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FOTOGRAFIA
Centro Cultural Correios abriga sete mostras fotográficas, entre elas, reunião de 150 imagens do ícone francês
Rio expõe o "instante decisivo" de Bresson
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
As célebres fotografias de Henri
Cartier-Bresson (1908-2004), "o
olho do século 20", estão convivendo pacificamente com os
morros cariocas e a periferia de
São Paulo. A mostra "Henri Cartier-Bresson Fotógrafo", que ocupa a sala principal do Centro Cultural dos Correios, no Rio, desde a
última segunda-feira, é vizinha
das exposições "Rio de Olhos
Abertos", que reúne imagens de
vários projetos sociais que ensinam fotografia nas favelas cariocas e "Uma Outra Cidade", uma
incursão pelos arrabaldes paulistanos por Iatã Canabrava.
Ao todo, o Centro Cultural dos
Correios, um belo prédio de estilo
eclético construído em 1922 no
centro da cidade, abriga sete exposições que integram parte da
extensa e diversificada programação do FotoRio 2005, que prossegue até o próximo dia 30. Além
das três exposições citadas, as outras salas do prédio recebem as
mostras "Flávio Damm 60 Anos
de Fotografia", que tem parte de
sua obra inspirada na escola francesa de fotografia, "Mongólia Nômade", da canadense Elaine Ling,
"Diário do Rio", do fotojornalista
carioca Custódio Coimbra e "O
Sertão É Todo Espera", de Walter
Carvalho.
Organizada pela agência Magnum, fundada por Cartier-Bresson em 1947, a mostra do mestre
francês contém 150 das mais representativas e conhecidas imagens do seu vasto acervo. Logo no
início está a fotografia "Atrás da
Estação Saint-Lazare, Paris,
1932", feita um ano após Bresson
começar a fotografar com sua câmera Leica. Essa imagem serviu
de ponto de partida para ele conceituar "o instante decisivo".
"Henri Cartier-Bresson Fotógrafo" também dá conta de mostrar os deslocamentos do artista
pelo mundo e a multiplicidade de
temas que ele fotografou. As impressionantes imagens dos chineses tentando vender ouro nos dias
que precederam a proclamação
da República Popular da China,
em 1949, fazem par com o cortejo
popular que acompanhou o funeral de Gandhi, em 1947.
Mas, se houve um lugar em que
os olhos de Bresson perceberam
que a vida através do visor da câmera era "uma dança", foi nas
ruas de Paris. E a mostra é pródiga
também em flagrantes do cotidiano e da beleza dos pequenos gestos que ele recolheu andando pela
cidade luz. Numa das paredes pode-se ler um trecho escrito por
Bresson, que serve de chave para
entender o trabalho dos adolescentes dos morros cariocas: "No
que me diz respeito, fotografar é
uma maneira de gritar, de se libertar e não de provar ou afirmar sua
originalidade. É uma maneira de
viver".
Na sala ao lado, uma imagem
feita com câmera de lata (pinhole), do menor Felipe Aprígio, tem
o título "Deus Descendo, Desceu
na Maré". A imagem artesanal
mostra uma visão da favela com
manchas no céu originadas por
algum defeito transformado em
efeito. A mancha, para Aprígio, é
a representação de Deus. O instante decisivo para ele parece não
estar no ato fotográfico em si, mas
principalmente na crença do acaso transformador que lhe trouxe a
emanação divina em sua imagem.
É a Maré expandindo os sentidos
da obra de Bresson.
FotoRio 2005 (exposições)
Quando: ter. a dom., das 12h às 19h
Onde: Centro Cultural Correios (r.
Visconde de Itaboraí, 20, Centro, Rio de
Janeiro, tel. 0/xx/21/2253-1580); até
30/6
Quanto: entrada franca
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