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TEATRO
Dirigido por Marco Antônio Braz, o Círculo dos Comediantes estréia peça de Nelson Rodrigues em SP
"Bonitinha" traz herói com caráter
free-lance para a Folha
Não foi à toa que o Círculo dos
Comediantes teve sua gênese no
Rio com "Beijo no Asfalto", em
90, antes de chegar a São Paulo,
um ano depois, para fixar território. Desde então, Nelson Rodrigues (1912-1980) se tornou uma
espécie de farol e sombra para o
grupo.
"Ele funciona como um óculos
para apreender a realidade e a
poética do brasileiro, que vamos
encontrar ao longo de toda a sua
obra", explica o diretor MarcoAntônio Braz, 35. Os Comediantes da vez retornam ao dramaturgo com "Bonitinha mas Ordinária", em cartaz a partir de hoje no teatro de Arena Eugênio
Kusnet, em São Paulo.
Na sua quinta incursão pelo
universo rodriguiano, Braz coloca
em cena o mito do herói com caráter. Trata-se da história de Edgar, homem de origem humilde
que é submetido a uma provação:
aceitar, ou não, um cheque de R$
5 milhões para se casar com a filha
rica do patrão. Vítima de estupro,
a moça é obrigada a aceitar um
marido às pressas para escapar do
moralismo estanque da sociedade.
A tragédia carioca do autor, como classificou o crítico Sábato
Magaldi, faz o personagem refletir sobre os valores humanos. Ele
passa boa parte da peça ruminando a sentença "Mineiro só é solidário no câncer", que Nelson Rodrigues jura ter ouvido do escritor
Otto Lara Resende, apesar de este
jamais confirmar.
Braz, que conquistou reconhecimento da crítica a partir de
"Perdoa-me Por Me Traíres" (94),
procura dar uma dimensão filosófica à nova montagem. O palco
diminuto do teatro de Arena serve, por exemplo, como metáfora
da "caverna" de Platão. "É justamente na escuridão que surgem
as piores tentações", explica o encenador.
"Bonitinha" lida com morte e
amor, temas recorrentes em Nelson Rodrigues. "Mas o que acaba
prevalecendo é a positividade, representada aqui pela cena final de
Ritinha (Patrícia Gordo) e Edgar
(Maurício Marques), quando o
nascer do sol simboliza a própria
humanidade", descreve Braz.
O elenco de 20 atores traz a participação especial do casal Antônio Petrin ("Barrela") e Rosália
Petrin.
(VALMIR SANTOS)
Peça: Bonitinha mas Ordinária
Autor: Nelson Rodrigues
Direção: Marco Antônio Braz
Com: grupo Círculo dos Comediantes
(Carolina Autran, Alejandra Sampaio,
Virgínia Buckowski, Paulo Campos,
Mariana Mallaman e outros)
Quando: estréia hoje, 21h; qui. a sáb.,
21h; dom., 20h.
Onde: teatro de Arena Eugênio Kusnet
(r. Teodoro Baima, 94, Centro, tel. 0/xx/
11/256-9463)
Quanto: R$ 16 (amanhã e dom.,
campanha de popularização a R$ 1)
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