São Paulo, sexta-feira, 04 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mostra viaja pela mente de Darwin

Exposição do Museu de História Natural de Nova York que atraiu 500 mil visitantes ficará até 15 de julho no Masp

Objetos, escritos e idéias permitem entender gênese da teoria da evolução, ainda de pé passados 125 anos da morte do naturalista


MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA

Há duas maneiras de visitar a exposição "Darwin", que será aberta hoje no Masp. Uma, rápida, atentará aos 400 objetos expostos. Outra, paciente, privilegiará idéias -e que idéias.
A mostra do Museu Americano de História Natural de Nova York, com curadoria de Niles Eldredge, dedica-se com zelo de missionário a reconstituir a biografia de Charles Darwin (1809-1882). Do layout "vitoriano" dos painéis à profusão de réplicas de esqueletos e fósseis, tudo conspira para recriar a atmosfera oitocentista em que se incubou a teoria da evolução por seleção natural.
O ponto alto da exposição trazida ao Brasil pelo Instituto Sangari é a remontagem do estúdio na Down House, a 25 km de Londres. Ali, Darwin se refugiou em 1842 para ruminar o livro "Origem das Espécies". Foi sobre uma prancha coberta de tecido vermelho que ele revolucionou o modo de conceber o mundo natural e atraiu a ira de religiosos (além de causar desgosto à mulher, Emma).
Estão presentes todos os elementos lendários de seu percurso: a viagem a bordo do Beagle (1831-1836), a fauna e a flora ligeiramente diferenciadas das ilhas do arquipélago de Galápagos, a carta de Alfred Russel Wallace em 1858 anunciando as mesmas idéias que Darwin não se decidia a publicar.
Difícil, para o visitante mais jovem, será tentar entender a predileção desmedida de Darwin por besouros. Colecionador inveterado, o naturalista acreditava que "a ciência consiste em agrupar fatos a partir dos quais são extraídas leis em geral ou conclusões". Além de destoar do imediatismo contemporâneo, esse endosso de uma noção de conhecimento calcada na indução destoa também da concepção mais atual de que a observação empírica é guiada por noções prévias.
Se não fosse um grande observador, porém, de nada valeria a Darwin ter lido o "Ensaio sobre o Princípio da População", de Thomas Malthus (1766-1834), que lhe inspirou a noção de que nascem mais organismos do que podem sobreviver, base da seleção natural.
É nesse esclarecimento da articulação das idéias que brilha a exposição concebida por Eldredge. A proliferação de objetos, em especial fac-símiles de escritos de Darwin, deixa de ser exibicionismo para se revelar um ponto de atração para os painéis explicativos das oito seções da mostra. Sua leitura pode alongar para mais de duas horas a visita aos cerca de 800 m2.
Eldredge não é ele mesmo um teórico da evolução. Paleontologista, formulou em 1972, com Stephen Jay Gould, a chamada teoria do equilíbrio pontuado (antes, estudou antropologia e a vida de pescadores da Bahia, onde aliás Darwin teve seu primeiro contato com florestas tropicais).
Eldredge costurou com mão firme os retalhos de evidências coletados por Darwin por mais de uma década, até compor e formular sua grandiosa visão da vida. Generosa também é a mostra ao abordar diretamente, sem temer investidas criacionistas, a questão religiosa que tanto atormentou Darwin.
Eldredge descreve a exposição como obra de arte e também obra de ciência. "A história de como Charles Darwin chegou à sua idéia diz respeito a deixar a natureza falar para cada um", diz. "É a essência da criatividade humana."


DARWIN
Onde:
Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/3251-5644)
Quando: abertura hoje; terças e quintas, das 9h às 22h; quartas, sextas, sábados e domingos, das 9h às 19h; excepcionalmente, às segundas, das 14h às 19h; até 15/7
Quanto: R$ 15 (gratuito p/ menores de 10 anos e maiores de 60)


Texto Anterior: Música: Blue Man Group se apresenta no Brasil
Próximo Texto: Novo volume da Coleção Folha destaca obra precursora de Goya
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.