São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2010

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CRÍTICA DRAMA

Peça investe em riqueza cênica para criar viagem pela insônia

CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA

"Cine Belvedere", a mais recente montagem da Cia. Bruta de Arte, debruça-se sobre os distúrbios do sono recorrendo a fontes teóricas como Carl Jung e Gaston Bachelard e ao universo onírico cinematográfico dos diretores David Lynch e Tim Burton como inspiração.
A peça se passa em um casarão na Bela Vista no qual o público é guiado para testemunhar a saga da família Lichtman, cujo pai, cineasta, sofre de uma doença rara que o impossibilita de dormir e, logo, de sonhar.
Enquanto perambula insone pelas noites, os cômodos são o espaço de projeção dos delírios de todos os que ali vivem, incluindo mulher, filhas e empregados.
Na abertura, uma lupa gigante distorce o rosto de um ator ao topo de uma escada, criando uma imagem bizarra que dita o tom original e instigante do espetáculo.
A partir de então, pedaços de histórias do passado misturam realidade e devaneio sem conexão temporal, através de cenas-instalações que lembram obras surrealistas.
Sob a direção cuidadosa de Roberto Áudio, a cenografia de Paulo Vereda é impecável nos detalhes e a iluminação de Guilherme Bonfanti, primorosa na transposição do mundo dos sonhos.
Na travessia pela casa, palcos surgem de forma inusitada, às vezes em nichos espreitados por portas, às vezes em corredores tomados por cenas simultâneas com enquadramentos que remetem a planos de profundidade cinematográfica.
Apesar da riqueza cênica, a dramaturgia parece cambalear ao criar expectativas narrativas que não se cumprem.
Na tentativa de justificar o malabarismo entre tramas, o público é cooptado como "figurante" para um longa-metragem que está sendo feito.
"Cine Belvedere" parece resistir a embarcar no radicalismo da própria viagem onírica, tentando se ancorar em alguma realidade. Sem esse verniz, o percurso seria mais autêntico, assim como as paredes já descascadas do casarão que sensibilizam o nosso olhar durante o espetáculo.


CINE BELVEDERE
QUANDO
sábado, às 21h, e domingo, às 19h; até 27/6
ONDE Casarão do Belvedere (r. Pedroso, 267, Bela Vista, tel. 0/ xx/11/3266-5272)
QUANTO R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom



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