São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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RUÍDO

Cantando no chuveiro

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Após reunião de trabalho no Ministério da Ciência e Tecnologia na semana passada e mais duas até o final de julho, ficará definido que tipo de apoio o governo federal dará ao projeto antipirataria inventado por Ralf, da dupla Chrystian & Ralf.
Ele patenteou um modelo de CD com poucas músicas gravadas e ficha técnica impressa no próprio rótulo, que eliminaria a necessidade de o disco ter capa -na prática seria a volta do "single", formato evitado sistematicamente pela indústria fonográfica brasileira.
Custaria R$ 4 ou menos -e, segundo Ralf, seria essa a tecnologia que dizimaria a pirataria. "Um CD nunca estoura inteiro", argumenta. E se refere indiretamente ao aspecto meio pirata de seu modelo: "Se ter capa fosse bom, pirata não vendia xerox".
Ralf festeja a adesão de fábricas e estúdios à sua idéia, mas lamenta a resistência das gravadoras e o desinteresse dos artistas ("Só Paulo Ricardo e Samuel Rosa se interessaram em ver").
A ABPD, que congrega as gravadoras, participa do grupo de trabalho no Ministério da Ciência e Tecnologia, a que Ralf chegou intermediado pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil. Mas seu diretor-geral, Paulo Rosa, se abstém de avaliar a idéia: "Como o assunto ainda está sendo discutido no grupo de trabalho, prefiro não fazer comentários".
Ralf afirma que sua invenção é movida pelo amor à arte: "Sou investidor de Alphaville, não preciso mais cantar, não vivo disso". Mas se dedica a mais invenções: patenteou um modelo de chuveiro em módulos, para que a família toda possa tomar banho junta. "Com esse invento, todo o seu jornal pode virar um grande chuveiro", divulga.

O NÃO-LANÇAMENTO

Antes de mergulhar com ímpeto excessivo no mar de teclados sintetizados que ele mesmo ajudou a inventar, Guilherme Arantes gozou de momentos de glória como cantor, compositor e tecladista, como nesse seu primeiro álbum solo, publicado em 76 pela Som Livre. Quem governava então seu mundo musical era a delicadeza triste e levemente otimista dos temas de novelas globais "Meu Mundo e Nada Mais" e "Cuide-se Bem". A Som Livre já reeditou músicas como essas em coletâneas, mas tem perdido, além de outras obscuridades musicais, a oportunidade de recobrar a linda imagem do piano perdido no meio da rua na capa da estréia de Guilherme.

PLANETA SEDNA 1
Começa a funcionar a partir do Brasil a gravadora virtual Sedna Records (www.sednarecords.com.br), que promete "reverter o quadro de descaso e marginalização do músico brasileiro". Sua lista de artistas já inclui Família Lima, As Meninas e Mário Zan, "o maior sanfoneiro do Brasil", mas por enquanto só há duas músicas disponíveis: "Tudo", do pop-rock Ginger, e "Garota Gasosa", do pagodeiro Motivação. Um dos diretores é Marcelo Zan, neto de Mário e filho de Osmar Zan, diretor artístico da RCA nos anos 70.

PLANETA SEDNA 2
Sair da marginalidade pelo Sedna tem seu preço. A partir de 30 de junho, músicos terão que pagar R$ 160 pelo cadastramento e R$ 37 de manutenção a cada três meses para estar na gravadora. Em troca, terão faixas em MP3 no site, blog ligado à página principal, agenciamento de shows (com 10% do valor do cachê revertidos à gravadora) etc. O consumidor também terá sua conta: o site promete disponibilizar discos inteiros, com capa e ficha técnica, a preços entre R$ 5 e R$ 7.

psanches@folhasp.com.br


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