São Paulo, Sexta-feira, 03 de Dezembro de 1999


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PATRIMÔNIO
Cidade mineira foi escolhida anteontem pela Unesco como patrimônio da humanidade
Diamantina pára para comemorar

PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

A população da cidade mineira de Diamantina (a 295 km de Belo Horizonte) ficou sabendo da escolha da cidade como patrimônio histórico da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) quando os sinos das igrejas históricas badalaram, ao meio-dia de anteontem. Começou dessa forma a comemoração na cidade mineira, cuja população se engajou na campanha pelo título da Unesco.
Há mais de dois anos a população diamantinense vinha se preparando para isso. Muitos contribuíram com a restauração e pintura das suas casas.
A prefeitura da cidade recebeu a notícia por volta das 10h. As comemorações de anteontem anteciparam os festejos oficiais, programados para começar hoje.
Fogos de artifício foram queimados na praça do Mercado, os auto-falantes das igrejas históricas repetiram o feito da comunidade local e ambulâncias e carros de polícia circularam pela cidade com as sirenes abertas.
Além das tradicionais serestas, no próximo dia 11, dois dos músicos e compositores do Clube da Esquina, Fernando Brant e Tavinho Moura, que fizeram história na cidade, farão um show em praça pública.
Não foi apenas por sua arquitetura e pelo conjunto urbano dos séculos 18 e 19 que a cidade recebeu anteontem o título.
A escolha se deu também por sua história, pela beleza natural da região, pelo folclore, pela gastronomia e pela música, enraizada na cultura da cidade histórica desde o período barroco.
A musicalidade local só ganhou notoriedade neste século, com as badaladas serestas, das quais participava o ex-presidente Juscelino Kubitschek, nascido na cidade. Mas existe desde que ela era o Arraial do Tijuco, no século 18.
Em Diamantina nasceu e viveu o mulato liberto José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, filho de português, considerado o maior músico sacro do século 18 nas Américas. A reboque de Mesquita, surgiram outros músicos.
A música do barroco mineiro criada por eles foi, para a historiadora Suzana Sampaio, um elemento que enriqueceu muito o dossiê da cidade mineira.
Além de música, Diamantina produziu também órgãos, construídos pelo padre Manuel de Almeida e Silva. Lobo de Mesquita era o organista que tocava os instrumentos em igrejas do arraial.
Dois séculos depois, a musicalidade da cidade ainda está viva. "Não há uma família diamantinense que não tenha um parente músico ou poeta (letrista)", diz o secretário de Cultura de Diamantina, Erildo Nascimento. Segundo ele, são 91 grupos musicais.
A arquitetura de Diamantina, para os historiadores, expressa suas qualidades na pureza e simplicidade. As casas têm fachadas semelhantes, com linhas sóbrias e proximidade com a arquitetura maneirista portuguesa.
As 14 igrejas e capelas da cidade seguem essa mesma tendência. Estão em locais discretos, perto do casario, ao contrário de Ouro Preto (MG), por exemplo, onde as edificações religiosas se destacam nos morros por seu isolamento.
Diamantina, cidade de becos históricos, terra de Xica da Silva e de JK, do contraste com o modernismo de Niemeyer, tem uma gastronomia peculiar, como o frango com ora-pro-nobis ou a carne moída com broto de samambaia.
Tudo isso foi apresentado à Unesco em um dossiê de cem páginas feito pelo governo brasileiro. No próximo sábado, em Marrakech, no Marrocos, a Unesco oficializa o título.
Outros lugares brasileiros já tombados pela Unesco no Brasil são o conjunto arquitetônico e urbanístico de Ouro Preto (MG), em 05/09/80, o conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico de Olinda (PE), em 17/12/82, o conjunto arquitetônico e urbanístico de Salvador (BA), em 06/ 12/85, o conjunto urbanístico, arquitetônico e paisagístico de Brasília (DF), em 11/12/87, e o conjunto arquitetônico e urbanístico do centro histórico de São Luís (MA), em 03/12/97.


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