São Paulo, segunda, 4 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Autor registra melancolia do mundo em extinção

EDER CHIODETTO
editor-adjunto de Fotografia

"Terra Brasil", o livro, deve ser visto como um relato emocionado de longa expedição realizada por um fotógrafo desbravador, que remonta a determinação e a ansiedade dos antigos bandeirantes.
Determinação em conhecer aquilo que se oculta nos tantos recortes da geografia do país. Ansiedade de exibir esse universo para o mundo, não pelo potencial midiático e exótico que dali se pode extrair, mas pela possibilidade de fazer emergir a imensa diversidade cultural e visual que nos margeia, mas sobre a qual nós, urbanos melancólicos, não temos a menor idéia do que seja.
Nesse sentido, "Terra Brasil", sem ser panfletário e sem correr o risco de ser ingênuo, espelha em suas páginas a burrice cultural que distancia o homem urbano daquilo que viceja, daquilo que pulsa forte fora dos grandes centros.
Ao fotografar a natureza brasileira, Araquém, na verdade, coloca em foco, e em xeque, nossa triste condescendência com o pior da cultura pop que invade nossas televisões, nossos rádios, nossas casas. Porque tamanha diversidade cultural, étnica e ambiental não é capaz de fazer desse lugar um bom país é a pergunta que nos fazemos ao folhear "Terra Brasil".
Araquém nos fala de árvores como as Sumaúmas, dos índios Uru-Eu-Wau-Wau, do maracatu, da Floresta Tropical, da serra do Caparaó, dos catadores de caranguejo e de cachoeiras que deslizam por imensos cânions, como o de Malacara no Parque Nacional da Serra Geral.
O olho certeiro de Araquém consegue harmonizar no mesmo fotograma, sempre com uma luz personalizada, a beleza plástica desse universo de formas e cores díspares, com a acuidade de quem está escrevendo um tratado antropológico com integridade e coerência.
São imagens poéticas que guardam em si uma certa melancolia. A melancolia da saudade de um mundo que está se extinguindo na frente dos nossos olhos. Como as imagens esmaecidas daquele velho e esquecido álbum de fotografia. A função de Araquém é devolver a essas fotografias a cor, a luz e a pulsação perdidas.
Em seu próximo projeto, tão ambicioso como esse que acaba de chegar às livrarias, Araquém pretenda fotografar o homem brasileiro. Quem somos e o que seremos após essa ruptura irreconciliável entre o campo e a cidade? Vamos esperar que ele responda. Até o ano 2000.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.