São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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ERIKA PALOMINO

LOV.E FAZ 6 ANOS COMO O CLUBE DO CORAÇÃO DE SP

O Lov.e faz seis anos de vida neste mês, oficialmente no Dia dos Namorados, 12 de junho. Não é pouca coisa, já que os lugares em São Paulo costumam durar dois ou três anos. Há ainda aqueles clubes que são legais nos primeiros 12 ou 18 meses e depois agonizam, ainda que permaneçam abertos. É que é uma característica entre todos os tipos de público na cidade eleger um lugar, freqüentá-lo direto até cansar e depois trocá-lo por outro. E mais: ainda ficam reclamando que "no começo é que era bom". Haja. Saudosismo na noite é realmente um saco.
O Lov.e conseguiu evitar todas essas armadilhas, graças a uma programação sensível e atenta, baseada no talento de seus DJs residentes. Afinal, é lá que mantêm suas noites fixas o DJ Marky, Mau Mau, Renato Cohen... Sob a mão firme de Flavia Ceccato, o clube fez a transição de seu público inicial (justamente aquele que abandona o barco em busca de outros ventos) para a nova geração -que é quem efetivamente lota e paga as contas do clube. O povo da "cena" freqüenta as noites específicas, mais conceituais. Mas, no fim, continua indo.

Cultura club
Aberto pelo empresário da noite Angelo Leuzzi (responsável pelos sucessos do Rose Bom Bom, Columbia, Hell's Club), tendo Flavinha como braço-direito, o clube teve como mérito levar a cultura do underground para a Vila Olímpia, tradicionalmente um reduto de playboys. Ainda que muita gente reclame da presença maciça deles no clube hoje, e do êxodo do povo hype, o Lov.e tem muita participação na consolidação do cenário da música eletrônica da cidade, por ter trazido nomes internacionais importantes, como Laurent Garnier, Miss Kittin, Ricardo Villalobos, Kenny Larkin (que derrubou a pista quando tocou "I Feel Love"), Sven Vath, Slam, Kevin Saunderson, Afrika Bambaataa, The Hacker, Bryan Gee, entre tantos outros. Mas, mais do que tudo, por personificar a essência da cultura club: um lugar em que você pode ir até sozinho, já que todos os seus amigos estarão lá.
Vou confessar: sou a carteirinha número 001 de press. Diz que a validade é forever e tem uma fotinho minha tirada naquela sensacional máquina. Quanto tempo ficávamos lá, não? E ainda tenho coladas por aí dezenas de adesivos com amigos, drags, DJs... A gente ficava no palquinho, claro, ao lado do DJ, ou bem ali na frente. Derretíamos na sala VIP, ar limpo, nunca pôde fumar lá dentro, onde todo mundo tirava o sapato para subir nos sofás, ficava abraçado, beijava, falava coisas nonsense e fazia muitas brincadeiras, além de chochar quem chegava -óbvio. Como eu disse, saudosismo clubber é um saco!


Colaborou Camila Yahn, free-lance para a Folha

palomino@uol.com.br

na noite ilustrada...
Quem perdeu a fervida noite de sexta passada pode ir hoje na noite Xui, novo projeto de Vitor Correa e Zeca Gerace (Xingu) que rola com Luca Lauri e Liana Padilha no Espaço Central (r. Guaicurus, 324); o DJ alemão Ali, do projeto Tiefschwarz, faz um mix de house, electro e tecno hoje na noite Freak Chic, no D-Edge; Mau Mau lança o videoclipe de "Space Funk" na Technova, no Lov.e. Sábado tem a divertida festa Max no Executivo (r. 7 de Abril, 425), com Edu Corelli, Xu e o produtor Max Blum; André Barcinski é o convidado de amanhã na noite Sound, no DJ Club; no ampgalaxy tem Daniel Belleza, Bispo, Liberato e Magal. Na segunda inaugura o Exxexx, novo clube de Angelo Leuzzi, no espaço onde funcionava o Jazzy. Tocam Liana Padilha e Zé Gonzales. Nesta segunda, Luana Piovani lança seu site com festa na Disco. Na terça, o Café Concerto Uranus recebe o minifestival de cinema digital QuickFlick, criado por uma rede de videomakers (r. Dr. Carvalho de Mendonça, 40). Prepare-se: dia 14 tem a festa de seis anos do Lov.e no bar Cocktail. Veja a programação em www.erikapalomino.com.br

NOVAS E VELHAS GERAÇÕES DA NOITE
"As pessoas estavam meio perdidas, o Hell's havia fechado, e o Angelo Leuzzi abriu um lugar totalmente diferente, colorido e alegre, que reuniu o povo de novo", relembra o promoter Oscar Bueno, que se lançou lá com o after Paradise, que passou a ocupar corações e mentes nas madrugadas de sábado para domingo. "Lembro como se fosse hoje a inauguração, estava todo mundo lá", conta o empresário Fernando Moreno, da agência de DJs Smartbiz. "Além da música, eram as pessoas que me levavam para lá", diz o antigo freqüentador Marcelo Otaviano. "Fora que na sala VIP sempre aconteciam umas coisas engraçadas." De fato. A sala VIP na verdade é a sala SuperVIP, onde só se entra (até hoje) com um carimbo ou pulseira dados pela hostess na entrada. "Recebo reclamação de gente que se sente injustiçada por não ser VIP no clube. Não é essa a questão, é apenas um espaço onde tento receber meus amigos", diz Flavinha, que já fechou a sala algumas vezes para "turmas importantes" que pedem "um pouco de privacidade".

Núcleo inicial
E quem esquece o famoso Kaká Toy e suas montações absurdas no bar da salinha? Outros nomes oriundos do núcleo inicial do Lov.e são o sensacional iluminador Johnson, que ganhava crédito no convite e tudo, e a top hostess Adriana Recchi, que ficou na casa por dois anos: "Era bem especial quando eu trabalhava lá. A Flavia e o Angelo tinham um cuidado de filho com o clube e com o staff". Vieram de lá ainda Helô Ricci, Ana Gelinskas, a modelo Marininha Franco e Carol Pink. Agora, a próxima aposta de Flavia é Eliana Dias na porta.
"Depois que ficou mainstream, a gente acabava não saindo da sala VIP. Hoje, eventualmente a gente encontra um amigo ou outro, o Lov.e continua um lugar gostoso, mas não dá mais para ir quando tem DJ gringo, fica insuportável", diz o jornalista Marco Antonio Rangel.
"Essa história de nova geração é fantástica, de outro modo o clube não teria sobrevivido. Eles têm um público atual, animado e que gosta de se divertir. Toquei lá recentemente, não tinha muitos conhecidos, mas foi ótimo", conta Oscar Bueno.
"Gosto dos sábados do clube", confirma Taiane Sties, 22, vendedora da Triton, que foi no clube pela primeira vez há quatro anos. Como uma molecada de 18, 19 anos, Vanessa Vieira, 23, freqüenta as terças e o after: "Gosto do Pet Duo, do Mau Mau e dos gringos que a casa traz". "É natural que a geração mude. As mulheres da minha geração são casadas e estão em casa cuidando dos filhos...", avalia Flavinha, 32.


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