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Mostra viaja pela mente de Darwin
Exposição do Museu de História Natural de Nova York que atraiu 500 mil visitantes ficará até 15 de julho no Masp
Objetos, escritos e idéias permitem entender gênese da teoria da evolução, ainda de pé passados 125 anos
da morte do naturalista
MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA
Há duas maneiras de visitar a
exposição "Darwin", que será
aberta hoje no Masp. Uma, rápida, atentará aos 400 objetos
expostos. Outra, paciente, privilegiará idéias -e que idéias.
A mostra do Museu Americano de História Natural de Nova
York, com curadoria de Niles
Eldredge, dedica-se com zelo
de missionário a reconstituir a
biografia de Charles Darwin
(1809-1882). Do layout "vitoriano" dos painéis à profusão
de réplicas de esqueletos e fósseis, tudo conspira para recriar
a atmosfera oitocentista em
que se incubou a teoria da evolução por seleção natural.
O ponto alto da exposição
trazida ao Brasil pelo Instituto
Sangari é a remontagem do estúdio na Down House, a 25 km
de Londres. Ali, Darwin se refugiou em 1842 para ruminar o livro "Origem das Espécies". Foi
sobre uma prancha coberta de
tecido vermelho que ele revolucionou o modo de conceber o
mundo natural e atraiu a ira de
religiosos (além de causar desgosto à mulher, Emma).
Estão presentes todos os elementos lendários de seu percurso: a viagem a bordo do Beagle (1831-1836), a fauna e a flora
ligeiramente diferenciadas das
ilhas do arquipélago de Galápagos, a carta de Alfred Russel
Wallace em 1858 anunciando
as mesmas idéias que Darwin
não se decidia a publicar.
Difícil, para o visitante mais
jovem, será tentar entender a
predileção desmedida de Darwin por besouros. Colecionador inveterado, o naturalista
acreditava que "a ciência consiste em agrupar fatos a partir
dos quais são extraídas leis em
geral ou conclusões". Além de
destoar do imediatismo contemporâneo, esse endosso de
uma noção de conhecimento
calcada na indução destoa também da concepção mais atual
de que a observação empírica é
guiada por noções prévias.
Se não fosse um grande observador, porém, de nada valeria a Darwin ter lido o "Ensaio
sobre o Princípio da População", de Thomas Malthus
(1766-1834), que lhe inspirou a
noção de que nascem mais organismos do que podem sobreviver, base da seleção natural.
É nesse esclarecimento da
articulação das idéias que brilha a exposição concebida por
Eldredge. A proliferação de objetos, em especial fac-símiles
de escritos de Darwin, deixa de ser exibicionismo para se revelar um ponto
de atração para os painéis explicativos das oito seções da
mostra. Sua leitura pode alongar para mais de duas horas a
visita aos cerca de 800 m2.
Eldredge não é ele mesmo
um teórico da evolução. Paleontologista, formulou em
1972, com Stephen Jay Gould, a
chamada teoria do equilíbrio
pontuado (antes, estudou antropologia e a vida de pescadores da Bahia, onde aliás Darwin
teve seu primeiro contato com
florestas tropicais).
Eldredge costurou com mão
firme os retalhos de evidências
coletados por Darwin por mais
de uma década, até compor e
formular sua grandiosa visão
da vida. Generosa também é a
mostra ao abordar diretamente, sem temer investidas criacionistas, a questão religiosa
que tanto atormentou Darwin.
Eldredge descreve a exposição como obra de arte e também obra de ciência. "A história de como Charles Darwin
chegou à sua idéia diz respeito
a deixar a natureza falar para
cada um", diz. "É a essência da
criatividade humana."
DARWIN
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel.
0/xx/11/3251-5644)
Quando: abertura hoje; terças e quintas, das 9h às 22h; quartas, sextas, sábados e domingos, das 9h às 19h; excepcionalmente, às segundas, das 14h
às 19h; até 15/7
Quanto: R$ 15 (gratuito p/ menores
de 10 anos e maiores de 60)
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