São Paulo, sexta-feira, 04 de fevereiro de 2005

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MÚSICA

Dupla comenta o seu quinto disco, mais politizado e sintonizado com o mundo, e discute sobre o futuro do gênero

Chemical Brothers sai do escapismo dance

FIONA STURGES
DO "INDEPENDENT"

Eles podem ser a maior novidade na dance music desde a invenção do mixer, mas não seria fácil identificar os integrantes do Chemical Brothers -Tom Rowlands, 33, e Ed Simons, 34- numa multidão. Graças às muitas horas reorganizando os arquivos de seu computador, Simons poderia passar por professor. Já Rowlands é vagamente reconhecível, com seus habituais óculos coloridos. Mas mais ar livre lhe faria bem.
A entrevista acontece no The Social, clube num porão do centro de Londres onde, 11 anos atrás, com o nome de The Dust Brothers, Simons e Rowlands fizeram história, demonstrando seu pouco caso com as fronteiras musicais ao mixar "My Bloody Valentine" com "Grandmaster Flash" e "Love Unlimited".
Enquanto grupos afundam com cada nova tendência, o Chemical Brothers se mantém como uma das poucas constantes desse cenário de mutação. Já venderam quase 7 milhões de álbuns e tiveram 13 músicas entre os sucessos das paradas do Reino Unido, duas delas chegando ao topo da lista. Suas apresentações ao vivo ganharam status mítico, sendo que o show que fizeram em Glastonbury em 2000 teve o maior público da história do festival.
Os dois se conheceram em 1989, na Universidade de Manchester, durante uma palestra sobre literatura medieval. Rowlands comenta: "O qualificativo de nerd é algo que costuma nos acompanhar, mas gosto de não me enquadrar na idéia de como deve ser um músico de dance. Em todo caso, nunca quisemos ser astros do rock".
Rowlands e Simons falam muito em "nós". Depois de passar tanto tempo trabalhando juntos, se tornaram um espécie de casal, cada um sintonizado com as idiossincrasias do outro, embora haja discussões acaloradas. Quando Simons diz que pensou em adaptar seu som, à medida que ficarem mais velhos, para algo menos frenético, Rowlands exclama: "Isso nunca me passou pela cabeça! Ainda curto muito um som barulhento. As coisas não desligam só porque você chegou a uma determinada idade. Há manhãs em que acordo com vontade de ouvir Ramones. Outros dias posso ter vontade de ouvir Nick Drake. Você pode ter 17 ou 37 anos, é a mesma coisa. Fazer um álbum sem relação com nosso passado só porque estamos dez anos mais velhos seria errado".
Em seu quinto disco, "Push the Button", Rowlands e Simons partem de diversos gêneros, desde rock e rap até trilhas sonoras de filmes de Bollywood, para criar uma colagem de hinos. "Nos anos 90, nossos discos falavam de escapismo e privação sensorial", reflete Simons. "A gente falava em se afastar do mundo. Mas hoje não dá para continuar assim. As pessoas andam mais politizadas, e com razão. Nós refletimos muito se isso era a coisa certa a fazer -afinal, declarar algo tão explícito representa uma mudança grande para nós-, mas agora temos orgulho do que fizemos."
Nem por isso Simons tem certeza quanto à sua necessidade de evoluir. "Não acho que a música tenha a responsabilidade de refletir os tempos em que vivemos. Algumas das melhores músicas já foram totalmente desligadas de seu tempo. Além disso, a música dance sempre vai ser relevante, porque, não importa o que estiver acontecendo no mundo, as pessoas vão se reunir para dançar."
Defender a música dance é algo que eles estão acostumados a fazer. Seu lugar na história do gênero pode estar garantido, mas, com a queda de popularidade dele, seu papel no futuro da música é mais incerto. "Nunca me imaginei fazendo outra coisa", diz Rowlands. "Em 20 anos, garanto que ainda estarei fazendo música. É avassalador. É uma sensação de que não estamos dispostos a abrir mão."


Tradução Clara Allain


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