São Paulo, domingo, 04 de maio de 2008

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Tom terá documentário biográfico e outro musical

Folha acompanha o primeiro dia das filmagens dirigidas por Nelson Pereira

"Um Homem Iluminado" e "A Música segundo Tom Jobim" devem ser concluídos neste ano; para diretor, maestro "foi um pensador do Brasil"


Rosana Cacciatore/Folha Imagem
Nelson Pereira dos Santos e Helena Jobim no set de "Um Homem Iluminado"

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

Tom Jobim (1927-94) é uma figura tão grande da cultura brasileira que só um longa-metragem sobre ele seria pouco.
Nelson Pereira dos Santos, 79, resolveu então fazer logo dois documentários, um centrado na biografia de Tom e o outro em sua música. Os dois deverão ficar prontos até o final deste ano, para lançamento nos cinemas em 2009.
O ponto de partida desse grandioso díptico foi dado na semana passada na deserta praia de Moçambique, em Florianópolis, onde o cineasta filmou, com seu co-diretor Marco Altberg, um depoimento da irmã do compositor, a escritora Helena Jobim, 76.
A idéia do filme partiu de Altberg, que em 1985 dirigiu o longa "Fonte da Saudade", baseado no romance "Trilogia do Assombro", de Helena Jobim, com música de Tom.
O livro "Antonio Carlos Jobim - Um Homem Iluminado", publicado por Helena em 1996, deu a Nelson Pereira não apenas a inspiração e o norte para seu documentário biográfico, mas também o título.
Mas por que Florianópolis, se Tom Jobim nunca morou na cidade? "A intenção é evocar a natureza do Rio de 70 anos atrás, onde o Tom passou a infância, nadando na lagoa [Rodrigo de Freitas], brincando na praia, se embrenhando na mata", disse o diretor à Folha, que acompanhou, com exclusividade, o primeiro dia de filmagens.

Nado e palpites
De camisa azul, calça de moletom cinza e um chapéu que evoca imediatamente a imagem do irmão, Helena Jobim repetia com paciência e bom humor suas falas caminhando pela areia fofa da praia, sob um sol forte e o elaborado movimento da câmera sobre a grua.
"Gostei da experiência. Cheguei apavorada, mas depois fiquei ótima. Estou até pensando em seguir carreira de atriz", brincou a escritora ao fim das filmagens da manhã. Segundo Helena, ela e o irmão sempre foram muito próximos, nadando juntos na lagoa durante a infância e, depois, dando palpites um na obra do outro.
"Ele tocava uma nova composição para mim e dizia: "Nena, o que você acha dessa musiquinha?" Temos até uma parceria, a canção "Não Devo Sonhar", letra minha e música dele, gravada pela Angela Maria."
Na metade biográfica do duplo documentário, que ainda será filmada em outros locais de Florianópolis, no Jardim Botânico do Rio e em Petrópolis (RJ), também evocarão a vida de Tom as duas mulheres com quem ele foi casado, Thereza Hermanny e Ana Lontra Jobim.
A trilha sonora será só de músicas do compositor, com arranjo instrumental de seu filho Paulo Jobim. O piano será executado por Daniel Jobim, filho de Paulo e neto de Tom.

Material de arquivo
Já o outro filme, "A Música segundo Tom Jobim", será formado basicamente por material de arquivo: apresentações e entrevistas do próprio Tom e execuções de sua obra por intérpretes do mundo todo, incluindo Frank Sinatra, Miles Davis e Sarah Vaughan.
Essa metade será dividida em três temas: o Rio, a mulher e a natureza. "São esses os três motivos essenciais do Tom", resume Nelson Pereira. De acordo com ele, cada uma dessas partes terá uma introdução escrita e narrada por Chico Buarque.
Encantado com a beleza e a diversidade da natureza na ilha de Santa Catarina, o cineasta, nascido em São Paulo, lembra que, assim como Jobim, viveu sua juventude no paradisíaco Rio dos anos 50.
"Temos outros pontos em comum: ambos casamos cedo, ambos tivemos que trabalhar duro para sobreviver, ele tocando piano em boates, eu fazendo copydesk no "Diário Carioca" e no "Jornal do Brasil"."
Nelson Pereira vê uma continuidade entre o novo filme e seus documentários anteriores "Casa Grande e Senzala" (série para TV sobre Gilberto Freyre) e "Raízes do Brasil" (díptico sobre Sérgio Buarque de Holanda). "Como eles, Tom também foi um pensador do Brasil, não só nas suas frases, mas principalmente na sua música."
Evocando o humor de Jobim, o cineasta diz que o procurou no final dos anos 70 para pedir autorização para um curta sobre ele que faria para a TVE. "Ah, é para a TVE? Então não tem problema. A TVE não é", afirmou o músico, querendo dizer que a emissora dava traço de audiência.


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