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Cozinha portuguesa para todos os gostos
HAMILTON MELLÃO JR.
Colunista da Folha
Quem pode e sabe viajar conhece a excelência das pousadas portuguesas, principalmente quanto
à comida nelas servida: a culinária
genuína, autêntica e imutável há
quase 300 anos, executada e servida com galhardia e amor, ingredientes atávicos na hospitalidade
lusitana.
O Boa Mesa 2000, além das
muitas atrações imperdíveis, traz
um bônus para os gourmets paulistanos recebendo os chefs das
melhores pousadas portuguesas.
O pequeno (mas eclético) Portugal, com suas nuanças gastronômicas do norte, centro e sul, está
representado neste evento em três
restaurantes, cada qual revelando
sabores e técnicas típicas da sua
região.
O sul usa e abusa da criatividade
para compensar o que a natureza
não lhe deu. Pão e ervas são basilares. As carnes, aproveitadas ao
máximo. No restaurante instalado no Boa Mesa, as chefs Antonia
e Maria da Luz mostram que têm
excelente formação tanto na cozinha quente quanto na doçaria.
Experimente o pé de coentrada
(pézinho de porco perfumado de
coentro e alho). Para coroar, doces conventuais: barriga de freira
e encharcada, a maravilhosa alquimia portuguesa feita de ovos e
açúcar, elevada ao quase divino.
O parque industrial português
está no norte, a região mais rica
do país. E também a de clima
mais frio. Sua cozinha, portanto, é
elaborada e pungente. Impensável não experimentar o coelho à
fundador, prato que já recebeu
vários prêmios, aqui executado
pelo seu criador, Manoel Pereira.
A caça é marinada em vinho,
funcho e tomilho, além do toicinho português. Para acompanhá-la, é obrigatória a parceria com
um espumante tinto seco.
Confira também a sutileza com
que Manoel trabalha os pratos de
vitela e perdiz. O chef Augusto comete uma incrível caldeirada. E a
Gracinda faz um toicinho do céu
digno do nome.
A capital intelectual lusa fica no
centro do país. E isso se reflete em
pratos em que as outras duas outras regiões se fazem presentes,
mas com um sotaque distinto. A
brava Helena é especialista em
pratos de porco e polvo.
Para os verdadeiros gourmets,
aqueles que não têm preconceitos
gustativos, o deleite é a cabidela
de leitão -feita com o sangue do
bacorinho. Portugal nos mostra,
em São Paulo, que sua cozinha vai
muito além do bacalhau, embora
ele esteja presente em várias receitas dos restaurantes do Boa Mesa.
Nossa alma também se alimenta ao poder conversar com esses
chefs, saber do amor que têm pela
profissão e da sua consequente
humildade, curtidos no tempero
de uma saborosa melancolia.
E-mail: mellao@uol.com.br
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