JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha

Ismail Merchant, o produtor britânico que costuma ser parceiro do cineasta James Ivory (``Vestígios do Dia''), aventura-se de vez em quando na direção.
É o caso deste ``O Regresso'', que conta a história de Adrienne Mark (Jeanne Moreau), uma velha escritora francesa de origem judaica que se desfaz de seu apartamento em Nova York e volta para Paris depois de décadas de exílio mais ou menos voluntário.
Adrienne tenta comprar de volta a casa que foi de sua mãe, morta pelos nazistas durante a ocupação da França. Seu retorno à velha casa tem o sentido de uma volta ao passado, em que tem presença central o padrasto colaboracionista.
Merchant aparentemente não confiou na força desse argumento e resolveu ``reforçá-lo'' com o acréscimo de um sem-número de tramas paralelas.
Numa dessas tramas, uma bela e vulgar produtora norte-americana (Sean Young) quer realizar uma refilmagem de um clássico baseado em romance de Marienne.
As relações entre a velha escritora, representante de uma antiga cultura humanista européia, e a jovem produtora, representante do mais grosseiro pragmatismo hollywoodiano, poderia render um bom filme.
O problema é que Merchant demonstra não ter a menor noção de unidade e economia estéticas. A única operação que ele parece conhecer é a adição.
Personagens, situações, cenas, estilos -tudo vai se amontoando desordenadamente, e o resultado é uma mixórdia sem densidade, sem clareza e sem emoção.
Aliás, Merchant é daqueles cineastas que, à falta de paixão verdadeira, tentam insuflar a emoção por meio de um uso abusivo de música melosa.
Para não dizer que o filme é nulo, há a presença agradável de Jeanne Moreau, que parece ter dirigido a si própria.
Pensando bem, uma estrela é até uma cotação generosa para esse cinemão invertebrado.

Filme: O Regresso (The Proprietor) Produção: Inglaterra/EUA, 1995 Direção: Ismail Merchant
Com: Jeanne Moreau, Sam Waterson, Sean Young, Nell Carter Quando: a partir de hoje no Cinearte 2
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