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MÚSICA
Dupla comenta o seu quinto disco, mais politizado e sintonizado com o mundo, e discute sobre o futuro do gênero
Chemical Brothers sai do escapismo dance
FIONA STURGES
DO "INDEPENDENT"
Eles podem ser a maior novidade na dance music desde a invenção do mixer, mas não seria fácil
identificar os integrantes do Chemical Brothers -Tom Rowlands,
33, e Ed Simons, 34- numa multidão. Graças às muitas horas
reorganizando os arquivos de seu
computador, Simons poderia
passar por professor. Já Rowlands
é vagamente reconhecível, com
seus habituais óculos coloridos.
Mas mais ar livre lhe faria bem.
A entrevista acontece no The
Social, clube num porão do centro de Londres onde, 11 anos
atrás, com o nome de The Dust
Brothers, Simons e Rowlands fizeram história, demonstrando
seu pouco caso com as fronteiras
musicais ao mixar "My Bloody
Valentine" com "Grandmaster
Flash" e "Love Unlimited".
Enquanto grupos afundam com
cada nova tendência, o Chemical
Brothers se mantém como uma
das poucas constantes desse cenário de mutação. Já venderam quase 7 milhões de álbuns e tiveram
13 músicas entre os sucessos das
paradas do Reino Unido, duas delas chegando ao topo da lista. Suas
apresentações ao vivo ganharam
status mítico, sendo que o show
que fizeram em Glastonbury em
2000 teve o maior público da história do festival.
Os dois se conheceram em 1989,
na Universidade de Manchester,
durante uma palestra sobre literatura medieval. Rowlands comenta: "O qualificativo de nerd é algo
que costuma nos acompanhar,
mas gosto de não me enquadrar
na idéia de como deve ser um músico de dance. Em todo caso, nunca quisemos ser astros do rock".
Rowlands e Simons falam muito em "nós". Depois de passar
tanto tempo trabalhando juntos,
se tornaram um espécie de casal,
cada um sintonizado com as
idiossincrasias do outro, embora
haja discussões acaloradas. Quando Simons diz que pensou em
adaptar seu som, à medida que ficarem mais velhos, para algo menos frenético, Rowlands exclama:
"Isso nunca me passou pela cabeça! Ainda curto muito um som
barulhento. As coisas não desligam só porque você chegou a
uma determinada idade. Há manhãs em que acordo com vontade
de ouvir Ramones. Outros dias
posso ter vontade de ouvir Nick
Drake. Você pode ter 17 ou 37
anos, é a mesma coisa. Fazer um
álbum sem relação com nosso
passado só porque estamos dez
anos mais velhos seria errado".
Em seu quinto disco, "Push the
Button", Rowlands e Simons partem de diversos gêneros, desde
rock e rap até trilhas sonoras de
filmes de Bollywood, para criar
uma colagem de hinos. "Nos anos
90, nossos discos falavam de escapismo e privação sensorial", reflete Simons. "A gente falava em se
afastar do mundo. Mas hoje não
dá para continuar assim. As pessoas andam mais politizadas, e
com razão. Nós refletimos muito
se isso era a coisa certa a fazer
-afinal, declarar algo tão explícito representa uma mudança
grande para nós-, mas agora temos orgulho do que fizemos."
Nem por isso Simons tem certeza quanto à sua necessidade de
evoluir. "Não acho que a música
tenha a responsabilidade de refletir os tempos em que vivemos. Algumas das melhores músicas já
foram totalmente desligadas de
seu tempo. Além disso, a música
dance sempre vai ser relevante,
porque, não importa o que estiver
acontecendo no mundo, as pessoas vão se reunir para dançar."
Defender a música dance é algo
que eles estão acostumados a fazer. Seu lugar na história do gênero pode estar garantido, mas, com
a queda de popularidade dele, seu
papel no futuro da música é mais
incerto. "Nunca me imaginei fazendo outra coisa", diz Rowlands.
"Em 20 anos, garanto que ainda
estarei fazendo música. É avassalador. É uma sensação de que não
estamos dispostos a abrir mão."
Tradução Clara Allain
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