São Paulo, sábado, 04 de junho de 2005

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ARTES PLÁSTICAS/"ABSTRACIONISMO GEOMÉTRICO E INFORMAL"

Reedição vê caminhos da vanguarda

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

Houve abstração no Brasil? O livro "Abstracionismo Geométrico e Informal - A Vanguarda Brasileira nos Anos Cinqüenta", de Fernando Cocchiarale e Anna Bella Geiger, analisa a implantação, o desenvolvimento e a crise da linha plástica surgida entre nós no início da Guerra Fria. Porém, abstém-se de ponto de vista sintético, coletando vozes divergentes e escritos de época.
A edição original é de 1987, sendo agora reimpressa pela Funarte sem mudança. O livro de Fernando Cocchiarale e Anna Bella Geiger inclui breve e esclarecedora introdução histórica, 15 entrevistas com poetas, críticos e artistas, 14 textos de 1949 a 1969, sendo a maioria da década de 50, e um apêndice biográfico.
O abstracionismo inexiste no Brasil até 1948, embora tivesse aparecido na Europa na década de 1910, dividindo-se entre líricos e concretos, após a exposição francesa "Círculo e Quadrado", ocorrida em 1930. Porém, dez anos depois de aqui surgir, tinha a seu lado a única Bienal da América Latina e a grande mídia do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Repetiu-se a divisão prevalente na Europa Ocidental e nos Estados Unidos entre informais e concretos. Mencionam-se no livro Jackson Pollock (1912-1956), Georges Mathieu (1921), Wolfgang Wols (1913-1951), Max Bill (1908-1994), escola de Nova York, escola de Ulm, tachismo. Contudo a dialética local gerou uma terceira via, o neoconcretismo, do qual veio a nascer a nova objetividade brasileira em 1967.
O leitor encontrará dissonância. Os autores conduzem bem as entrevistas, apesar da irregularidade dos resultados. Não há convergência entre os diversos pontos de vista dos entrevistados, e os artigos reproduzidos são majoritariamente pró-concreto. A história do abstracionismo não se esclarece de forma unívoca.
O peso da crítica de arte na defesa da abstração é muito citado. Mário Barata revela os interesses internacionais envolvidos: "Mais uma vez temos aqui o caso de um impulso vindo do exterior. Depois do Congresso Internacional de Crítica de Arte em 48, no prédio da Unesco em Paris, marcou-se a fundação da Associação Internacional de Críticos de Arte (...). Apelava-se para que se fundasse uma seção nacional em cada país. [Mário] Pedrosa, [Antônio] Bento e eu montamos a seção brasileira (...)".
Ao contrário de hoje, aprendemos que não havia mercado para a jovem vanguarda. Assim, a mídia e a fundação de instituições museológicas, como a Bienal de São Paulo, ajudaram o abstrato a ganhar espaço ao lado do figurativo já estabelecido.
Durante os anos 1950, venceu-se a resistência inicial a obras experimentais, como lembra Abraham Palatnik: "O primeiro trabalho que eu mandei [para a 1ª Bienal, em 1951] era o aparelho cinecromático, e a reação foi terrível. Quando o pessoal viu o aparelho, disse que não podia entrar numa Bienal porque não era pintura, não era desenho, não era gravura e não era escultura".
O peso histórico da escrita sobre o abstracionismo para seu estabelecimento no Brasil torna relevante a compilação de textos sobre o assunto.


Abstracionismo Geométrico e Informal - A Vanguarda Brasileira nos Anos Cinqüenta
   
Autores: Fernando Cocchiarale e Anna Bella Geiger
Editora: Funarte
Quanto: R$ 48 (310 págs.)


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