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15ª Bienal do Livro
O fotógrafo mostra oresultado de dez anos de
viagens no livro "TerraBrasil", que traz cenas de
36 parques nacionais
Araquém Alcântara registra o inventário do meio ambiente
ANA MARIA GUARIGLIA
free-lance para a Folha
O fotógrafo Araquém Alcântara
está lançando, na 15ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a
obra "Terra Brasil", que pode ser
considerado um dos maiores inventários visuais dos ecossistemas
nacionais.
Alcântara é o único fotógrafo
brasileiro que registrou os 36 parques nacionais. Trabalhou durante dez anos, viajou cerca 150 mil
quilômetros e obteve mais de 100
mil imagens.
Em entrevista à Folha, contou o
que viu em suas andanças e denunciou problemas que podem
acabar com as reservas brasileiras.
Folha - O que significa ser um
dos primeiros fotógrafos brasileiros a registrar os parques nacionais?
Araquém Alcântara - Na verdade, é uma contribuição efetiva para a nossa identidade como povo e
nação e para o conhecimento de
nossas riquezas naturais.
Folha - O que mais o impressionou nessa jornada?
Alcântara - A extrema penúria
em que vivem os brasileiros do
sertão, os índios, os ribeirinhos,
caboclos, sertanejos, enfim, o verdadeiro povo do Brasil. Os índios
makus, em São Gabriel da Cachoeira (AM) bebem álcool puro e
cheiram desodorante. Outros
morrem de fome e de malária.
Folha - Como o sr. vê os problemas das reservas ecológicas?
Alcântara - A situação é estarrecedora. Julgamos que nossos recursos florestais são inesgotáveis,
por causa da Amazônia e da mata
atlântica. Mas elas estão próximas
do fim. A Amazônia está sucumbindo à ganância de grandes empresas agropecuárias, responsáveis pela derrubada de mais de 10
milhões de metros cúbicos de madeira por ano. Na região central do
Brasil, o cerrado -um fantástico
bioma de 207 milhões de hectares- está sendo grosseiramente
apagado do mapa e substituído
por monoculturas de soja, sorgo e
plantações de eucalipto. Nossos
bichos estão desaparecendo. Na
Amazônia, 20 mil onças são mortas anualmente.
Folha - E a situação dos parques
nacionais?
Alcântara - Eles ocupam a mais
alta hierarquia na categoria das
unidades de conservação. As áreas
transformadas em parques são escolhidas pela beleza, importância
ecológica e geográfica e, pelo menos em tese, devem servir como
área para lazer e pesquisa científica. Mas isso não funciona porque
não há investimentos.
Os parques estão abandonados.
E existe a questão das desapropriações. Muitos têm apenas dois
guardas e quase nenhuma infraestrutura para a proteção de áreas
acima de 500 mil hectares.
Os governos se sucedem e os parques continuam funcionando só
no papel, às vezes, contando com a
dedicação de diretores e guardas
do Ibama.
Folha - O sr. acredita que livros
de fotografia podem contribuir para a alteração desse quadro?
Alcântara - Acredito que a verdadeira função do artista é seduzir
as pessoas e provocar a reflexão.
Ao valorizar a beleza das paisagens
e a dignidade dos povos do sertão,
estou convicto de que vou transformar algumas cabeças. Eu me
completo no próprio ato da criação, onde transito entre a dor, o
prazer, a loucura e a profecia.
Livro: Terra Brasil
Lançamento: DBA Melhoramentos (Na
Bienal, estande M111 - pavilhão verde)
Quanto: R$ 70 (272 págs.)
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