São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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Edição de luxo de Manuel Bandeira traz inédito do autor de "Estrela da Manhã"

Estrela nova

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Está brilhando por aí uma estrela desconhecida do poeta Manuel Bandeira. Uma edição de luxo de textos do autor de "Estrela da Manhã" recuperou um poema inédito do autor pernambucano, nascido em 1886 e morto em 1968.
O livro "100 Vezes Bandeira", publicado pela Confraria dos Bibliófilos do Brasil (CBB), traz como último de seus cem poemas os versos de "O Homem e as Coisas", que a Folha reproduz.
Escrito para um álbum de 1965, chamado "Morte", esse poemeto de maturidade escapou de todas as coletâneas "completas" de poemas de Bandeira desde então.
O achado foi do "bandeirólogo" Edson Nery da Fonseca, que ajudou o organizador do trabalho, o fundador e presidente da CBB, o engenheiro José Salles Neto.
Às quatro mãos dos dois se somaram as do sobrinho-neto do escritor e administrador de seus direitos autorais, o procurador federal Antônio Manoel Bandeira Cardoso, que assina a introdução de "100 Vezes Bandeira".
Cardoso chama atenção para um aspecto da obra de Bandeira que serve de guia para a edição dos Bibliófilos, o "caráter evocativo de seus versos", evocativos de sua própria vida.
O poema inédito, do velho Bandeira dizendo que via cada coisa pela última vez, serve como luva nessa linha-mestra, assim como outros "clássicos" incluídos no volume, caso de "Pneumotórax".
Salles Neto diz que além de priorizar os textos "evocativos" "100 Vezes Bandeira" também teve como critérios a reunião de poemas de todos os livros do escritor e na ordem em que foram publicados, começando com "Epígrafe" (1917) e com ponto final em "Crucifixo" (1966), passando por "hits" como "Os Sapos" e por menos conhecidos, como "Oração para Aviadores".
Casadas com os versos do modernista estão dez serigrafias de Renina Katz, feitas para o projeto. Espécie de primeira-dama da gravura brasileira, a artista carioca-paulistana ilustra Bandeira com traços que ficam entre o abstrato e o figurativo. Assim como em boa parte da obra do poeta, ela vai à profundidade lírica pelo caminho da (aparente) simplicidade.
A dobradinha Katz/Bandeira, finamente embalada pela Confraria, não está disponível para todos. Assim como nos livros anteriores da agremiação literária, que com "100 Vezes Bandeira" chega a seu 12º título, os volumes são feitos em tiragem a conta-gotas (um livro para cada um dos 350 confrades bibliófilos). Como existem algumas vagas sobrando na CBB, porém, estão à venda cerca de duas dezenas de exemplares.
Cada um deles é feito artesanalmente. O livro tem cada uma de suas linhas impressas manualmente, com uma velha máquina Guarani, que Salles Neto guarda na cidadezinha Núcleo Bandeirantes, próxima de Brasília. Antes de chegarem lá, as matrizes de cada página, que pesam cerca de 500 quilos, são fundidas em Cidade Ocidental, interior de Goiás.
Os vai-e-vens compensam. O resultado final é de levar qualquer leitor embora pra Pasárgada.


100 VEZES BANDEIRA. Autor: Manuel Bandeira. Org.: José Salles Neto (com Edson Nery da Fonseca e Antônio Manoel Bandeira Cardoso). Editora: Confraria dos Bibliófilos do Brasil (conbiblibr@yahoo.com.br; tel. 0/xx/61/435-2598). R$ 130 (131 págs.).


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