São Paulo, segunda, 4 de maio de 1998

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15ª Bienal do Livro
O fotógrafo mostra oresultado de dez anos de viagens no livro "TerraBrasil", que traz cenas de 36 parques nacionais
Araquém Alcântara registra o inventário do meio ambiente

ANA MARIA GUARIGLIA
free-lance para a Folha

O fotógrafo Araquém Alcântara está lançando, na 15ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a obra "Terra Brasil", que pode ser considerado um dos maiores inventários visuais dos ecossistemas nacionais.
Alcântara é o único fotógrafo brasileiro que registrou os 36 parques nacionais. Trabalhou durante dez anos, viajou cerca 150 mil quilômetros e obteve mais de 100 mil imagens.
Em entrevista à Folha, contou o que viu em suas andanças e denunciou problemas que podem acabar com as reservas brasileiras.

Folha - O que significa ser um dos primeiros fotógrafos brasileiros a registrar os parques nacionais?
Araquém Alcântara -
Na verdade, é uma contribuição efetiva para a nossa identidade como povo e nação e para o conhecimento de nossas riquezas naturais.
Folha - O que mais o impressionou nessa jornada?
Alcântara -
A extrema penúria em que vivem os brasileiros do sertão, os índios, os ribeirinhos, caboclos, sertanejos, enfim, o verdadeiro povo do Brasil. Os índios makus, em São Gabriel da Cachoeira (AM) bebem álcool puro e cheiram desodorante. Outros morrem de fome e de malária.
Folha - Como o sr. vê os problemas das reservas ecológicas?
Alcântara -
A situação é estarrecedora. Julgamos que nossos recursos florestais são inesgotáveis, por causa da Amazônia e da mata atlântica. Mas elas estão próximas do fim. A Amazônia está sucumbindo à ganância de grandes empresas agropecuárias, responsáveis pela derrubada de mais de 10 milhões de metros cúbicos de madeira por ano. Na região central do Brasil, o cerrado -um fantástico bioma de 207 milhões de hectares- está sendo grosseiramente apagado do mapa e substituído por monoculturas de soja, sorgo e plantações de eucalipto. Nossos bichos estão desaparecendo. Na Amazônia, 20 mil onças são mortas anualmente.
Folha - E a situação dos parques nacionais?
Alcântara -
Eles ocupam a mais alta hierarquia na categoria das unidades de conservação. As áreas transformadas em parques são escolhidas pela beleza, importância ecológica e geográfica e, pelo menos em tese, devem servir como área para lazer e pesquisa científica. Mas isso não funciona porque não há investimentos.
Os parques estão abandonados. E existe a questão das desapropriações. Muitos têm apenas dois guardas e quase nenhuma infraestrutura para a proteção de áreas acima de 500 mil hectares.
Os governos se sucedem e os parques continuam funcionando só no papel, às vezes, contando com a dedicação de diretores e guardas do Ibama.
Folha - O sr. acredita que livros de fotografia podem contribuir para a alteração desse quadro?
Alcântara -
Acredito que a verdadeira função do artista é seduzir as pessoas e provocar a reflexão. Ao valorizar a beleza das paisagens e a dignidade dos povos do sertão, estou convicto de que vou transformar algumas cabeças. Eu me completo no próprio ato da criação, onde transito entre a dor, o prazer, a loucura e a profecia.


Livro: Terra Brasil Lançamento: DBA Melhoramentos (Na Bienal, estande M111 - pavilhão verde) Quanto: R$ 70 (272 págs.)


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