São Paulo, terça, 3 de novembro de 1998

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TEATRO-DANÇA ANÁLISE
Bausch é forma híbrida de convergência da arte

CARLOS GARDIN
especial para a Folha, em Wuppertal

A coreógrafa e bailarina Pina Bausch, aos 58 anos e pelos menos 25 de teatro-dança, com sua obra de arte pode, com certeza, ser considerada uma das maiores artistas do nosso século.
Nesse instante da sua grandiosa carreira, em que sua marca de linguagem influencia as artes cênicas de todo o mundo, ela atinge seu ápice na busca obsessiva da perfeição e afirma que, se não pode fazer rir aos outros, o seu trabalho não faz sentido.
Wuppertal, cidade alemã que subvenciona a companhia de Bausch, transformou-se em outubro no centro mundial das artes cênicas para a celebração dos 25 anos do teatro-dança de Pina Bausch. No evento, artistas de vários países compareceram para prestar seu tributo à bailarina.
O melhor da festa, porém, ficou a cargo da homenageada, que ofereceu uma retrospectiva do seu trabalho em Wuppertal, apresentando oito das suas coreografias.
Em uma delas, "O Limpador de Vidraças", o estilo criado por Bausch é levado à perfeição. Assim é Pina Bausch e sua encenação. Ela não busca mais o movimento, mas a razão deles existirem daquela forma. Seu processo é pedir aos atores/bailarinos a pesquisa do cotidiano nas cidades que se apresentam. Através do improviso retira o material necessário.
Pina Bausch não é apenas coreógrafa. É encenadora e conta com a ajuda do cenógrafo Peter Pabst. Sua dança é uma forma híbrida formada da convergência de todos os elementos. Há ousadia na sua ação. Cerca a simplicidade da vida que é absurda, trágica, cruel e carregada de poesia. Nessa busca encontra o minimalismo. A repetição das estruturas, das formas, do sentido. A síntese.
Pina Bausch busca a perfeição que está na simplicidade da síntese. Mas a síntese só é encontrada na exatidão. A exatidão revela, no seu ato exato, que a síntese se faz na diversidade, na pluralidade. A cena de Bausch parece querer demonstrar que o caminho da arte está na diversidade. Na aceitação do contrário. Na convivência, na diferença. Assim seja!
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Carlos Gardin é doutor em Comunicação e Semiótica, professor do Departamento de Jornalismo da PUC-SP e diretor de teatro.



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