São Paulo, quinta, 3 de dezembro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice NOVO RUBEM FONSECA Escritor influencia gente famosa e vai ao cinema
da Equipe de Articulistas A crítica costuma se dividir diante da obra de Rubem Fonseca. Para alguns, ele é um gênio; para outros, um diluidor. Não será com "A Confraria dos Espadas" que essa divisão será superada. Na classificação criada por Ezra Pound, que dividia os artistas em inventores, mestres e diluidores, Fonseca tem cumprido, alternadamente, as três funções. Foi inventor quando forjou a prosa brutalista e cortante que rompeu com o ranço agrário-sentimental de nossa literatura e nos mergulhou na selva urbana em livros como "A Coleira do Cão", "Lúcia McCartney", "Feliz Ano Novo" e "O Cobrador". Foi mestre de um certo policial "noir" brasileiro, no romance "A Grande Arte" (1982) e nos contos protagonizados pelo detetive Mandrake e pelo delegado Vilela. Mas foi diluidor -de si mesmo, de Umberto Eco, de Milan Kundera- quando se meteu a alinhavar tramas policiais um tanto esquemáticas com citações eruditas e inventários enciclopédicos sobre pedras preciosas, sapos etc. Claro que, numa obra tão extensa, a qualidade do texto é desigual. Momentos de grande empenho formal alternam-se com passagens desleixadas, em que o lugar-comum penetra como uma praga. "A Confraria dos Espadas" não tem extremos de nenhum dos dois tipos. É um livro de profissional: enxuto, direto, competente e, sobretudo, muito agradável de ler. Qualquer que seja a reação da crítica, o fato é que Rubem Fonseca é um dos autores mais influentes da literatura brasileira recente. A contundência de sua prosa -sobretudo nos contos- tornou-o ponto de referência obrigatório para as novas gerações de escritores. Nascido em Juiz de Fora (MG) e radicado no Rio, Rubem Fonseca foi advogado, delegado de polícia e funcionário da Light antes de dedicar-se integralmente à literatura. No início dos anos 60, participou do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), entidade conservadora que participaria das articulações civis de apoio ao golpe militar de 1964. Críticos do escritor costumam dizer que é por conta desse passado incômodo que ele se recusa a dar entrevistas. Seus defensores, por outro lado, dizem que ele participou do Ipes como "elemento infiltrado", a serviço da esquerda. Avesso a entrevistas, palestras e fotografias, Fonseca está ligado -como padrinho, consultor ou incentivador- à carreira literária de gente famosa, como Bruna Lombardi, Jô Soares e Chico Buarque, sem falar das escritoras Ana Miranda e Patrícia Melo. Embora só na obra desta última as marcas de Rubem Fonseca sejam percebidas mais diretamente, há em todas as outras a mistura de intriga (geralmente policial) e "erudição" que caracteriza a literatura do autor. A influência de Fonseca se estende ao cinema. O primeiro longa-metragem de Walter Salles, de 1991, foi uma adaptação de "A Grande Arte". O conto "Relatório de Carlos" virou o filme "Relatório de um Homem Casado" (1974), de Flavio Tambelini. Em 1970, David Neves já havia transformado em longa o conto "Lúcia McCartney". Está em finalização o filme "O Caso Morel", dirigido por Ricardo Favilla, a partir de roteiro de Patrícia Melo. E o próprio Fonseca roteiriza "O Matador", de Patrícia, a ser dirigido pelo filho do autor, José Henrique. (JOSÉ GERALDO COUTO) Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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