São Paulo, sábado, 04 de junho de 2005

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HISTÓRIA

"No Bunker de Hitler", que inspirou o filme "A Queda", é publicado

Joachim Fest tira do bunker as últimas imagens do horror

MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

Se Hitler vencesse, Deus seria derrotado. A célebre frase cabe no livro do alemão Joachim Fest (1926), que é agora publicado no Brasil e apresenta com detalhes os últimos dias de barbárie no bunker do líder nazista quando a Segunda Guerra terminava na Europa.
"No Bunker de Hitler" é o livro que inspirou o ótimo filme "A Queda", de Olivier Hirschbiegel, em cartaz em São Paulo. O melhor ator de língua alemã da atualidade, o suíço Bruno Ganz, interpreta um Führer apocalíptico e alquebrado que não se conformou apenas com a derrota do seu regime. Passou a lutar pela destruição da Alemanha, como Fest procura demonstrar no livro.
O escritor, que foi por 20 anos jornalista do conservador "Frankfurter Allgemeine Zeitung", ficou conhecido com "Hitler", biografia que hoje é considerada referência no assunto e será relançada no próximo mês, pela editora Nova Fronteira.
Fest, que também é autor de uma biografia sobre Albert Speer, o arquiteto de Hitler, nunca se deu bem com os historiadores da academia. Nisso tem muito em comum com a nova historiografia britânica, que agitou o mercado editorial do Reino Unido nos anos 1990. Um de seus maiores expoentes, Antony Beevor, que vendeu milhões de exemplares de "Berlim 1945 - A Queda" (ed. Record, livro com ótima descrição do cerco à cidade), atribui o sucesso editorial dos novos historiadores (grupo que inclui ainda Max Hastings, entre outros) a uma nova abordagem. Ao invés de se limitarem aos líderes e aos movimentos geopolíticos, os escritores usaram técnicas ficcionais e procuraram olhar o que acontecia "nas ruas". No caso de Fest, esse debate aconteceu já nos anos 1980, no "Historikerstreit", a polêmica que travou com historiadores que o acusavam de "relativizar" o papel dos nazistas. Como ele ouviu de um professor: "Você escreve os seus best-sellers e nós fazemos o trabalho sério". Curiosamente é exatamente essa a crítica -já superada na Alemanha- que Wim Wenders fez ao filme "A Queda" ("não assume posição nem sobre o fascismo, nem sobre Hitler"), provando mais uma vez que, como crítico, Wenders é um ótimo cineasta.
O que separa "No Bunker..." dos outros livros que se concentraram nos dias finais de Hitler (como "The Last Days of Hitler", os últimos dias de hitler, clássico de 1947 de Hugh Trevor-Roper) não são apenas 60 anos de história ou a abertura dos arquivos soviéticos. Importante é a nova rodada de depoimentos de personagens que evitavam os holofotes, em especial o da famosa secretária de Hitler, Traudl Junge. Ela tentou viver anônima durante décadas e morreu um dia antes de ser apresentada ao público alemão no Festival de Berlim de 2002, no documentário "Eu Fui a Secretária de Hitler". Foi uma figura-chave para o livro de Fest e para o filme. Antes de morrer, deu um longo depoimento sobre a intimidade do chefe e da sua trupe em seus momentos finais. Seu olhar ingênuo (o de 1945) contrastava com a descrição que Fest faz do ditador: uma mistura de "páthos", arrogância e agressividade. É difícil com o show de horrores fugir do comentário recente do escritor Günter Grass: "Os alemães não se livram do peso de seu passado."


No Bunker de Hitler - Os Últimos Dias do Terceiro Reich
   
Autor: Joachim Fest
Tradução: Jens e Patrícia Lehmann
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 27,90 (192 págs.)


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