São Paulo, #!L#Sexta-feira, 04 de Fevereiro de 2000


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Diretor se lança à aleatoriedade

especial para a Folha

Glauber Rocha afirmava que overdadeiro criador da frase "uma câmera na mão, uma idéia na cabeça" era Paulo César Saraceni. Verdade ou não, o fato prova a proximidade entre os dois grandes nomes do cinema novo.
Tal intimidade de idéias fez com que Saraceni avançasse com sua vontade de filmar, algo que ele ensaiava desde os tempos do teatro, quando trabalhou com Cacilda Becker e viu os copiões do "Limite" (30), de Mário Peixoto.
O curso de cinema que fez na Itália, no início dos anos 60, deu renovado ânimo àquele leitor fervoroso de Nietzsche e de Hegel. Já certo politicamente de sua queda esquerdista, Saraceni aprenderia sobre o marxismo com o grande fotógrafo Mário Carneiro. As discussões das quais participava para refletir sobre cinema e problemas brasileiros acabaram, também, dando a bagagem para filmar, com Carneiro, o premiado "Arraial do Cabo" (59), um resgate de como vivem os pescadores.
Um dos vieses adotados por Saraceni já surgiria nítido no próximo filme, "Porto das Caixas" (62), adaptação de obra de Lúcio Cardoso. Nela, uma mulher convoca o amante, um soldado e um barbeiro para matar seu marido. Julio Bressane chegou a dizer, 30 anos depois, que o filme passava a limpo o movimento neo-realista.
É o primeiro da "trilogia do amor", que enfatiza a figura feminina e que rendeu a adaptação de "Crônica da Casa Assassinada"
A repressão, os desejos aprisionados e a urgência de uma mudança são os fios narrativos dessas histórias, que sempre põem o humano em situação-limite.
"O Desafio" (65) é o lado estritamente político da moeda de Saraceni, considerado o primeiro filme a discutir o golpe militar
Filmado juntamente com Leon Hirszman, no Carnaval de Salvador em 83, "Bahia de Todos os Sambas" (96) foi sua prova de resistência aos entraves financeiros.
Mas os filmes de Saraceni sempre pareceram muito ligados a seu dono, ou seja, abrigando conflitos aparentes, como juntar o tom militante dos discursos políticos às paixões íntimas que são rabiscadas em diários ou ditas nas paqueras de cinema.
Essa tensão presente nos filmes falam muito sobre o criador. Não foi por menos que a autobiografia que escreveu em 1993 explicava ao leitor que o fio narrativo não seria linear, que as idéias e emoções estariam lançadas às páginas aleatoriamente, como a vida.
É mais ou menos como a trajetória do homem de "O Viajante", filme que fecha de vez a tal trilogia do amor. (PAULO SANTOS LIMA)


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