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São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2003

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MÚSICA

Série coordenada por Charles Gavin reedita obscuridades de Batatinha, Anamaria & Mauricio, Zé Maria e outros

"Arquivos" chegam ao lado B do lado B

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em mais uma etapa da série de relançamentos "Arquivos Warner", o músico (dos Titãs) Charles Gavin seleciona 11 títulos de quase total obscuridade, recolhidos dos acervos das extintas Continental e Chantecler.
Na ponta mais visível está a coletânea "Os Demônios da Garoa Interpretam Adoniran Barbosa", lançada originalmente em 74. Do samba paulista de Adoniran e dos Demônios, ele viaja até o samba baiano de Batatinha, só não totalmente esquecido devido a intermitentes regravações de Maria Bethânia e Caetano Veloso. "Toalha da Saudade", de 76, é o primeiro disco solo do tristíssimo sambista, de amarguras amargas como "Hora da Razão", "Espera", "Ironia" e "Indecisão".
Os admiradores da jovem guarda (mas só eles) hão de se lembrar dos grupos The Jet Blacks e The Clevers (depois rebatizados Os Incríveis). Deles são relançados os discos de bailinho "Top Top Top" (65) e "Dançando com The Clevers Volume 3" (64).
No mais, a série é feita de mistérios do arco-da-velha, selecionados por Gavin em razão do interesse que despertam na Europa e no Japão nomes aqui desprezados das cercanias da bossa nova.
"Tudo Azul - Bossa Nova e Balanço" (63), creditado a Zé Maria e Seu Órgão, é o mais incrível. Era a confluência maluca entre bossa, suingue negro e jovem guarda, ostentando um grande trunfo: a voz de um Jorge Ben que ainda nem lançara seu primeiro LP, em versões pré-históricas de "Mas que Nada" e "Por Causa de Você, Menina". De mirada parecida, são os hoje secretos "Samba Toff" (64), de Renato Perez, e "Zezinho e Seu Sombalanço" (65).
Na bossa mais tradicional, surgiram e desapareceram uns tais Sérgio Augusto e Sônia Rosa. O primeiro, inspirado em João Gilberto, vinha com "Barquinho Diferente", equivocadamente registrado na reedição como sendo de 61 ("Sonho de Maria", de Marcos Valle, só foi lançada em 63). A segunda, embalada em voz quase infantil, lançava-se fora de época, em 67, com "A Bossa Rosa de Sônia". Foi dali para nunca mais.
E a série relança, enfim, "No No No... Estamos na Nossa" (70) e "Vol. 2" (72), de Anamaria & Mauricio. O trabalho da dupla pertencia à verve da versão anos 70 de Marcos Valle (com quem Anamaria cantara nos 60), dosando bossa nova, pilantragem de Simonal, black music e muita elaboração de arranjos. Injustamente, foram do anonimato ao anonimato. E voltam para mais 15 minutos de semi-anonimato.

Arquivos Warner   
Artistas: Anamaria & Mauricio, Batatinha, Clevers, Demônios da Garoa, Jet Blacks, Renato Perez, Sérgio Augusto, Sônia Rosa, Zé Maria, Zezinho (11 CDs)
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 20, em média, cada título

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