São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2000


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Cozinha portuguesa para todos os gostos

HAMILTON MELLÃO JR.
Colunista da Folha

Quem pode e sabe viajar conhece a excelência das pousadas portuguesas, principalmente quanto à comida nelas servida: a culinária genuína, autêntica e imutável há quase 300 anos, executada e servida com galhardia e amor, ingredientes atávicos na hospitalidade lusitana.
O Boa Mesa 2000, além das muitas atrações imperdíveis, traz um bônus para os gourmets paulistanos recebendo os chefs das melhores pousadas portuguesas. O pequeno (mas eclético) Portugal, com suas nuanças gastronômicas do norte, centro e sul, está representado neste evento em três restaurantes, cada qual revelando sabores e técnicas típicas da sua região.
O sul usa e abusa da criatividade para compensar o que a natureza não lhe deu. Pão e ervas são basilares. As carnes, aproveitadas ao máximo. No restaurante instalado no Boa Mesa, as chefs Antonia e Maria da Luz mostram que têm excelente formação tanto na cozinha quente quanto na doçaria.
Experimente o pé de coentrada (pézinho de porco perfumado de coentro e alho). Para coroar, doces conventuais: barriga de freira e encharcada, a maravilhosa alquimia portuguesa feita de ovos e açúcar, elevada ao quase divino.
O parque industrial português está no norte, a região mais rica do país. E também a de clima mais frio. Sua cozinha, portanto, é elaborada e pungente. Impensável não experimentar o coelho à fundador, prato que já recebeu vários prêmios, aqui executado pelo seu criador, Manoel Pereira.
A caça é marinada em vinho, funcho e tomilho, além do toicinho português. Para acompanhá-la, é obrigatória a parceria com um espumante tinto seco.
Confira também a sutileza com que Manoel trabalha os pratos de vitela e perdiz. O chef Augusto comete uma incrível caldeirada. E a Gracinda faz um toicinho do céu digno do nome.
A capital intelectual lusa fica no centro do país. E isso se reflete em pratos em que as outras duas outras regiões se fazem presentes, mas com um sotaque distinto. A brava Helena é especialista em pratos de porco e polvo.
Para os verdadeiros gourmets, aqueles que não têm preconceitos gustativos, o deleite é a cabidela de leitão -feita com o sangue do bacorinho. Portugal nos mostra, em São Paulo, que sua cozinha vai muito além do bacalhau, embora ele esteja presente em várias receitas dos restaurantes do Boa Mesa.
Nossa alma também se alimenta ao poder conversar com esses chefs, saber do amor que têm pela profissão e da sua consequente humildade, curtidos no tempero de uma saborosa melancolia.


E-mail: mellao@uol.com.br



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