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CRÍTICA
"Micróbio" pernambucano é pleno século 21
DA REPORTAGEM LOCAL
Se frevo é tema que por si só
exala cheiro de saudosismo, é
bom que se saiba que sua presença no "Projeto Micróbio do Frevo", de Silvério Pessoa, existe
muito mais como pretexto que
como objetivo final.
Ouve-se no disco que o frevo à
moda de Jackson do Pandeiro
comportava melodias deliciosas e
sagazes versos mínimos, mas
mais importante aqui é o objetivo
de interceptação presente em cada segundo do CD de Pessoa.
Já no "Micróbio do Frevo" do
início, o frevinho manso é esfaqueado por invasões urbanas,
alienígenas, a partir de uma vinheta protagonizada por um disco voador. No início do frevo, Silvério aciona aviso pirata: é "o Carnaval dos cínicos" que virá. Ao final, modernos recursos tecnológicos transportam o frevo ao túnel do tempo, sob texto incidental
corrosivo de Ascenso Ferreira.
"Me Dá um Cheirinho" chega
candidata a melhor faixa, com
duelos matadores entre gandaia
carnavalesca e a percussão vocal e
de cuíca de Naná Vasconcelos.
Lembrando a fase ácida de Alceu
Valença, Silvério intervém no frevinho sobre lança-perfume ("O
delegado não quer que eu cheire
isso, não"): "Let's trip", "let's fly".
"Minha Marcação" não deixa
de ser frevo, mas vira dub, reggae,
pop mineiro e mangue beat com a
intervenção do grupo local Eddie.
Nova interferência nas ondas do
rádio: Zé Brown, rapper do grupo
Faces do Subúrbio, faz "Elaboração do Frevo" sob batida entre
Miami bass, funk carioca e electro. O rap agradece o frevo, a metrópole louva o interior.
"Tá Como o Diabo Gosta" causa
espanto maior: programações,
vozes distorcidas e a participação
eletrônica do Re:combo avisam
que frevo é mano do drum'n'bass.
"Papel Crepom" é sintética ao
limite: a mítica Almira Castilho
conversa, o jovem músico erudito
(e de frevo) Spok adapta o arranjo
de Pixinguinha, o frevo-canção
orquestrado toca banjo alucinado, uma ritualística batucada de
bamba despenca no final.
Mais frevo-canção acontece em
"Balanço do Frevo", em que o escorregador macio da melodia, do
cavaquinho mangue beat e da voz
de Mônica Feijó é descontinuado
pela gilete cortante de loucas programações eletrônicas.
"Tô com a Macaca" introduz o
alien que faltava: o Via Sat ataca
três guitarras de rock, o que
adiante será levado ao paroxismo
do punk de Canisso, China e Ajax,
na disco-hardcore "Frevo do Bi".
Em "Sonata no Frevo" (um "frevo em bossa nova", segundo a letra), Silvério curte com a cara de
João Gilberto, parodiando sem
piedade seu modo de cantar.
Ainda faltam o sambinha quase
carioca "Vou Gargalhar", um remix e... o indescritível tecno-frevo
"Frevibe", pelo Digital Groove.
Talvez Silvério Pessoa ainda
olhe demais ao século passado,
escondendo suas canções atrás
dos totens. Mas hoje fica mais evidente que o passado é mesmo só
pretexto e que o novo "Micróbio
do Frevo" é pleno século 21.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Batidas Urbanas - Projeto
Micróbio do Frevo
Artista: Silvério Pessoa
Lançamento: independente
(encomendas pelo tel. 0/xx/81/9967-7815 ou bateomanca@uol.com.br)
Quanto: R$ 20
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