São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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FILMES

TV PAGA

Ford encontra o sublime em "As Vinhas da Ira"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Primeiro domingo do ano é dia (mais um) de balanço e perspectivas. O balanço já conhecemos: 2003 foi um ano de decadência acentuada da TV paga. As perspectivas: nada indica que 2004 verá uma recuperação acentuada.
Os grandes canais (HBO e Telecine) viverão basicamente dos acordos que mantêm com estúdios americanos. Como em 2003, a dieta hollywoodiana tende a se intensificar, com muito mais Danny Kaye e muito menos Satyajit Ray, mais vale começar pelo que essa dieta tem de melhor: John Ford.
Ford é o Grande Pai. Na hora da caça às bruxas, só ele conseguiu deter o furor anticomunista de Cecil B. DeMille. Deter e desmoralizar de uma só vez.
Ford era um conservador, um irlandês católico inimigo dos excessos da moralidade puritana, que julgava meramente hipócritas. Pessoalmente, era um cavalo no trato com os grandes (estrelas, produtores), mas consta que gostava de privar dos atores coadjuvantes e dos técnicos humildes.
"As Vinhas da Ira" é um filme que agradava à esquerda de outros tempos (comunistas sobretudo) por seu conteúdo social: falava dos expropriados da Depressão dos anos 30.
A rigor, esse conteúdo não é assim tão profundo. Não é aí que devemos procurar a beleza deste filme, que no entanto é intensa, e sim nos rostos dos personagens, naquela gente ora esquálida, ora perplexa, triste, desvalida, que atravessa o deserto num caminhãozinho prestes a se desfazer, sem nenhuma perspectiva de onde e quando chegar.
É nesses rostos, na intensa e sincera solidariedade, que Ford experimenta, que "As Vinhas da Ira" encontra a força e o sublime tão presentes em todo o filme.


AS VINHAS DA IRA. Quando: hoje, às 19h45, no Telecine Classic.

TV ABERTA

"Os Donos da Rua" trafega entre ética e tensão

A Dupla do Barulho
Cultura, 15h30.

Brasil, 1953, 90 min. Direção: Carlos Manga. Com Oscarito, Grande Otelo, Fregolente, Wilson Grey. Com nomes interpostos (Tino/Oscarito, Tião/Otelo), o que se faz é uma espécie de biografia da grande dupla de comediantes. Tem importância sobretudo histórica (inclusive, Manga começava a carreira). P&B.

O Pescador de Ilusões
Record, 17h.

(Fisher King). EUA, 1991, 138 min. Direção: Terry Gilliam. Com Jeff Bridges, Robin Williams. Bridges é um radialista deprimido que, após deprimir seus ouvintes, abandona a carreira. Um desses ouvintes mata uma pessoa. Ele passa a viver nas ruas de Nova York. Ali, encontra um antigo professor (Williams), que também largou tudo. Juntos, se dedicarão à busca do Santo Graal, que creem estar em Manhattan. Drama crispado, excessivo, à moda de Gilliam. Talvez um problema adicional: Robin Williams é um ótimo ator, com um problema: sente-se, sempre, que está atuando. Não é filme a desprezar, em todo caso.

Será que Ele É?
Record, 19h15.

(In & Out). EUA, 1997, 91 min. Direção: Frank Oz. Com Kevin Kline, Joan Cusack, Tom Selleck, Debbie Reynolds. Ao agradecer um Oscar, ator refere-se com carinho a um antigo professor, que ele diz ser gay. Bem, é a repercussão disso sobre a vida do homem que Oz explorará nesta comédia. Vale conferir.

Os Donos da Rua
Bandeirantes, 20h30.

(Boyz N the Hood). EUA, 1991, 107 min. Direção: John Singleton. Com Laurence Fishburne, Cuba Gooding Jr., Ice Cube. Fishburne é o pai que tenta transmitir ao filho (Gooding) noções de ética. Filme tenso, marcado pela presença dos bons atores e pela boa reconstituição da vida tensa dos negros nos EUA.

Mister Roberts
Bandeirantes, 0h.

(Mister Roberts). EUA, 55. Direção: John Ford/Mervyn LeRoy. Com Henry Fonda, James Cagney. Durante a Segunda Guerra, oficial da Marinha sente-se entediado ao trabalhar em navio de carga. Seu sonho é partir para a ativa. Encontrará, no entanto, resistência de seu capitão. Elenco estelar. (INÁCIO ARAUJO e BRUNO YUTAKA SAITO)


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