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HISTÓRIA
"No Bunker de Hitler", que inspirou o filme "A Queda", é publicado
Joachim Fest tira do bunker as últimas imagens do horror
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
Se Hitler vencesse, Deus seria
derrotado. A célebre frase cabe no livro do alemão Joachim
Fest (1926), que é agora publicado
no Brasil e apresenta com detalhes os últimos dias de barbárie
no bunker do líder nazista quando a Segunda Guerra terminava
na Europa.
"No Bunker de Hitler" é o livro
que inspirou o ótimo filme "A
Queda", de Olivier Hirschbiegel,
em cartaz em São Paulo. O melhor ator de língua alemã da atualidade, o suíço Bruno Ganz, interpreta um Führer apocalíptico e alquebrado que não se conformou
apenas com a derrota do seu regime. Passou a lutar pela destruição
da Alemanha, como Fest procura
demonstrar no livro.
O escritor, que foi por 20 anos
jornalista do conservador
"Frankfurter Allgemeine Zeitung", ficou conhecido com "Hitler", biografia que hoje é considerada referência no assunto e será
relançada no próximo mês, pela
editora Nova Fronteira.
Fest, que também é autor de
uma biografia sobre Albert Speer,
o arquiteto de Hitler, nunca se
deu bem com os historiadores da
academia. Nisso tem muito em
comum com a nova historiografia
britânica, que agitou o mercado
editorial do Reino Unido nos
anos 1990. Um de seus maiores
expoentes, Antony Beevor, que
vendeu milhões de exemplares de
"Berlim 1945 - A Queda" (ed. Record, livro com ótima descrição
do cerco à cidade), atribui o sucesso editorial dos novos historiadores (grupo que inclui ainda
Max Hastings, entre outros) a
uma nova abordagem. Ao invés
de se limitarem aos líderes e aos
movimentos geopolíticos, os escritores usaram técnicas ficcionais e procuraram olhar o que
acontecia "nas ruas". No caso de
Fest, esse debate aconteceu já nos
anos 1980, no "Historikerstreit", a
polêmica que travou com historiadores que o acusavam de "relativizar" o papel dos nazistas. Como ele ouviu de um professor:
"Você escreve os seus best-sellers
e nós fazemos o trabalho sério".
Curiosamente é exatamente essa
a crítica -já superada na Alemanha- que Wim Wenders fez ao
filme "A Queda" ("não assume
posição nem sobre o fascismo,
nem sobre Hitler"), provando
mais uma vez que, como crítico,
Wenders é um ótimo cineasta.
O que separa "No Bunker..."
dos outros livros que se concentraram nos dias finais de Hitler
(como "The Last Days of Hitler",
os últimos dias de hitler, clássico
de 1947 de Hugh Trevor-Roper)
não são apenas 60 anos de história
ou a abertura dos arquivos soviéticos. Importante é a nova rodada
de depoimentos de personagens
que evitavam os holofotes, em especial o da famosa secretária de
Hitler, Traudl Junge. Ela tentou
viver anônima durante décadas e
morreu um dia antes de ser apresentada ao público alemão no
Festival de Berlim de 2002, no documentário "Eu Fui a Secretária
de Hitler". Foi uma figura-chave
para o livro de Fest e para o filme.
Antes de morrer, deu um longo
depoimento sobre a intimidade
do chefe e da sua trupe em seus
momentos finais. Seu olhar ingênuo (o de 1945) contrastava com a
descrição que Fest faz do ditador:
uma mistura de "páthos", arrogância e agressividade. É difícil
com o show de horrores fugir do
comentário recente do escritor
Günter Grass: "Os alemães não se
livram do peso de seu passado."
No Bunker de Hitler - Os Últimos Dias do Terceiro Reich
Autor: Joachim Fest
Tradução: Jens e Patrícia Lehmann
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 27,90 (192 págs.)
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