São Paulo, sexta-feira, 04 de março de 2011

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Última Moda

VIVIAN WHITEMAN, em Milão - ultima.moda@grupofolha.com.br

Milão em pé de guerra

REFERÊNCIAS MILITARES E UM BOMBARDEIO DE PELES ECOUROS TOMAM CONTA DAS PASSARELAS NA SEMANA DE MODA ITALIANA

Os ecos da semana de moda de Milão, que terminou na última segunda-feira, ganharam tintas mais fortes com o escândalo protagonizado pelo estilista John Galliano, demitido da Dior por conta de seus comentários em defesa de Hitler e dos horrores do nazismo.
Numa onda iniciada na fashion week de Nova York, as referências militares e dos anos 30 e 40 (período em que ocorreu a Segunda Guerra Mundial, 1939-1945) tomaram as passarelas italianas.
Os uniformes apareceram de forma literal ou diluída nos principais desfiles da temporada. Quepes, capas e botas longas e pesadas foram alguns dos elementos acionados pelas grifes nessa temporada inverno 2011.
Junto com esses itens, a fashion week milanesa fez ressurgir com força absoluta o culto às peles e ao couro. A cobra, especialmente, apareceu muito, dos desfiles um tanto soturnos da Gucci e da Prada à ensolarada Missoni.
A pele e o couro são materiais sugestivos e figuram entre os fetiches mais antigos da moda. Estão relacionados com, entre muitas outras coisas, sentimento de dominação e poder, uma espécie de triunfo sobre o inimigo, que traz como suvenir o "escalpo" do derrotado.
Em contrapartida à dureza dos elementos que fazem lembrar os uniformes de nazistas e fascistas -peças que se tornaram objeto do culto estético mais controverso do mundo-, a pele aparece sob a luz de um glamour nostálgico e melancólico.
Na Itália, esse balaio de tiranias tem ainda um outro elemento: a luta das feministas contra o premiê-cafajeste Silvio Berlusconi, ou, de forma mais ampla, mulheres contra a opressão patriarcal.
No desfile da Dolce & Gabbana, esse embate tomou uma forma interessante: as mulheres sempre sexies e decotadas da grife dividiam espaço com moças vestidas de machões caricatos, como se, para tomarem as rédeas, elas precisassem usar o uniforme do "inimigo".

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O LIVRO SECRETO DE MIUCCIA

Ok, Miuccia Prada resolveu evocar todo o repertório sexy-pervertido em sua coleção, apresentada em Milão.
O pacote completo estava lá: peles, couros exóticos, roupinhas de moças teoricamente comportadas, todas as fantasias embrulhadas para presente. Para os padrões intelectuais de Miuccia, tudo parecia simples demais.
Eis que um detalhe, chama a atenção: as modelos entram apertando suas bolsinhas Prada contra o peito, com pulso firme.
A escritora e analista cinematográfica Sarah Street escreveu muitos artigos sobre o papel simbólico das bolsas nos filmes de Alfred Hitchcock. Deixando de lado as questões específicas das tramas, ela diz que as bolsas, em geral, têm um significado emancipatório para as mulheres. São símbolos de liberdade, inclusive sexual.
Diante do panorama machista do berlusconismo, é como se as moças de Miuccia dissessem: não é porque eu sou sexy e te provoco com a minha roupa que você vai me dominar. Na minha "bolsa", mando eu.

com PEDRO DINIZ


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