|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Série coordenada por Charles Gavin reedita obscuridades de Batatinha, Anamaria & Mauricio, Zé Maria e outros
"Arquivos" chegam ao lado B do lado B
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em mais uma etapa da série de
relançamentos "Arquivos
Warner", o músico (dos Titãs)
Charles Gavin seleciona 11 títulos
de quase total obscuridade, recolhidos dos acervos das extintas
Continental e Chantecler.
Na ponta mais visível está a coletânea "Os Demônios da Garoa
Interpretam Adoniran Barbosa",
lançada originalmente em 74. Do
samba paulista de Adoniran e dos
Demônios, ele viaja até o samba
baiano de Batatinha, só não totalmente esquecido devido a intermitentes regravações de Maria
Bethânia e Caetano Veloso. "Toalha da Saudade", de 76, é o primeiro disco solo do tristíssimo
sambista, de amarguras amargas
como "Hora da Razão", "Espera",
"Ironia" e "Indecisão".
Os admiradores da jovem guarda (mas só eles) hão de se lembrar
dos grupos The Jet Blacks e The
Clevers (depois rebatizados Os
Incríveis). Deles são relançados os
discos de bailinho "Top Top Top"
(65) e "Dançando com The Clevers Volume 3" (64).
No mais, a série é feita de mistérios do arco-da-velha, selecionados por Gavin em razão do interesse que despertam na Europa e
no Japão nomes aqui desprezados
das cercanias da bossa nova.
"Tudo Azul - Bossa Nova e Balanço" (63), creditado a Zé Maria
e Seu Órgão, é o mais incrível. Era
a confluência maluca entre bossa,
suingue negro e jovem guarda,
ostentando um grande trunfo: a
voz de um Jorge Ben que ainda
nem lançara seu primeiro LP, em
versões pré-históricas de "Mas
que Nada" e "Por Causa de Você,
Menina". De mirada parecida, são
os hoje secretos "Samba Toff"
(64), de Renato Perez, e "Zezinho
e Seu Sombalanço" (65).
Na bossa mais tradicional, surgiram e desapareceram uns tais
Sérgio Augusto e Sônia Rosa. O
primeiro, inspirado em João Gilberto, vinha com "Barquinho Diferente", equivocadamente registrado na reedição como sendo de
61 ("Sonho de Maria", de Marcos
Valle, só foi lançada em 63). A segunda, embalada em voz quase
infantil, lançava-se fora de época,
em 67, com "A Bossa Rosa de Sônia". Foi dali para nunca mais.
E a série relança, enfim, "No No
No... Estamos na Nossa" (70) e
"Vol. 2" (72), de Anamaria &
Mauricio. O trabalho da dupla
pertencia à verve da versão anos
70 de Marcos Valle (com quem
Anamaria cantara nos 60), dosando bossa nova, pilantragem de Simonal, black music e muita elaboração de arranjos. Injustamente, foram do anonimato ao anonimato. E voltam para mais 15 minutos de semi-anonimato.
Arquivos Warner
Artistas: Anamaria & Mauricio,
Batatinha, Clevers, Demônios da Garoa,
Jet Blacks, Renato Perez, Sérgio Augusto,
Sônia Rosa, Zé Maria, Zezinho (11 CDs)
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 20, em média, cada título
Texto Anterior: Televisão: Cartola e Dona Zica revivem na Cultura Próximo Texto: Bernardo Carvalho: Entre o paternalismo e o medo Índice
|