|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS/"ABSTRACIONISMO GEOMÉTRICO E INFORMAL"
Reedição vê caminhos da vanguarda
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Houve abstração no Brasil?
O livro "Abstracionismo
Geométrico e Informal - A Vanguarda Brasileira nos Anos Cinqüenta", de Fernando Cocchiarale e Anna Bella Geiger, analisa a
implantação, o desenvolvimento
e a crise da linha plástica surgida
entre nós no início da Guerra Fria.
Porém, abstém-se de ponto de
vista sintético, coletando vozes divergentes e escritos de época.
A edição original é de 1987, sendo agora reimpressa pela Funarte
sem mudança. O livro de Fernando Cocchiarale e Anna Bella Geiger inclui breve e esclarecedora
introdução histórica, 15 entrevistas com poetas, críticos e artistas,
14 textos de 1949 a 1969, sendo a
maioria da década de 50, e um
apêndice biográfico.
O abstracionismo inexiste no
Brasil até 1948, embora tivesse
aparecido na Europa na década
de 1910, dividindo-se entre líricos
e concretos, após a exposição
francesa "Círculo e Quadrado",
ocorrida em 1930. Porém, dez
anos depois de aqui surgir, tinha a
seu lado a única Bienal da América Latina e a grande mídia do Rio
de Janeiro e de São Paulo.
Repetiu-se a divisão prevalente
na Europa Ocidental e nos Estados Unidos entre informais e concretos. Mencionam-se no livro
Jackson Pollock (1912-1956),
Georges Mathieu (1921), Wolfgang Wols (1913-1951), Max Bill
(1908-1994), escola de Nova York,
escola de Ulm, tachismo. Contudo a dialética local gerou uma terceira via, o neoconcretismo, do
qual veio a nascer a nova objetividade brasileira em 1967.
O leitor encontrará dissonância.
Os autores conduzem bem as entrevistas, apesar da irregularidade
dos resultados. Não há convergência entre os diversos pontos de
vista dos entrevistados, e os artigos reproduzidos são majoritariamente pró-concreto. A história
do abstracionismo não se esclarece de forma unívoca.
O peso da crítica de arte na defesa da abstração é muito citado.
Mário Barata revela os interesses
internacionais envolvidos: "Mais
uma vez temos aqui o caso de um
impulso vindo do exterior. Depois do Congresso Internacional
de Crítica de Arte em 48, no prédio da Unesco em Paris, marcou-se a fundação da Associação Internacional de Críticos de Arte
(...). Apelava-se para que se fundasse uma seção nacional em cada país. [Mário] Pedrosa, [Antônio] Bento e eu montamos a seção
brasileira (...)".
Ao contrário de hoje, aprendemos que não havia mercado para
a jovem vanguarda. Assim, a mídia e a fundação de instituições
museológicas, como a Bienal de
São Paulo, ajudaram o abstrato a
ganhar espaço ao lado do figurativo já estabelecido.
Durante os anos 1950, venceu-se a resistência inicial a obras experimentais, como lembra Abraham Palatnik: "O primeiro trabalho que eu mandei [para a 1ª Bienal, em 1951] era o aparelho cinecromático, e a reação foi terrível.
Quando o pessoal viu o aparelho,
disse que não podia entrar numa
Bienal porque não era pintura,
não era desenho, não era gravura
e não era escultura".
O peso histórico da escrita sobre
o abstracionismo para seu estabelecimento no Brasil torna relevante a compilação de textos sobre o
assunto.
Abstracionismo Geométrico e Informal - A Vanguarda
Brasileira nos Anos Cinqüenta
Autores: Fernando Cocchiarale e Anna Bella Geiger
Editora: Funarte
Quanto: R$ 48 (310 págs.)
Texto Anterior: História: Joachim Fest tira do bunker as últimas imagens do horror Próximo Texto: Vitrine Brasileira Índice
|