São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2010

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CRÍTICA ERUDITO

Músicos fazem interpretação magistral de barroco italiano

CD duplo registra exemplo de interação camerística com violoncelo raro

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

"Allettamento XII", de Giuseppe Valentini (1680-1740), obra que fecha o primeiro CD do álbum duplo de Dimos Goudaroulis (violoncelo "piccolo") e Nicolau de Figueiredo (cravo), é um exemplo magistral de interação camerística: precisão dos ataques, timbre homogêneo e virtuosísticas finalizações.
Os dois respiram juntos e dialogam em tempo real, adicionando ecos, glosas e afetos ao texto desse desconhecido autor barroco italiano.
Dimos nasceu na Grécia, mas vive no Brasil desde 1996. Não é apenas um instrumentista excepcional, mas músico com a cara do século 21, capaz de tocar com o lendário saxofonista de jazz Lee Konitz e gravar uma elogiada versão das "Suítes" de Bach em violoncelo barroco.

ELO PERDIDO
Aqui, utiliza um instrumento raro, o "tenor perdido" do título do CD: um violoncelo menor, onde a corda mais grave (dó) sai de cena, deixando espaço para uma mais aguda (as soltas passam a ser sol, ré, lá e mi, uma oitava abaixo do violino).
Segundo Dimos, esse instrumento seria o "elo perdido" entre a viola e o violoncelo (se o violino é o "soprano", a viola o "contralto" e o violoncelo tradicional o "barítono", o violoncelo "piccolo" seria o "tenor" da família).
Além de cinco "Allettamenti" (sonatas barrocas em cinco movimentos) de Valentini, o duo interpreta quatro "Sonatas"" de Andrea Caporale (?-1757), principal violoncelista da orquestra de Haendel (1685-1757) na Inglaterra. São obras em três movimentos publicadas em Londres em 1746.
Nicolau brilha ainda mais no segundo CD. Ele foi professor do Conservatório de Paris e tem integrado grupos internacionais especializados em música histórica.
Sua habilidade ao cravo transcende a noção de "acompanhamento", já que realiza a linha de baixo e a harmonia ao mesmo tempo em que improvisa comentários contrapontísticos de grande inventividade.

SOLOS
E os solos (faixas 4-9) estão no nível de suas premiadas versões de Scarlatti e Soler: ele executa transcrições da ópera "Rinaldo", de Haendel, publicadas por William Babell (1690-1723).
Babell não apenas adaptou as partes vocais e orquestrais para teclado, mas inseriu detalhes da execução dos cantores solistas, bem como da maneira como o próprio Haendel improvisava.
Dimos e Nicolau estão na vanguarda da interpretação da música barroca, e a musicalidade do duo não poderia mesmo caber em um só CD.


O TENOR PERDIDO
ARTISTA
Dimos Goudaroulis (violoncelo "piccolo") & Nicolau de Figueiredo (cravo)
LANÇAMENTO selo Sesc
QUANTO R$ 25
AVALIAÇÃO ótimo



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