São Paulo, sexta-feira, 04 de março de 2005

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"O VÔO DA FÊNIX"

John Moore mescla estilos para narrar queda de avião no deserto

PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O deserto é elemento dramático no cinema, e a prova já aparecia no desfecho de "Ouro e Maldição", de Erich von Stroheim (1924). Já o avião é na maior parte das vezes peça para ação, nos gêneros de aventura e guerra. Há, daí, filmes sobre aviões no deserto, que mesclam desespero e ação, como "O Paciente Inglês" e este "O Vôo da Fênix".
Em ambos os casos temos aviões espatifados em areias desérticas, mas a imagem do C-119 mergulhado no deserto de Góbi ilustra melhor os caminhos adotados pelo diretor (expert em aviação) de "O Vôo da Fênix", longa que não vai no rastro do dramalhão "O Paciente Inglês", mas do humor e adrenalina de "Air America - Loucos pelo Perigo", com Mel Gibson, e da tensão dos filmes-catástrofe como "Vivos - O Milagre dos Andes".
Não estamos numa releitura desses filmes, então, mas sim numa obra pilotada pelo diretor John Moore que capta semelhanças com eles. A história ilustra isso melhor. Um avião é enviado à Mongólia para retirar o pessoal de uma empresa petrolífera que decretou inviável continuar prospectando no local. Fecham-na a contragosto da equipe, e os conflitos já começam em terra, com o piloto Frank Towns (Dennis Quaid) fazendo a lei de embarque ali. Levantam vôo e enfrentam uma tempestade de areia, forçando um pouso no meio do nada, com morte e ferimentos. Até o mergulho do avião na areia, já tivemos pop-country embalando a sua chegada à base, tensão, morte explícita, tudo isso com posições de câmera e montagem distintas.
São nessas e outras que surgem problemas, como numa outra seqüência de morte, na qual uma câmera lenta é acompanhada por uma world music comum a cenas de ação. Ainda assim, há um personagem-síntese do filme, Elliot (Giovanni Ribisi) que parece porta-voz dos desejos cinematográficos do diretor. Esquisito, Elliot será pateta numa cena, genial em outra, mais tarde psicótico, para inacreditavelmente soltar uma piada em meio a um conflito.
É dele a idéia de construírem um avião a partir do que sobrou do outro. O maluco acredita que fará dos destroços algo como uma fênix, a ave mitológica que renasce das cinzas. Ele unifica as pessoas que até então brigavam e chefia este empreendimento simbólico com punho de aço. Grande ilustração que Elliot faz sobre os estilos múltiplos de "O Vôo da Fênix", assumindo o papel de seu criador, John Moore, como o diretor amante de aviões comandando sua equipe no deserto.


O Vôo da Fênix
Flight of the Phoenix
  
Direção: John Moore
Produção: EUA, 2004
Com: Dennis Quaid, Tyrese Gibson
Quando: a partir de hoje nos cines Penha, Shopping D e circuito


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