São Paulo, sábado, 4 de janeiro de 1997.

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CINEMA
Ator volta a ser herói, depois de ''A Lista de Schindler'' e ``Rob Roy'', como protagonista do filme de Neil Jordan sobre o líder irlandês
''Collins não era terrorista'', diz Liam Neeson

Folha Imagem
O ator irlandês Liam Neeson em cena de "Michael Collins", sobre o líder da independência de seu país


JEANNE WOLF

Um altíssimo Liam Neeson paira acima do resto dos mortais. Ele pode ser alguém de fala macia, mas o seu olhar e belo perfil projetam um visceral apelo e paixão que fazem dele o centro das atenções em uma sala lotada. Se Liam parece maior que a vida em pessoa, na tela tem parecido ainda maior em uma sucessão de heróicos papéis.
Ele teve uma indicação ao Oscar pela interpretação de um alemão que arriscou a própria vida para salvar os judeus nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra em ``A Lista de Schindler'' e depois atuou no papel de uma lenda escocesa que lutou por seu país contra os britânicos em ``Rob Roy''.
Agora ele pode ser visto como um controvertido patriota irlandês que, para Liam e muitos dos homens que vivem no país, é um herói, enquanto para outros é o homem que permitiu que a Irlanda fosse dividida entre Norte e Sul.
Em ``Michael Collins'', Neeson faz o papel-título, um personagem real, um irlandês que lutou pela liberdade e cuja determinação em libertar seu país do domínio britânico nos anos de 1900 o conduziu a organizar o formidável e temido ``Voluntários Irlandeses''.
Depois de provocar a imobilidade entre as forças de ocupação britânicas, ele negociou um tratado que estabeleceu a divisão do país entre Norte e Sul. Foi morto por um tiro aos 31 anos.
``Collins percebeu que a independência da Irlanda não poderia ser conseguida com brindes de Guiness'', diz Neeson. ``Ele viu através de todo aquele romantismo e sabia da necessidade em criar uma força que pudesse enfraquecer os ingleses.''
Collins foi um terrorista? Neeson faz uma longa pausa antes de responder a questão. ``Ele não era um terrorista'', diz finalmente. ``Um terrorista, para mim, é alguém que coloca bombas e mata cidadãos inocentes. Collins matou o inimigo- soldados, espiões e simpatizantes. Mais do que tudo ele era um revolucionário e amava o seu país. Ele inspirou outros líderes revolucionários, que usariam suas táticas de guerrilha''.
Depois de ser convidado pelo diretor Neil Jordan (``Entrevista com o Vampiro'') há quase 12 anos para o papel, Neeson fez a sua pesquisa sobre a lenda irlandesa.
Embora tenha crescido na Irlanda do Norte, sabia muito pouco sobre Collins. ``Em meus livros de escola acho que todo o movimento de independência da Irlanda só ganhou um parágrafo'', ele se lembra. ``Eles eram apresentados como rebeldes.''
``Eu li biografias de Michael Collins'', continua. ``Outras figuras históricas muitas vezes permanecem distantes. Mas esse homem capturou a minha imaginação.''
``O que me apanhou'', ele conta, ``foi encontrar seus sobrinhos em West Cork. Um deles se chamava Liam, Liam Collins, que teve sua casa queimada pelos British Black e Tans. Eles foram maravilhosos comigo. `Aqui está uma xícara de chá', e então, `que tal um brandy agora'. Eu podia sentir o espírito de Michael Collins neles''.

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