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LIVROS
ESTUDO
Organizado por Demétrio Magnoli, "História das Guerras" traz 15 textos
Compilação revê conflitos que mudaram os rumos do mundo
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Há uma moral comum e há
uma moral política. O Maquiavel mais básico é útil ao fornecer um arcabouço filosófico para entender as guerras. Do ponto
de vista da moral comum, a guerra é imoral; do ponto de vista da
moral política, é história. "Guerra
é cultura", resume o sociólogo e
colunista da Folha Demétrio
Magnoli, na apresentação de
"História das Guerras", que ele
organizou.
Magnoli traça uma linha divisória entre as perspectivas americana e européia. Nos Estados Unidos, a visão moralista que orienta
a política externa não pode ser explicada nos limites da razão geopolítica. Os americanos têm um
sentido de missão, acham-se predestinados a defender a liberdade.
Na Europa, a história é outra. "Os
europeus nunca acreditaram que
a liberdade, a justiça ou outro valor universal possa servir de norte
para a política externa das nações.
Eles sempre curvaram-se ao primado do interesse nacional."
Missão ou interesse, não necessariamente excludentes, são a
mola propulsora dos 15 conflitos
tratados no livro, desde a guerra
do Peloponeso, no século 5 antes
de Cristo, até a do Golfo, cujos
desdobramentos ainda alimentam o noticiário. O denominador
comum é o fato de as guerras em
questão terem resultado em mudanças fundamentais de rumo na
trajetória da humanidade.
O formato do livro, ao dedicar
entre 20 e 30 páginas a cada guerra, induz os autores a adotar um
tom apostilar. Em muitos momentos, porém, os textos mergulham na análise e se transformam
em verbetes enciclopédicos. No
artigo sobre a guerra do Peloponeso, por exemplo, a disputa entre Atenas e Esparta é apresentada
como a primeira travada num
contexto da democracia. Atenas
teve a sua estratégia limitada por
essa circunstância, o que provou
ser desastroso.
O livro ajuda a desfazer preconceitos. O texto sobre as invasões
bárbaras começa por apontar a
expressão pejorativa pela qual conhecemos a série de conquistas
que abalou o império romano.
"Bárbaro" é sempre considerado
do ponto de vista do "não-bárbaro", daquele que se identifica com
o mundo romano, como nota o
autor, José Rivair Macedo.
Se há um senhor da guerra que
merece destaque é Napoleão Bonaparte. O general e mais tarde
imperador é apresentado como
aquele que se impôs como solução para os problemas que a Revolução Francesa não conseguia
resolver. Vem daí o termo "bonapartismo", que designa o sistema
político baseado numa ditadura
militar popular. Na visão marxista, não mencionada explicitamente pelo autor, Marco Mondaini, o bonapartismo ocorre quando nenhuma classe domina a sociedade e se faz necessário proteger a propriedade privada. É esse
o sentido do Código Civil que as
guerras napoleônicas ajudaram a
difundir.
O capítulo sobre a guerra do Paraguai, de Francisco Doratioto, é
um resumo de seu livro "Guerra
Maldita", que estabeleceu a melhor interpretação do conflito. O
livro derruba visão marxista, em
voga nos anos 70, que, para atingir a ditadura, atacava a figura de
Duque de Caxias, patrono do
Exército, e apresentava Solano
López como líder progressista.
"História das Guerras" pode ser
lido de ponta a ponta, mas é sobretudo uma obra de referência.
Oscar Pilagallo é jornalista, editor das
revistas "EntreLivros" e "História Viva" e
autor de "A História do Brasil no Século
20" (em cinco volumes, pela Publifolha)
História das Guerras
Organizador: Demétrio Magnoli
Editora: Contexto
Quanto: R$ 55 (480 págs.)
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