Datada de 1917, "Ascensão" possui forma "cíclica", com recorrência de temas

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No ano em que se comemora o 120º aniversário de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), o melhor presente vem da Alemanha: o selo CPO lançou a primeira gravação mundial da "Sinfonia nº 2" do maior compositor brasileiro de todos os tempos.
Foi entre os anos de 1998 e 2000 que o regente texano Carl St. Clair promoveu a empreitada de registrar, pela primeira vez em disco, a integral das 11 sinfonias de Villa-Lobos (a numeração original vai até o 12, mas a partitura da "Sinfonia nº 5" está perdida).
O problema é que a CPO vem lançando os fonogramas a conta-gotas: a segunda sinfonia só está saindo agora e ainda falta editar o disco com a "Sinfonia nº 10".
Villa-Lobos escreveu de maneira prolífica para grandes formações instrumentais. Contudo, suas obras mais conhecidas para orquestra são os bailados e poemas sinfônicos, além das formas inventadas pelo próprio autor, como os choros e "bachianas brasileiras". Por outro lado, as sinfonias seguem pouco difundidas.
A de nº 2 tem a data de 1917, embora só tenha sido estreada pelo próprio compositor, no Rio de Janeiro, muito mais tarde, em 1944. Como Villa-Lobos tinha o hábito de colocar em suas obras a data em que teve a idéia da composição, e não aquela em que a finalizou, é bem possível que a sinfonia tenha sido terminada bem depois de 1917.
De qualquer forma, a peça parece pertencer ao período inicial da produção do compositor pela utilização que faz, com clara influência francesa, da forma "cíclica" -caracterizada por temas recorrentes que ressurgem ao longo de todos os movimentos da obra, para lhe conferir unidade.
Talvez o caráter ascendente desses temas tenha a ver com o título que o autor deu à peça, "Ascensão". Sem os acentos de intenção nacionalista que marcariam suas criações dos anos 20 e 30, a sinfonia, de 50 minutos de duração, possui linguagem orquestral luxuriante e longas linhas cantáveis, enfatizadas pela regência clarividente de Carl St. Clair.
Ele guia com segurança os excelentes musicistas da Orquestra Sinfônica da Rádio de Stuttgart por entre os distintos planos da orquestração sempre espessa do compositor -e oferece como "brinde" adicional a versão orquestral de "New York Skyline Melody", curta e curiosa descrição musical dos arranha-céus da metrópole norte-americana.