São Paulo, sábado, 04 de janeiro de 2003

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LIVRO/LANÇAMENTO

Livro inédito reúne textos de José Lins do Rego sobre suas paixões: o futebol e, em especial, o Flamengo

Volume, que chega às livrarias na próxima semana, traz 111 crônicas do autor de "Menino de Engenho"

José Lins do mengo

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Naquele tempo ainda se falava em "team" e em "footbal", Pelé era um molecote de cinco anos chamado Édison (assim mesmo com "i"), o Maracanã não existia e o futuro país do penta tinha as salas de troféus vazias.
Era esse o cenário em 7 de março de 1945, quando entra em campo um paraibano de 1,75 m, 90 generosos quilos e 44 anos.
"José Lins do Rego em "Jornal dos Sports'", anunciava com orgulho em sua capa, nesse dia, o diário esportivo carioca. Já consagrado como um dos principais nomes da literatura brasileira, o autor de "Menino de Engenho" (1932) e "Fogo Morto" (1943) estreava a coluna "Esporte e Vida".
Durante os 12 anos seguintes, Zelins, como lhe chamavam amigos e inimigos, escreveria todos os dias uma crônica sobre uma de suas duas paixões: o futebol, amor genérico, ou o Flamengo, arrebatamento bem específico.
Foram 1.571 textos, interrompidos apenas pela morte do escritor, em 1957, um ano antes do primeiro caneco brasileiro.
Na semana que vem, esse numeroso escrete de crônicas que vinha sendo degustado apenas pelas traças das hemerotecas ganha pela primeira vez o formato de livro. A editora José Olympio, que vem publicando a obra de José Lins do Rego desde 1934, manda para as livrarias na segunda-feira o volume "Flamengo É Puro Amor", que reúne 111 desses instantâneos do futebol nacional.
Instantâneos não é força de expressão. Em entrevista à Folha, a filha mais velha do romancista, Maria Elizabeth Lins do Rego, 77, que acompanhou o nascimento de muitas dessas crônicas, relata: "Ele as escrevia como um jato".
Não era desleixo por ser um trabalho não-literário, aponta a primogênita. "Toda a obra dele era feita assim. Escrita com grande espontaneidade. Papai não era pessoa de escrever e reescrever. Sentava e fazia."
Junto com as letras miúdas que rabiscava à mão (mesmo depois que Roberto Marinho lhe comprou a melhor máquina de escrever da época para que fizesse suas crônicas não-esportivas em "O Globo"), ia escancaradamente o seu flamenguismo, o que o escritor já anuncia na sua estréia: "Volto à crônica com o mesmo ânimo, com o mesmo flamenguismo, com a mesma franqueza. Nada de fingir neutralidade e nem de compor máscara de bom moço".
Personagens históricos rubro-negros, como os jogadores Jair, Heleno e Zizinho (seu predileto) disputam as colunas com histórias sobre dirigentes esportivos (o que José Lins também foi, tanto no Flamengo quanto na Confederação Brasileira de Desportos, da qual foi secretário-geral) e com outros torcedores inflamados, como o compositor (e narrador esportivo) Ary Barroso.
Se eu e você, leitor, sabemos quem foi este flamenguista ilustre, compositor de "Aquarela do Brasil", e conhecemos a histórica derrota do Brasil no Maracanã em 1950, há quem não saiba o que é o Dragão Negro (turma de flamenguistas que se reunia na confeitaria Colombo) ou quem foi Molas (desenhista argentino).
E aí é que entra o técnico, ou goleiro do livro, o jornalista Marcos de Castro, que fez a seleção das crônicas e escreveu uma minuciosa nota de rodapé para cada um dos 111 textos da coletânea.
Por elas acompanhamos o passo-a-passo do "Puro Amor" de Zelins, que se apaixonou pelo Flamengo em 1935, ao chegar ao Rio, vindo do Nordeste, e que carregou para o túmulo. José Lins do Rego foi enterrado em 12 de setembro de 1957, em caixão coberto pela bandeira rubro-negra.


FLAMENGO É PURO AMOR. Autor: José Lins do Rego. Organizador: Marcos de Castro. Editora: José Olympio. Quanto: R$ 28 (208 págs.).


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