São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006

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TEATRO

Satyros ligam libertinagem à crise política

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

No seu espetáculo de origem, "Sade ou Noites com as Professoras Imorais" (1989), a cia. Os Satyros já disse a que veio. Numa das cenas de impacto, uma atriz urinava sobre um ator deitado. A montagem deu o que falar, para o bem e para o mal, no pequeno e extinto teatro Bela Vista, em SP.
A peça foi remontada como "A Filosofia na Alcova ou Noites com os Professores Imorais" (1993). Uma década depois, ressurgiu como "A Filosofia na Alcova", confirmando que aquele foi dos projetos mais marcantes em 16 anos de estrada do grupo, que hoje mora na praça Roosevelt.
Pois Donatien Alphonse François, o marquês de Sade (1740-1814), volta a guiar Os Satyros por uma de suas obras mais difíceis, o romance "Os 120 Dias de Sodoma ou a Escola de Libertinagem".
Quem dirige o clássico é o mesmo Rodolfo García Vásquez de 1989, quando, em parceria com Ivam Cabral, jogou luz sobre o desejo manifesto em Sade na esteira da descoberta do vírus da Aids.
Agora, o recorte é pela imoralidade explícita na política, o prato cheio da crise brasileira. (Em "Antígona", de 1994, Vásquez emparelhava o poder de destruição do rei Creonte ao belicismo de George W. Bush).
A ação se passa algumas décadas antes da Revolução Francesa. Quatro libertinos da alta sociedade organizam uma maratona de encontros num castelo, embalados por meninos e meninas virgens (raptados), contadoras de histórias, empregados, damas de companhia etc. São 21 atores.
Entre os desafios de encenar "Os 120 Dias de Sodoma", que o italiano Pasolini levou ao cinema em 1975, está a difícil aproximação do Brasil com a França pré-revolucionária.
"Afinal, apesar de ainda vivermos resquícios feudais e de termos uma das mais injustas distribuições de renda do mundo, acreditamos piamente que somos um país moderno", afirma Vásquez.


Os 120 Dias de Sodoma
Quando: estréia amanhã, às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h30
Onde: Espaço dos Satyros Dois (pça. Franklin Roosevelt, 124, tel. 3258-6345)
Quanto: R$ 35



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