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CRÍTICA/POLICIAL
Preocupação social enfraquece bom romance de George Pelecanos
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em "Preto no Branco",
George Pelecanos retoma o
protagonista de "Revolução Difícil", Derek Strange, situando a
trama da narrativa algumas décadas depois. Assim como no outro
romance, a questão racial também é bastante presente aqui,
uma vez que o agora detetive particular precisa descobrir o que se
passou de fato na morte de um
policial negro que foi "assassinado" por um policial branco.
Para ajudá-lo na investigação,
ele recorre ao "assassino", Terry
Quinn, que depois se torna parceiro de Strange em outros livros.
É esse artifício o principal achado da obra. O leitor sabe desde o
início quem é a principal vítima e
quem é o responsável pelo tiro
que a matou. Resta entender melhor como as coisas chegaram até
esse ponto e, para tanto, o culpado precisará ajudar Strange a reconstruir a história ao mesmo
tempo em que lida com a consciência de que talvez a cor de sua
vítima tenha algo a ver com o fato
de o tiro fatal ter sido disparado.
Pelecanos se tornou nos últimos
anos um dos principais nomes da
literatura policial norte-americana. Deixa evidente em entrevistas
o seu desejo de escrever romances
de "cunho social", bem como
busca retraçar em cada obra uma
espécie de painel da cultura de entretenimento recente dos EUA,
fazendo seu personagem principal discutir incessantemente músicas ou filmes, por exemplo.
É, em suma, um bom escritor
com uma imensa agenda de
"obrigações". Sem ela, seus livros
provavelmente seriam ainda melhores, e os conflitos neles discutidos, talvez menos ajustados e
mais interessantes. Mas trata-se
de um autor que se lê sem a irritação e o cansaço tão comum em
quem acompanha o gênero.
Quem sabe, aliás, se não é esse
perfil que fez com que "Preto no
Branco" tenha sido comprado
por uma grande empresa cinematográfica. A adaptação está a caminho, e o filme será dirigido por
Curtis Hanson, diretor de "Los
Angeles - Cidade Proibida".
Adriano Schwartz é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP-Leste
Preto no Branco
Autor: George Pelecanos
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 39,50 (360 págs.)
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