São Paulo, sexta-feira, 04 de fevereiro de 2011

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cinema

"O Vencedor" transporta para as telas o Rocky Balboa da vida real

História de ex-boxeador americano Micky Ward tem potencial para justificar uma sequência

Com vida digna de roteiro de Holywood, lutador medíocre só ficou famoso por seus últimos cinco combates


Divulgação
O lutador Micky Ward (Mark Wahlberg, esq.) com o irmão, Dick Eklund (Christian Bale)

EDUARDO OHATA
DO PAINEL FC

Não se trata de um filme sobre um campeão ""de verdade", tampouco de alguém com grande chance de um dia estar no Hall da Fama.
""O Vencedor" conta é a história do ""Irlandês" Micky Ward, boxeador norte-americano, colarinho azul, que pode ser definido como o Rocky Balboa (personagem da série ""Rocky") do universo real.
Esqueça o cinturão de papel que Ward conquista no filme, o da irrelevante União Mundial de Boxe. Na disputa de um título de real importância, o da Federação Internacional de Boxe, perdeu por nocaute em três assaltos.
O cartel final de sua carreira, 38 vitórias e 13 derrotas, não esconde o fato de que durante a maior parte dela ele foi um lutador apenas medíocre, frequentemente usado como escada.
Mas, como um roteiro digno de Holywood, foi em seus últimos cinco combates que ganhou fama -no confronto com o compatriota Emmanuel Burton e na trilogia histórica com o canadense Arturo Gatti. Alguns dos duelos foram eleitos ""luta do ano".
Foi fielmente retratado o tumultuado relacionamento de Ward com sua família, especialmente com a mãe dominadora e com o meio-irmão e técnico Dick Eklund.
O filme lembra que este, um ex-viciado, foi personagem do episódio ""High on Crack Street", de uma série de documentários da TV.
A decadência de Eklund é enorme. Apesar de parecer exagero, ele era, de fato, reverenciado na região de Lowell, a sua cidade natal.
Muito disso pelo fato de o ídolo local ter aguentado dez assaltos com o futuro superstar ""Sugar" Ray Leonard. A torcida -e Eklund- festeja um escorregão do medalhista olímpico como se tivesse sido uma queda legítima, um detalhe recorrente no roteiro.
Outro momento nada edificante capturado foi a briga de Eklund e Ward com policiais, que culmina com uma fratura na mão direita de Ward. A deformidade ainda era visível anos mais tarde.
Algumas adaptações foram necessárias para dar ritmo ao filme ou gerar emoção.
O golpe feijão-com-arroz de Ward, o gancho de esquerda, é usado poucas vezes nas cenas de luta, invariavelmente como o soco que vira o combate e o salva.
Ward não guardava esse golpe para momentos especiais: era o soco mais corriqueiro e eficiente de seu arsenal. As passagens de Eklund por várias instituições penitenciárias foram condensadas em apenas uma.
Estranhamente, foi omitida sua trilogia com Gatti, origem de sua celebridade.
A história dá margem a uma sequência, agridoce. Por um lado, Ward alcançou a independência financeira, se casou com a namorada e teve uma filha. Por outro, meses após se aposentar, o ""Irlandês" ainda reclamava de visão embaçada, sequela dos últimos combates.
E Gatti, de quem Ward ficou amigo e cuja equipe passou a integrar, morreu no Brasil, em 2009.


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