperado por inovações harmônico-rítmicas), avançando a trilha iniciada por pianistas como Teddy Wilson, Errol Garner, Nat King Cole e, principalmente, Art Tatum, seu mestre maior.



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