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CINEMA/ESTRÉIAS
Dirigido por Peter Webber, "Moça com Brinco de Pérola" entra na sofisticação visual das obras do pintor
Adaptação reconstrói a Holanda de Vermeer
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Moça com Brinco de Pérola" é uma das mais famosas pinturas na história. Considerada a "Mona Lisa" holandesa, pouco se sabe sobre sua real
inspiração. Isso porque a vida de
seu criador, o holandês Johannes
(ou Jan) Vermeer, é envolta em
mistério. Sabe-se pouco de sua
história: nasceu em 1632, em
Delft, na Holanda, casou-se aos 20
anos com Catarina, uma jovem rica, e morreu aos 43 anos, em 1675.
Das obras que realizou, 35 são conhecidas e calcula-se que cerca de
20 estejam perdidas.
Essa névoa biográfica foi suficiente para que a escritora Tracy
Chevalier escrevesse o romance
"Moça com Brinco de Pérola"
(Bertrand Brasil, 2002), uma fantasia sobre o que levou Vermeer a
realizar sua obra-prima, que se estima ter sido criada por volta de
1665. Dirigida pelo estreante Peter
Webber, chega hoje ao Brasil a
versão do livro para o cinema.
A produção, uma adaptação fiel
à publicação, apresenta um Vermeer (Colin Firth, de "Shakespeare Apaixonado") angustiado pelas pressões da sogra, a comerciante de suas obras. Naquela
época, pintar era um trabalho artesanal realizado por encomenda.
A libertação de Vermeer ocorre
com o envolvimento com a nova
empregada, Griet, a incrível Scarlett Johansson ("Encontros e Desencontros"), que de fato consegue ter uma grande semelhança
com a modelo original.
Histórias de amor impossível
são mais que clichê na cinematografia mundial, e o filme não foge
a ele: mantêm uma paixão platônica, pois ele é casado, e ela, cortejada pelo filho de um açougueiro.
Entretanto, e esse é o grande
mérito do filme, a reconstrução
da Delft de Vermeer do século 17
faz com que o espectador consiga
entrar na visualidade da obra do
pintor, que retratava, de fato,
mais empregados em ambientes
internos do que seus mecenas.
Uma das maiores discussões sobre a obra de Vermeer é se o pintor utilizava lentes para realizar
seu trabalho. Segundo o artista inglês David Hockney, em seu livro
"O Conhecimento Secreto" (Cosac & Naify, 2001), sim, Vermeer
usava lentes: ele "parece encantado com os efeitos ópticos da lente
e tentou recriá-las na tela". Assim,
nas suas obras, há detalhes desfocados, enquanto outros são maiores do que vistos a olho nu, o que
só poderia ocorrer se o artista
usasse lentes.
O diretor Webber assume como
real tal proposta e mostra Vermeer com a câmara escura (precursora da fotografia), num dos
momentos de sedução com Griet.
No filme, é um pequeno detalhe,
mas ele atesta a sofisticação visual
na obra do holandês, essa sim
perfeitamente transposta para a
tela de cinema.
A obra tem uma estranha relação com o Brasil. "Moça com
Brinco de Pérola" está exposta na
Mauritshuis, em Haia, a antiga residência do conde Maurício de
Nassar, o líder da invasão holandesa em Pernambuco (1636
-1644). Foi justamente nesse período que Albert Eckhout pintava
telas sobre o Brasil, por encomenda de Nassau.
De volta ao filme: "Você olhou
dentro de mim", afirma Griet,
quando vê seu retrato acabado. "É
obsceno", contesta a mulher de
Vermeer. Toda obra de arte pode
gerar opiniões distintas. O filme
"Moça com Brinco de Pérola"
apresenta apenas uma versão. Delirante, mas fiel ao olhar misterioso da modelo.
Moça com Brinco de Pérola
Girl with a Pearl Earring
Direção: Peter Webber
Produção: Inglaterra/Luxemburgo, 2003
Com: Colin Firth, Scarlett Johansson, Tom Wilkinson
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Cineclube DirecTV, Espaço
Unibanco e Lumière
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