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Autor registra melancolia do mundo em extinção
EDER CHIODETTO
editor-adjunto de Fotografia
"Terra Brasil", o livro, deve ser
visto como um relato emocionado
de longa expedição realizada por
um fotógrafo desbravador, que remonta a determinação e a ansiedade dos antigos bandeirantes.
Determinação em conhecer
aquilo que se oculta nos tantos recortes da geografia do país. Ansiedade de exibir esse universo para o
mundo, não pelo potencial midiático e exótico que dali se pode extrair, mas pela possibilidade de fazer emergir a imensa diversidade
cultural e visual que nos margeia,
mas sobre a qual nós, urbanos melancólicos, não temos a menor
idéia do que seja.
Nesse sentido, "Terra Brasil",
sem ser panfletário e sem correr o
risco de ser ingênuo, espelha em
suas páginas a burrice cultural que
distancia o homem urbano daquilo que viceja, daquilo que pulsa
forte fora dos grandes centros.
Ao fotografar a natureza brasileira, Araquém, na verdade, coloca em foco, e em xeque, nossa triste condescendência com o pior da
cultura pop que invade nossas televisões, nossos rádios, nossas casas. Porque tamanha diversidade
cultural, étnica e ambiental não é
capaz de fazer desse lugar um bom
país é a pergunta que nos fazemos
ao folhear "Terra Brasil".
Araquém nos fala de árvores como as Sumaúmas, dos índios
Uru-Eu-Wau-Wau, do maracatu,
da Floresta Tropical, da serra do
Caparaó, dos catadores de caranguejo e de cachoeiras que deslizam
por imensos cânions, como o de
Malacara no Parque Nacional da
Serra Geral.
O olho certeiro de Araquém
consegue harmonizar no mesmo
fotograma, sempre com uma luz
personalizada, a beleza plástica
desse universo de formas e cores
díspares, com a acuidade de quem
está escrevendo um tratado antropológico com integridade e coerência.
São imagens poéticas que guardam em si uma certa melancolia.
A melancolia da saudade de um
mundo que está se extinguindo na
frente dos nossos olhos. Como as
imagens esmaecidas daquele velho e esquecido álbum de fotografia. A função de Araquém é devolver a essas fotografias a cor, a luz e
a pulsação perdidas.
Em seu próximo projeto, tão
ambicioso como esse que acaba de
chegar às livrarias, Araquém pretenda fotografar o homem brasileiro. Quem somos e o que seremos após essa ruptura irreconciliável entre o campo e a cidade?
Vamos esperar que ele responda.
Até o ano 2000.
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