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LIVRO/LANÇAMENTO
Livro inédito reúne textos de José Lins do Rego sobre suas paixões: o futebol
e, em especial, o Flamengo
Volume, que chega às livrarias na próxima semana, traz 111 crônicas do autor de "Menino de Engenho"
José Lins do mengo
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Naquele tempo ainda se falava
em "team" e em "footbal", Pelé
era um molecote de cinco anos
chamado Édison (assim mesmo
com "i"), o Maracanã não existia e
o futuro país do penta tinha as salas de troféus vazias.
Era esse o cenário em 7 de março de 1945, quando entra em campo um paraibano de 1,75 m, 90 generosos quilos e 44 anos.
"José Lins do Rego em "Jornal
dos Sports'", anunciava com orgulho em sua capa, nesse dia, o
diário esportivo carioca. Já consagrado como um dos principais
nomes da literatura brasileira, o
autor de "Menino de Engenho"
(1932) e "Fogo Morto" (1943) estreava a coluna "Esporte e Vida".
Durante os 12 anos seguintes,
Zelins, como lhe chamavam amigos e inimigos, escreveria todos os
dias uma crônica sobre uma de
suas duas paixões: o futebol, amor
genérico, ou o Flamengo, arrebatamento bem específico.
Foram 1.571 textos, interrompidos apenas pela morte do escritor,
em 1957, um ano antes do primeiro caneco brasileiro.
Na semana que vem, esse numeroso escrete de crônicas que
vinha sendo degustado apenas
pelas traças das hemerotecas ganha pela primeira vez o formato
de livro. A editora José Olympio,
que vem publicando a obra de José Lins do Rego desde 1934, manda para as livrarias na segunda-feira o volume "Flamengo É Puro
Amor", que reúne 111 desses instantâneos do futebol nacional.
Instantâneos não é força de expressão. Em entrevista à Folha, a
filha mais velha do romancista,
Maria Elizabeth Lins do Rego, 77,
que acompanhou o nascimento
de muitas dessas crônicas, relata:
"Ele as escrevia como um jato".
Não era desleixo por ser um trabalho não-literário, aponta a primogênita. "Toda a obra dele era
feita assim. Escrita com grande
espontaneidade. Papai não era
pessoa de escrever e reescrever.
Sentava e fazia."
Junto com as letras miúdas que
rabiscava à mão (mesmo depois
que Roberto Marinho lhe comprou a melhor máquina de escrever da época para que fizesse suas
crônicas não-esportivas em "O
Globo"), ia escancaradamente o
seu flamenguismo, o que o escritor já anuncia na sua estréia: "Volto à crônica com o mesmo ânimo,
com o mesmo flamenguismo,
com a mesma franqueza. Nada de
fingir neutralidade e nem de compor máscara de bom moço".
Personagens históricos rubro-negros, como os jogadores Jair,
Heleno e Zizinho (seu predileto)
disputam as colunas com histórias sobre dirigentes esportivos (o
que José Lins também foi, tanto
no Flamengo quanto na Confederação Brasileira de Desportos, da
qual foi secretário-geral) e com
outros torcedores inflamados, como o compositor (e narrador esportivo) Ary Barroso.
Se eu e você, leitor, sabemos
quem foi este flamenguista ilustre, compositor de "Aquarela do
Brasil", e conhecemos a histórica
derrota do Brasil no Maracanã em
1950, há quem não saiba o que é o
Dragão Negro (turma de flamenguistas que se reunia na confeitaria Colombo) ou quem foi Molas
(desenhista argentino).
E aí é que entra o técnico, ou goleiro do livro, o jornalista Marcos
de Castro, que fez a seleção das
crônicas e escreveu uma minuciosa nota de rodapé para cada um
dos 111 textos da coletânea.
Por elas acompanhamos o passo-a-passo do "Puro Amor" de
Zelins, que se apaixonou pelo Flamengo em 1935, ao chegar ao Rio,
vindo do Nordeste, e que carregou para o túmulo. José Lins do
Rego foi enterrado em 12 de setembro de 1957, em caixão coberto pela bandeira rubro-negra.
FLAMENGO É PURO AMOR. Autor: José
Lins do Rego. Organizador: Marcos de
Castro. Editora: José Olympio. Quanto:
R$ 28 (208 págs.).
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