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CRÍTICA ERUDITO
Músicos fazem interpretação magistral de barroco italiano
CD duplo registra exemplo de interação camerística com violoncelo raro
SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA
"Allettamento XII", de
Giuseppe Valentini (1680-1740), obra que fecha o primeiro CD do álbum duplo de
Dimos Goudaroulis (violoncelo "piccolo") e Nicolau de
Figueiredo (cravo), é um
exemplo magistral de interação camerística: precisão dos
ataques, timbre homogêneo
e virtuosísticas finalizações.
Os dois respiram juntos e
dialogam em tempo real, adicionando ecos, glosas e afetos ao texto desse desconhecido autor barroco italiano.
Dimos nasceu na Grécia,
mas vive no Brasil desde
1996. Não é apenas um instrumentista excepcional,
mas músico com a cara do século 21, capaz de tocar com o
lendário saxofonista de jazz
Lee Konitz e gravar uma elogiada versão das "Suítes" de
Bach em violoncelo barroco.
ELO PERDIDO
Aqui, utiliza um instrumento raro, o "tenor perdido" do título do CD: um violoncelo menor, onde a corda
mais grave (dó) sai de cena,
deixando espaço para uma
mais aguda (as soltas passam a ser sol, ré, lá e mi, uma
oitava abaixo do violino).
Segundo Dimos, esse instrumento seria o "elo perdido" entre a viola e o violoncelo (se o violino é o "soprano",
a viola o "contralto" e o violoncelo tradicional o "barítono", o violoncelo "piccolo"
seria o "tenor" da família).
Além de cinco "Allettamenti" (sonatas barrocas em
cinco movimentos) de Valentini, o duo interpreta quatro
"Sonatas"" de Andrea Caporale (?-1757), principal violoncelista da orquestra de
Haendel (1685-1757) na Inglaterra. São obras em três
movimentos publicadas em
Londres em 1746.
Nicolau brilha ainda mais
no segundo CD. Ele foi professor do Conservatório de
Paris e tem integrado grupos
internacionais especializados em música histórica.
Sua habilidade ao cravo
transcende a noção de
"acompanhamento", já que
realiza a linha de baixo e a
harmonia ao mesmo tempo
em que improvisa comentários contrapontísticos de
grande inventividade.
SOLOS
E os solos (faixas 4-9) estão
no nível de suas premiadas
versões de Scarlatti e Soler:
ele executa transcrições da
ópera "Rinaldo", de Haendel, publicadas por William
Babell (1690-1723).
Babell não apenas adaptou as partes vocais e orquestrais para teclado, mas inseriu detalhes da execução dos
cantores solistas, bem como
da maneira como o próprio
Haendel improvisava.
Dimos e Nicolau estão na
vanguarda da interpretação
da música barroca, e a musicalidade do duo não poderia
mesmo caber em um só CD.
O TENOR PERDIDO
ARTISTA Dimos Goudaroulis
(violoncelo "piccolo") & Nicolau
de Figueiredo (cravo)
LANÇAMENTO selo Sesc
QUANTO R$ 25
AVALIAÇÃO ótimo
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