São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2001

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MÚSICA

Rapper paulistano lança seu primeiro disco solo, "Sujeito Homem", e diz

"Rap não é som de ladrão", diz Rappin" Hood

RODRIGO DIONISIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há 15 anos, quando o hip hop fervia na praça São Bento, em São Paulo, ele estava lá. E apesar de ser da mesma geração de Thaíde e DJ Hum e dos Racionais MC's, só agora o rapper paulistano Antônio Luiz Júnior, ou melhor, Rappin" Hood, chega ao CD de estréia, "Sujeito Homem", que tem pré-lançamento hoje, no Blen Blen.
E o "Robin Hood do rap" (significado do apelido, que ganhou na São Bento) tem como meta destoar da cultura criada ao redor do movimento hip hop.
"Não quero mais ouvir os caras falando que rap é som de ladrão. Rap tem de ser som de músico. Quero escutar as pessoas comentando, perguntando: "Essa música é legal. O que é?". E eu poder responder: "É rap, mano!".", diz.
Trombonista e ex-aluno da Universidade Livre de Música, onde estudou durante um ano e meio, Hood defende um trabalho mais apurado nas composições do rap nacional. Além disso, ele apóia a regionalização das bases utilizadas. "Eu tenho vontade de samplear Tião Carreiro e Pardinho, o tipo de som que meu pai ouvia quando eu era moleque. O rap brasileiro tem de ter uma cara mais brasileira."
Outros rappers, como o também paulistano Xis, que sampleou Originais do Samba em "A Fuga", também têm seguido a linha dessa "cara brasileira". Segundo Hood, "as grandes bandas" já estão percebendo isso, e a tendência é que o som do rap sofra algumas mudanças daqui para frente.
Mas isso não vale para todo mundo. "Os Racionais, por exemplo, não vão samplear samba. Eles podem mudar alguma coisa, mas não tanto. A linha deles é outra, e o público cobra. Seria o mesmo que o Martinho da Vila gravar músicas no estilo do Karametade. Não tem como."
Independentemente do que venha a acontecer com samplers e bases, para Hood o que deve ser realmente preservado no rap é o discurso, a atitude. "Isso é aquilo que a gente vive, é de verdade, não é só da boca para fora."
Atualmente, Hood faz palestras para crianças em liberdade assistida e comanda o programa "Rap du Bom" (na 105 FM, de São Paulo), um prolongamento do "A Voz do Rap", que apresentava diariamente na rádio Heliópolis, favela vizinha ao bairro do rapper, vila Arapuá, periferia sul da cidade de São Paulo.

Anos de espera
A explicação para a demora da chegada de Rappin" Hood ao CD está no próprio sistema criado pelo rap nacional, e combatido pelo músico: "Em 1992, enquanto eu fazia um som jazz, mais rápido, o que estava pegando era "Raio-X Brasil" [dos Racionais], pesado, agressivo", afirma Hood.
E com o sucesso que o quarteto comandado por Mano Brown atingiu a partir daí, ficou difícil conseguir destaque longe do "esquemão", segundo o próprio rapper. "Nada contra os Racionais, eles são o grupo de ponta no Brasil. O problema é que de cada dez bandas novas que surgem, oito são cópias deles", diz.
Sempre na contramão, Hood fundou o Possemente Zulu (em 1992), mas quando tudo estava certo para o lançamento do primeiro CD do grupo, algo "estranho" aconteceu. "A fita gravada, com o disco pronto, simplesmente sumiu. Durante a Copa da França [1998", a gente soube que a Virgin francesa lançou uma coletânea, "Hip Hop du Brasil", com duas músicas nossas".
O que havia sobrado das gravações virou um single, "Revolução Parte Um", que vendeu 18 mil cópias, segundo o rapper. "Fora os piratinhas, que eu cansei de autografar", diverte-se Hood.
A sorte só começou a virar no final de 1999, quando a canção "É Tudo no meu Nome", do Possemente Zulu, com Hood no vocal, foi gravada para a coletânea "Hip Hop Cultura de Rua 2", organizada pelo grupo Sampa Crew.
João Marcello Bôscoli, presidente da gravadora Trama, ouviu a música e ofereceu um contrato a Hood. "Ele fez a proposta de eu fazer um [CD] solo, mas não dava para largar o Possemente na mão. Daí, ele acertou a gravação dos trabalhos solos de cada um dos três integrantes do grupo e de outro do Possemente".

RAPPIN" HOOD - pré-lançamento do CD "Sujeito Homem". Quando: hoje, às 23h. Onde: Blen Blen Brasil (r. Inácio Pereira da Rocha, 520, tel. 0/xx/11/3815-4999). Quanto: R$ 15



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