São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cinemas/estréias - Crítica/"Coisas que Perdemos pelo Caminho"

Diretora cria melodrama à la Dogma

Susanne Bier usa vantagens e vícios do movimento dinamarquês em sua estréia nos EUA, com Halle Berry e Benicio Del Toro

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

O melodrama é um dos gêneros mais resistentes da história do cinema. As comédias já tiveram altos e baixos, os musicais e os filmes de gângsteres ficaram no passado. Já as histórias de vidas partidas, movidas a sentimentos frágeis e intensos, continuam a ocupar lugar essencial no jogo de sedução de platéias.
O tema da solidão feminina, seja por morte ou por abandono, é um manancial do melodrama e uma oportunidade para atrizes desde os tempos de Griffith até os mais recentes de Almodóvar. É disso que se nutre "Coisas que Perdemos pelo Caminho", estréia da diretora dinamarquesa Susanne Bier em território hollywoodiano, depois de ter se tornado reconhecida como uma das praticantes dos cânones de despojamento do Dogma 95.
A função da diretora fica evidente no tratamento desdramatizado que dá a uma situação emocional demais: com a perda do companheiro, uma mulher enfrenta a realidade de criar sozinha dois filhos pequenos e encontra forças na presença de um amigo do marido, um viciado em heroína que se esforça para abandonar a dependência.
A viúva é encarnada por Halle Berry, num papel que devolve sua fulgurância, apagada desde o Oscar por "A Última Ceia". Ao seu lado, Benicio Del Toro faz o viciado, que serve de outro suporte da estrutura do melodrama, com sua história de decadência e redenção.
Do encontro dessas duas forças, a diretora dinamarquesa explora as vantagens e os tiques desenvolvidos nos filmes do Dogma, com a câmera predominantemente na mão como signo de "realismo", o esvaziamento emocional do ápice dramático por meio de uma apresentação não-linear dos fatos logo no início do filme e um trabalho de atores mais físico e menos psicológico que o habitual no cinema americano.


COISAS QUE PERDEMOS PELO CAMINHO
Direção:
Susanne Bier
Produção: Reino Unido/ EUA, 2007
Com: Halle Berry, Benicio Del Toro e David Duchovny
Onde: estréia hoje nos cines Bristol, UOL Lumière, Villa-Lobos e circuito
Avaliação: regular



Texto Anterior: Carlos Heitor Cony: Um pouco da Operação Condor
Próximo Texto: Crítica/"P.S. Eu Te Amo": Tom solar marca drama sobrenatural
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.