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O ROTEIRISTA
"Você pode extirpar problemas profundos vendo sua fantasia"
MICHEL KAPLAN
do "The New York Times"
O diretor e roteirista Paul
Schrader, cujo último trabalho
foi com Martin Scorsese em "Vivendo no Limite" ("Bringing Out
the Dead"), fala sobre o efeito terapêutico de uma boa história de
personagens obscuros e sem
qualquer esperança.
Pergunta - Seu roteiro para
"Vivendo no Limite" ("Bringing
Out the Dead"), sobre um paramédico desequilibrado, não
mudará sua imagem (lembrando "Taxi Driver") de escritor
obscuro. O que o leva a esses
personagens?
Paul Schrader - Eles não são
obscuros. Obscuro é uma palavra-código em Hollywood para
não-comercial. Sempre fui interessado em pessoas inteligentes,
que parecem ter algum interesse
na vida, mas segue rodeando,
agindo como se defendendo porque expressam algum tipo de
neurose, seja sexual ou espiritual.
O rapaz que salva o avião do presidente de terroristas não é muito
interessante para um artista.
Pergunta - Seu próximo filme,
"Forever Mine", é uma história
mais melodramática. Sua aversão a essas coisas serviram contra você em Hollywood?
Schrader - Claro. O objetivo de
qualquer artista -alguém disse e
eu aceito- é tentar vender para
falhar. Nessa medida, eu me dei
muito bem. Mas algumas vezes o
produto não vale o tempo e o esforço. Scorsese e eu enveredamos
por "Vivendo no Limite". No último minuto, recebemos notas
do produtor tentando simplificar
o conflito do personagem principal para uma situação passível de
uma solução. Mas a vida nos dá
dilemas que nunca são resolvidos.
Scorsese e eu respondemos dizendo que (...) ele vê o personagem
como instrumento de elucidação,
e nós, como elemento de mistério.
Pergunta - Há algo em sua
própria experiência que o leva a
esses personagens e dilemas?
Schrader - Apenas o sentido de
tentar se adequar a um ambiente
hostil, espiritualmente vazio. Passei meus primeiros 22 anos numa
comunidade religiosa fechada, indo à escola da igreja.
Pergunta - Escrever é uma
busca pela ordem e pela razão?
Schrader - Certamente, para
mim. Comecei a escrever roteiros
como uma terapia pessoal.
Pergunta - Importa-se de dizer
qual era o problema?
Schrader - Ódio suicida de mim
mesmo. Não como Travis Bickle.
Meu casamento acabou. Assim
como o relacionamento. Caí no
desespero. Tive uma úlcera e,
conversando com a enfermeira,
descobri que não tinha falado
com ninguém por três semanas.
No hospital, a metáfora do motorista de táxi me ocorreu.
Pergunta - Qual a atração do
público por essas histórias?
Schrader - Esses tipos de protagonistas, ao longo da história da
arte, têm ajudado a manter a tensão social coletiva. A idéia é que
você pode extirpar certos problemas profundos, ansiedades, conflitos, vendo a sua fantasia.
Tradução Rogério Eduardo Alves
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