São Paulo, sábado, 04 de março de 2006

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CRÍTICA/POLICIAL

Preocupação social enfraquece bom romance de George Pelecanos

ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em "Preto no Branco", George Pelecanos retoma o protagonista de "Revolução Difícil", Derek Strange, situando a trama da narrativa algumas décadas depois. Assim como no outro romance, a questão racial também é bastante presente aqui, uma vez que o agora detetive particular precisa descobrir o que se passou de fato na morte de um policial negro que foi "assassinado" por um policial branco.
Para ajudá-lo na investigação, ele recorre ao "assassino", Terry Quinn, que depois se torna parceiro de Strange em outros livros.
É esse artifício o principal achado da obra. O leitor sabe desde o início quem é a principal vítima e quem é o responsável pelo tiro que a matou. Resta entender melhor como as coisas chegaram até esse ponto e, para tanto, o culpado precisará ajudar Strange a reconstruir a história ao mesmo tempo em que lida com a consciência de que talvez a cor de sua vítima tenha algo a ver com o fato de o tiro fatal ter sido disparado.
Pelecanos se tornou nos últimos anos um dos principais nomes da literatura policial norte-americana. Deixa evidente em entrevistas o seu desejo de escrever romances de "cunho social", bem como busca retraçar em cada obra uma espécie de painel da cultura de entretenimento recente dos EUA, fazendo seu personagem principal discutir incessantemente músicas ou filmes, por exemplo.
É, em suma, um bom escritor com uma imensa agenda de "obrigações". Sem ela, seus livros provavelmente seriam ainda melhores, e os conflitos neles discutidos, talvez menos ajustados e mais interessantes. Mas trata-se de um autor que se lê sem a irritação e o cansaço tão comum em quem acompanha o gênero.
Quem sabe, aliás, se não é esse perfil que fez com que "Preto no Branco" tenha sido comprado por uma grande empresa cinematográfica. A adaptação está a caminho, e o filme será dirigido por Curtis Hanson, diretor de "Los Angeles - Cidade Proibida".


Adriano Schwartz é professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP-Leste

Preto no Branco
   
Autor: George Pelecanos
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 39,50 (360 págs.)


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