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Chile comercializa
Carmenère por Merlot
JORGE CARRARA
especial para a Folha
Para surpresa de muitos, uma
boa parte dos Merlot chilenos talvez não esteja sendo elaborada
com essa renomada uva francesa.
Muito pelo contrário, alguns
desses deliciosos tintos do Chile
-que tanto espaço têm ganho nos
últimos anos no paladar dos apreciadores- podem ter sua origem
nos cachos da uva Carmenère,
uma outra cepa também oriunda
da região de Bordeaux.
O equívoco, segundo a revista
norte-americana "Wine & Spirits", começou a ser descoberto
no início da década de 90 por especialistas franceses convidados, na
época, tanto por entidades chilenas como pelos próprios vitivinicultores, para dar consultoria na
identificação dos vinhedos do país.
Decepção
Um dos decepcionados pela revelação foi Augustin Huneeus,
proprietário da Franciscan Vineyards, que acabou comprovando
que seus terrenos no Vale de Casablanca, que acreditava plantados
com uva Merlot (uma coqueluche
no mercado norte-americano, seu
alvo principal), estavam quase totalmente cobertos de Carmenère.
Ambas variedades foram introduzidas em meados do século passado. Mas, de acordo com Huneeus, a Carmenère acabou mais
difundida por ser mais vigorosa
que a Merlot no Chile.
O governo chileno, porém, ainda
não reconheceu a cepa. Nos certificados de exportação, os vinhos
-para alívio de Huneeus e do resto dos exportadores- constarão
ainda como Merlot, uma variedade em alta no mercado.
Carmenère por Merlot
A nova cepa descoberta do outro
lado dos Andes tem na realidade
uma história antiga. A Carmenère
(ou Grande Vidure, como também
é chamada) foi muito utilizada na
região de Bordeaux no século 18,
sendo conhecida pela qualidade
dos seus vinhos e tendo ajudado a
dar fama a muitas das propriedades da região francesa.
No fim do século 19, a filoxera
(um pulgão que ataca as raízes das
videiras acabando por matá-las)
desbasta os vinhedos de Bordeaux
e, após o replantio das propriedades, a cepa (por ser mais suscetível
às pragas), perde lugar para outras
mais resistentes como a Merlot e a
Cabernet Sauvignon.
Visto deste outro ângulo, o incidente enriquece o panorama vinícola do Chile. O país adiciona mais
uma cepa européia (praticamente
extinta) a sua coleção de uvas nobres e coloca no planeta mais uma
opção para o consumidor -algumas vinícolas já lançaram varietais
Carmenère e Grande Vidure.
De quebra, a confusão nos vinhedos dá ao reino de Baco uma
versão mais condizente com a bebida do que o conhecido "dar gato
por lebre": a de vender Carmenère por Merlot.
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