São Paulo, terça-feira, 04 de maio de 2004

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MÚSICA

No Coachella Festival, grupos como Belle & Sebastian e Radiohead indicam a importância pop da banda americana

Com sua volta, Pixies provocam comoção

Rahav Segev/"The New York Times"
Frank Black, vocalista dos Pixies, no Coachella, na última sexta


LÚCIO RIBEIRO
ENVIADO ESPECIAL A ÍNDIO (EUA)

"Finalmente vou tocar no Brasil." A frase de Frank Black à Folha foi só e tudo o que o guitarrista e líder dos Pixies tinha a dizer cerca de duas horas antes de a cultuada banda subir ao palco do Coachella Festival para fazer história. Para si mesma e para o festival.
Um dos principais grupos de rock dos anos 80/90, os Pixies, agora de volta à ativa, são a maior atração do Curitiba Pop Festival, no próximo sábado, em show inédito no Brasil.
No Coachella, festival em um cenário paradisíaco no meio do deserto próximo à cidade de Índio, na Califórnia, a duas horas de carro de Los Angeles, a banda arrastou boa parte das 50 mil pessoas que quebraram em 15 mil o recorde de público do maior evento de música dos EUA, neste ano em sua quinta edição.
Algumas horas antes da apresentação na sexta, considerado o grande show da sonhada volta, a banda apareceu na área de imprensa do festival para falar a jornalistas pela primeira vez desde o anúncio do retorno, no começo deste ano. Os Pixies vinham tocando desde o último dia 13, em lugares pequenos nos EUA.
"No Brasil tocaremos em um festival, não é? Em Curitiba? Não tenho nada a ver com a idéia de tocar no Brasil. Não sabia de nada até terem marcado. Será ótimo, porque nunca estivemos juntos na América do Sul. Esse é o motivo de estarmos indo", respondeu a baixista Kim Deal à pergunta da Folha na reunião com a imprensa. Dissimulação ou não, Kim Deal tocou em 2003 no Curitiba Pop Festival com a banda Breeders e é considerada a responsável pelo "difícil" grupo desviar sua rota em plena badalada turnê mundial para o show no Brasil.
A banda afirmou estar se divertindo muito, como adolescentes, nessa nova fase de reconciliação. Os Pixies romperam em briga logo depois de excursionarem com a famosa Zoo TV Tour, do U2, em 1992, e saíram para carreiras solo sem mais se falarem.
A volta do grupo aos palcos, sem músicas novas e apenas tocando material de seus bombásticos quatro álbuns e um EP (1987 -1991), está sendo considerada "oportunista", "por dinheiro". Mas para a banda (e os fãs) o falatório não tem importância.
Tanto que a mais vendida camiseta no festival de Coachella, entre as das 82 atrações do evento, foi a dos Pixies, que continha nas costas a lista de shows da "Sellout Tour", a "turnê dos vendidos".
Uma espécie de comoção musical tomou conta do Coachella, por causa da apresentação dos Pixies. Todos os membros do grupo escocês Belle & Sebastian rondaram a tenda de imprensa para ouvir a entrevista dos Pixies, demonstrando apreço pela banda norte-americana.
A importância do que ainda pode representar os Pixies para a música hoje foi dada no show seguinte ao de Frank Black, Kim Deal e companhia. A certa hora do mais impressionante show do Coachella no sábado, o da megabanda inglesa Radiohead, Thom Yorke perguntou à platéia se ela havia gostado de ter visto os Pixies atuando. "Eu estava na faculdade quando os conheci. Os Pixies mudaram minha vida para sempre", afirmou Yorke.
A próxima parada dos Pixies é Curitiba, para 8.000 pessoas. Ainda há ingressos à venda.

O show
"Gigaaaaaantic, gigaaaaantic."
A entonação débil de Kim Deal no refrão de uma das mais aplaudidas canções dos Pixies no show de Coachella dava o exato tom do que significava estar diante daquela banda recomposta.
Por dinheiro, por diversão, por não ter nada melhor para fazer. Qualquer que seja o motivo do retorno dos Pixies à música pop vale o ingresso quando o show dos veteranos roqueiros mostra exímia competência nada perdida no tempo. E que ainda reúne pouco mais de uma hora de hits atrás de hits, canções marcantes para quem se alimentou de música após 1988, quando o primeiro CD, "Surfer Rosa", foi lançado.
O começo do show dos Pixies, disparado pela poderosa "Bone Machine" (a primeira do disco acima citado), fez acontecer o fenômeno dos celulares na música pop. Assim que Frank Black iniciou a cantoria um sem-número de pessoas no público acionaram o aparelho e o levantaram ao alto, como que dividindo aquele "momento mágico" com os que não estavam presentes.
"Pediram para a gente vir e estamos aqui para tocar algumas músicas para vocês." Frank Black saudava a platéia assim que posicionou sua guitarra para o começo do show. Fica fácil e segura a apresentação de uma banda como a de Frank Black, quando as músicas de sua banda carregam uma potência pop e um frescor que os anos de separação não conseguiram estragar.
Das cantadas em espanhol ("Isla de Encanto") aos sucessos ("Debaser", "Monkey Gone to Heaven"), o que se viu foi um Pixies seguro, afiado. E também barulhento, pesado. O mais peculiar é que a canção "Here Comes Your Man", o maior hit do grupo, foi a única que pareceu ter uma roupagem diferente, mais lenta.
Coachella, no final, revelou que ver com os próprios olhos o show que a banda dará em Curitiba vai jogar o consumidor pop do país na onda pop-surf-punk dos Pixies. Às pranchas, pois.


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