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O mito é a mensagem
DA REDAÇÃO
Graças à sua imaterialidade e ao
uso imprevisível dos diversos
meios de expressão -de manifestos a HQs, de performances de
rua a aparições na televisão-, o
Projeto Luther Blissett, inaugurado na primavera de 1994 em algum lugar da Europa, conseguiu
sobreviver até hoje em países como Espanha, França, Inglaterra e
Brasil mesmo após a renúncia
simbólica ("seppuku") de seus
fundadores de Bolonha ao nome.
Assim como os zapatistas de
Chiapas, liderados pelo subcomandante Marcos -outra identidade que pode ser assumida por
mais de uma pessoa-, os envolvidos no projeto perceberam na
internet uma das ferramentas
mais eficientes nos dias de hoje
tanto para a convocação de pessoas quanto para a disseminação
de idéias e de mitos no mundo
globalizado.
Além de aparecer em programas de televisão, reportagens de
jornais, panfletos distribuídos na
Bienal de Veneza de 1997 e até selos de correio, o rosto gerado por
computador de Luther Blissett
tem-se espalhado -e transformado- diariamente pela rede
desde então, numa espécie de culto à figura de um dos primeiros
ícones literalmente virtuais do século 21.
Seu xará de carne e osso parece
não ter ficado muito honrado
com a fama póstuma. Ex-atacante
do Milan, da seleção inglesa de futebol e atual auxiliar técnico do
clube inglês Watford, o jamaicano
Luther Blissett -sim, ele existe-
nega qualquer relação com o movimento italiano e, por meio de
sua assessoria de imprensa, afirmou que não concederia entrevista sobre o assunto.
Em textos divulgados na internet, os responsáveis (?) pela escolha do nome afirmam que teria a
ver com a discriminação racial
que Blissett teria sofrido nos anos
em que jogou no Milan.
O fato é que, após a publicação
de "Q", seus autores também não
são mais Luther Blissett. Desde janeiro de 2000, atendem pelo nome de Wu-Ming, definindo-se como uma "empresa política autônoma" dedicada à narrativa. "54",
seu romance mais recente, chegou às livrarias italianas pela Einaudi e promete uma nova rodada de surpresas.
(DA)
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