São Paulo, sábado, 04 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FOTOGRAFIA

Centro Cultural Correios abriga sete mostras fotográficas, entre elas, reunião de 150 imagens do ícone francês

Rio expõe o "instante decisivo" de Bresson

EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As célebres fotografias de Henri Cartier-Bresson (1908-2004), "o olho do século 20", estão convivendo pacificamente com os morros cariocas e a periferia de São Paulo. A mostra "Henri Cartier-Bresson Fotógrafo", que ocupa a sala principal do Centro Cultural dos Correios, no Rio, desde a última segunda-feira, é vizinha das exposições "Rio de Olhos Abertos", que reúne imagens de vários projetos sociais que ensinam fotografia nas favelas cariocas e "Uma Outra Cidade", uma incursão pelos arrabaldes paulistanos por Iatã Canabrava.
Ao todo, o Centro Cultural dos Correios, um belo prédio de estilo eclético construído em 1922 no centro da cidade, abriga sete exposições que integram parte da extensa e diversificada programação do FotoRio 2005, que prossegue até o próximo dia 30. Além das três exposições citadas, as outras salas do prédio recebem as mostras "Flávio Damm 60 Anos de Fotografia", que tem parte de sua obra inspirada na escola francesa de fotografia, "Mongólia Nômade", da canadense Elaine Ling, "Diário do Rio", do fotojornalista carioca Custódio Coimbra e "O Sertão É Todo Espera", de Walter Carvalho.
Organizada pela agência Magnum, fundada por Cartier-Bresson em 1947, a mostra do mestre francês contém 150 das mais representativas e conhecidas imagens do seu vasto acervo. Logo no início está a fotografia "Atrás da Estação Saint-Lazare, Paris, 1932", feita um ano após Bresson começar a fotografar com sua câmera Leica. Essa imagem serviu de ponto de partida para ele conceituar "o instante decisivo".
"Henri Cartier-Bresson Fotógrafo" também dá conta de mostrar os deslocamentos do artista pelo mundo e a multiplicidade de temas que ele fotografou. As impressionantes imagens dos chineses tentando vender ouro nos dias que precederam a proclamação da República Popular da China, em 1949, fazem par com o cortejo popular que acompanhou o funeral de Gandhi, em 1947.
Mas, se houve um lugar em que os olhos de Bresson perceberam que a vida através do visor da câmera era "uma dança", foi nas ruas de Paris. E a mostra é pródiga também em flagrantes do cotidiano e da beleza dos pequenos gestos que ele recolheu andando pela cidade luz. Numa das paredes pode-se ler um trecho escrito por Bresson, que serve de chave para entender o trabalho dos adolescentes dos morros cariocas: "No que me diz respeito, fotografar é uma maneira de gritar, de se libertar e não de provar ou afirmar sua originalidade. É uma maneira de viver".
Na sala ao lado, uma imagem feita com câmera de lata (pinhole), do menor Felipe Aprígio, tem o título "Deus Descendo, Desceu na Maré". A imagem artesanal mostra uma visão da favela com manchas no céu originadas por algum defeito transformado em efeito. A mancha, para Aprígio, é a representação de Deus. O instante decisivo para ele parece não estar no ato fotográfico em si, mas principalmente na crença do acaso transformador que lhe trouxe a emanação divina em sua imagem. É a Maré expandindo os sentidos da obra de Bresson.


FotoRio 2005 (exposições) Quando: ter. a dom., das 12h às 19h
Onde: Centro Cultural Correios (r. Visconde de Itaboraí, 20, Centro, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/2253-1580); até 30/6
Quanto: entrada franca


Texto Anterior: Acervo de Dmitri Shostakovich corre risco na Estônia
Próximo Texto: Cinema: Caixa relança utopia e estilo de James Dean
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.