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PATRIMÔNIO
Cidade mineira foi escolhida anteontem pela Unesco como patrimônio da humanidade
Diamantina pára para comemorar
PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Belo Horizonte
A população da cidade mineira
de Diamantina (a 295 km de Belo
Horizonte) ficou sabendo da escolha da cidade como patrimônio
histórico da humanidade pela
Unesco (Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência
e Cultura) quando os sinos das
igrejas históricas badalaram, ao
meio-dia de anteontem. Começou dessa forma a comemoração
na cidade mineira, cuja população se engajou na campanha pelo
título da Unesco.
Há mais de dois anos a população diamantinense vinha se preparando para isso. Muitos contribuíram com a restauração e pintura das suas casas.
A prefeitura da cidade recebeu
a notícia por volta das 10h. As comemorações de anteontem anteciparam os festejos oficiais, programados para começar hoje.
Fogos de artifício foram queimados na praça do Mercado, os
auto-falantes das igrejas históricas repetiram o feito da comunidade local e ambulâncias e carros
de polícia circularam pela cidade
com as sirenes abertas.
Além das tradicionais serestas,
no próximo dia 11, dois dos músicos e compositores do Clube da
Esquina, Fernando Brant e Tavinho Moura, que fizeram história
na cidade, farão um show em praça pública.
Não foi apenas por sua arquitetura e pelo conjunto urbano dos
séculos 18 e 19 que a cidade recebeu anteontem o título.
A escolha se deu também por
sua história, pela beleza natural
da região, pelo folclore, pela gastronomia e pela música, enraizada na cultura da cidade histórica
desde o período barroco.
A musicalidade local só ganhou
notoriedade neste século, com as
badaladas serestas, das quais participava o ex-presidente Juscelino
Kubitschek, nascido na cidade.
Mas existe desde que ela era o Arraial do Tijuco, no século 18.
Em Diamantina nasceu e viveu
o mulato liberto José Joaquim
Emerico Lobo de Mesquita, filho
de português, considerado o
maior músico sacro do século 18
nas Américas. A reboque de Mesquita, surgiram outros músicos.
A música do barroco mineiro
criada por eles foi, para a historiadora Suzana Sampaio, um elemento que enriqueceu muito o
dossiê da cidade mineira.
Além de música, Diamantina
produziu também órgãos, construídos pelo padre Manuel de Almeida e Silva. Lobo de Mesquita
era o organista que tocava os instrumentos em igrejas do arraial.
Dois séculos depois, a musicalidade da cidade ainda está viva.
"Não há uma família diamantinense que não tenha um parente
músico ou poeta (letrista)", diz o
secretário de Cultura de Diamantina, Erildo Nascimento. Segundo ele, são 91 grupos musicais.
A arquitetura de Diamantina,
para os historiadores, expressa
suas qualidades na pureza e simplicidade. As casas têm fachadas
semelhantes, com linhas sóbrias e
proximidade com a arquitetura
maneirista portuguesa.
As 14 igrejas e capelas da cidade
seguem essa mesma tendência.
Estão em locais discretos, perto
do casario, ao contrário de Ouro
Preto (MG), por exemplo, onde
as edificações religiosas se destacam nos morros por seu isolamento.
Diamantina, cidade de becos
históricos, terra de Xica da Silva e
de JK, do contraste com o modernismo de Niemeyer, tem uma
gastronomia peculiar, como o
frango com ora-pro-nobis ou a
carne moída com broto de samambaia.
Tudo isso foi apresentado à
Unesco em um dossiê de cem páginas feito pelo governo brasileiro. No próximo sábado, em Marrakech, no Marrocos, a Unesco
oficializa o título.
Outros lugares brasileiros já
tombados pela Unesco no Brasil
são o conjunto arquitetônico e
urbanístico de Ouro Preto (MG),
em 05/09/80, o conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico
de Olinda (PE), em 17/12/82, o
conjunto arquitetônico e urbanístico de Salvador (BA), em 06/
12/85, o conjunto urbanístico, arquitetônico e paisagístico de Brasília (DF), em 11/12/87, e o conjunto arquitetônico e urbanístico
do centro histórico de São Luís
(MA), em 03/12/97.
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