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MÚSICA
Rapper paulistano lança seu primeiro disco solo, "Sujeito Homem", e diz
"Rap não é som de ladrão", diz Rappin" Hood
RODRIGO DIONISIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 15 anos, quando o hip hop
fervia na praça São Bento, em São
Paulo, ele estava lá. E apesar de ser
da mesma geração de Thaíde e DJ
Hum e dos Racionais MC's, só
agora o rapper paulistano Antônio Luiz Júnior, ou melhor, Rappin" Hood, chega ao CD de estréia,
"Sujeito Homem", que tem pré-lançamento hoje, no Blen Blen.
E o "Robin Hood do rap" (significado do apelido, que ganhou na
São Bento) tem como meta destoar da cultura criada ao redor do
movimento hip hop.
"Não quero mais ouvir os caras
falando que rap é som de ladrão.
Rap tem de ser som de músico.
Quero escutar as pessoas comentando, perguntando: "Essa música
é legal. O que é?". E eu poder responder: "É rap, mano!".", diz.
Trombonista e ex-aluno da Universidade Livre de Música, onde
estudou durante um ano e meio,
Hood defende um trabalho mais
apurado nas composições do rap
nacional. Além disso, ele apóia a
regionalização das bases utilizadas. "Eu tenho vontade de samplear Tião Carreiro e Pardinho, o
tipo de som que meu pai ouvia
quando eu era moleque. O rap
brasileiro tem de ter uma cara
mais brasileira."
Outros rappers, como o também paulistano Xis, que sampleou Originais do Samba em "A
Fuga", também têm seguido a linha dessa "cara brasileira". Segundo Hood, "as grandes bandas" já estão percebendo isso, e a
tendência é que o som do rap sofra algumas mudanças daqui para
frente.
Mas isso não vale para todo
mundo. "Os Racionais, por exemplo, não vão samplear samba. Eles
podem mudar alguma coisa, mas
não tanto. A linha deles é outra, e
o público cobra. Seria o mesmo
que o Martinho da Vila gravar
músicas no estilo do Karametade.
Não tem como."
Independentemente do que venha a acontecer com samplers e
bases, para Hood o que deve ser
realmente preservado no rap é o
discurso, a atitude. "Isso é aquilo
que a gente vive, é de verdade, não
é só da boca para fora."
Atualmente, Hood faz palestras
para crianças em liberdade assistida e comanda o programa "Rap
du Bom" (na 105 FM, de São Paulo), um prolongamento do "A
Voz do Rap", que apresentava
diariamente na rádio Heliópolis,
favela vizinha ao bairro do rapper,
vila Arapuá, periferia sul da cidade de São Paulo.
Anos de espera
A explicação para a demora da
chegada de Rappin" Hood ao CD
está no próprio sistema criado pelo rap nacional, e combatido pelo
músico: "Em 1992, enquanto eu
fazia um som jazz, mais rápido, o
que estava pegando era "Raio-X
Brasil" [dos Racionais], pesado,
agressivo", afirma Hood.
E com o sucesso que o quarteto
comandado por Mano Brown
atingiu a partir daí, ficou difícil
conseguir destaque longe do "esquemão", segundo o próprio rapper. "Nada contra os Racionais,
eles são o grupo de ponta no Brasil. O problema é que de cada dez
bandas novas que surgem, oito
são cópias deles", diz.
Sempre na contramão, Hood
fundou o Possemente Zulu (em
1992), mas quando tudo estava
certo para o lançamento do primeiro CD do grupo, algo "estranho" aconteceu. "A fita gravada,
com o disco pronto, simplesmente sumiu. Durante a Copa da
França [1998", a gente soube que a
Virgin francesa lançou uma coletânea, "Hip Hop du Brasil", com
duas músicas nossas".
O que havia sobrado das gravações virou um single, "Revolução
Parte Um", que vendeu 18 mil cópias, segundo o rapper. "Fora os
piratinhas, que eu cansei de autografar", diverte-se Hood.
A sorte só começou a virar no final de 1999, quando a canção "É
Tudo no meu Nome", do Possemente Zulu, com Hood no vocal,
foi gravada para a coletânea "Hip
Hop Cultura de Rua 2", organizada pelo grupo Sampa Crew.
João Marcello Bôscoli, presidente da gravadora Trama, ouviu
a música e ofereceu um contrato a
Hood. "Ele fez a proposta de eu
fazer um [CD] solo, mas não dava
para largar o Possemente na mão.
Daí, ele acertou a gravação dos
trabalhos solos de cada um dos
três integrantes do grupo e de outro do Possemente".
RAPPIN" HOOD - pré-lançamento do CD
"Sujeito Homem". Quando: hoje, às 23h.
Onde: Blen Blen Brasil (r. Inácio Pereira
da Rocha, 520, tel. 0/xx/11/3815-4999).
Quanto: R$ 15
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