São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2000


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SHOW CURITIBA, 1º/4
Morrissey é atacado por flores e revida com lirismo

Márcio Machado/Folha Imagem
O cantor inglês Morrissey em apresentação em Curitiba, sábado


LÚCIO RIBEIRO
enviado especial a Curitiba

É sábado à noite. Você vai a um show de rock e na porta é vendida, em meio a camisetas da turnê, uma pilha de fronhas de travesseiro com o rosto do artista estampado. Perto do rosto, uma poesia.
Você entra no lugar e segue rumo à lanchonete. Vê hamburguer no cardápio e pede. Não tem. Pede hot dog. Não tem. O que tem? "Fomos avisados hoje de que o cantor não gosta de carne. Hoje só podemos vender pizza de mussarela", diz um funcionário do bar.
Chega a hora de ir para perto do palco. O show vai começar. E boa parte da audiência de 2.000 pessoas passa a berrar o nome da atração da noite, freneticamente. Que show é esse em que a platéia grita enquanto tenta estabanadamente segurar em uma mão uma câmera fotográfica e, na outra, um ramo de flores?
O cantor aparece. O outrora salvador da música pop está velho, gordo, cabelo ralo. Saúda a platéia, tímido. Hoje ele não salva mais nada no pop, mas é bonito vê-lo desfilar canções românticas, sinceras, emocionadas, de sua carreira solo.
É hora de ele cantar músicas de sua ex-banda, uma que mudou a história da música jovem deste planeta, nos anos 80. O público delira.
Em um momento, o astro quarentão explica em melodia que comer carne é ser cúmplice de assassinato. "Meat is murder." Ele está ali para defender os animais, essas criaturas indefesas.
Na sequência, ele passa a homenagear outro tipo de criaturas indefesas: os desiludidos, desajustados, excluídos, desnorteados. Nas letras, palavras de melancolia e solidão.
O show acabou, todos saem satisfeitos. Mesmo inevitavelmente engolido pelo tempo, sem disco novo há três anos, futuro incerto, o cantor mostra que seu carisma de astro, por seus serviços prestados ao rock desde 1983, continua inabalado. Como o título de uma de suas canções, não presente no show desta turnê, "uma pequena coisa pode fazer uma grande diferença".
E Curitiba registrou assim a passagem do inglês Morrissey, o bardo da música pop, o sujeito que hoje tem suas letras estudadas em faculdades britânicas, que é reconhecido por gente séria como "o maior inglês vivo".
É raro, hoje, estar diante de um ídolo como Morrissey, que, se não é a última palavra em música jovem, tem o poder de contar no palco parte significante da história desta mesma música.
São Paulo tem sua última chance nesta noite. Amanhã é a vez do Rio. E depois acabou. Compareça. E, se der, leve flores.


Avaliação:     


Show: Oye Steban! Artista: Morrissey Quando: hoje, no Olympia; amanhã, no ATL Hall, no Rio de Janeiro Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, SP, tel. 0/ xx/11/3675-3999) Quanto: R$ 60 (pista), R$ 80 (setor C, mesas) e R$ 100 (camarote)

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